quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Mensagem de Natal

Por Klauber Cristofen Pires

Em nossa família, sempre temos cultivado a figura do bom velhinho, que, segundo dizem, teria realmente existido, como um caridoso bispo alemão. Em todos os Natais, temos contratado um Papai Noel, para trazer os brinquedos das crianças. Creio que a fantasia da brincadeira acabe por enternecer mais os adultos do que propriamente as crianças, quando constatam nelas os olhinhos brilhando, a ansiedade por abraçá-lo e a atenção que lhe prestam quando faz a elas as suas recomendações e as exorta a rezarem para “Papai do céu”.

Minha filha tem hoje 6 aninhos, a idade, em média, com que os pequeninos começam a questionar a figura do Papai Noel. Lembro-me que, no Natal de 2004, o nosso Papai Noel era um amigo do prédio bem jovem e moreno, o que chegou a despertar nela alguma desconfiança, a qual veio a me revelar depois, em privado: “- papai, posso te contar um segredo?” “-Sim, filha, pode falar...”. Então, em tom bem reservado, ela me contou: “- eu acho que aquele não era o Papai Noel de verdade, mas um homem que veio vestido como ele...” Tentando segurar o riso, afaguei-a e, sem confirmar a sua desconfiança, e tampouco sem negá-la, sugeri a ela que talvez o Papai Noel se utilizasse de ajudantes, já que tem o mundo todo para distribuir seus presentes...”. Naquele dia, “colou”.

Entretanto, o amadurecimento vem chegando, e temo que neste ano talvez não consigamos mais, vamos dizer assim, “enganá-la”. Suas amiguinhas mais velhas já andam “estragando a festa”, e ela nos vem, a mim e à minha mulher, com questionamentos lógicos, sobre os quais não podemos refutar, sob pena de confundi-la, o que não seria bom. A pena é que faltam apenas alguns poucos dias...Sendo ela a criança mais jovem da família, a chegada do Papai Noel passará a ser um evento sem o brilho natural que encobria os Natais anteriores.

Pensar nesta tradição familiar faz-me também recordar, por contraste, de um colega e amigo que tive. Embora pessoalmente um bom sujeito, ele é comunista até o último fio de cabelo. Em sua casa, não havia Natal. Não havia enfeites, presépios, árvores, papai Noel, nem nada. O Natal, segundo ele mesmo, que, aliás e coerentemente, também era ateu, não passava de uma festa burguesa. Papai Noel, então, era a própria encarnação da diferença entre classes, pois trazia presentes só para as crianças ricas (muito embora ele sempre tivesse tido dinheiro suficiente para comprar para o seu filho um bom presente.).

Que pena, que dó! Refiro-me ao seu filhinho, naquele tempo também com a idade de quatro aninhos, a olhar todas as casas ao redor com as famílias reunidas, as comidas, com as roupas novas, as correrias das crianças, e com papai Noel. Enquanto nos outros lares cantam-se glórias a Jesus, na sua casa tinha de agüentar, em volume bem alto, para abafar o Natal (ou a própria consciência) aquelas músicas pra lá de “deprê” do Chico Buarque! Para este colega de trabalho, papai Noel é apenas uma fantasia, e isto não prestava para seu filho, que tinha logo de conhecer a “realidade”.

Como vêem, para os comunistas é assim: a fantasia não deve pertencer às crianças, mas aos adultos! Enquanto as crianças dos petralhas, bolivarianos e quetais são jogadas desde os tenros aninhos na “real”, muitas vezes servindo até como escudos humanos em invasões de terras, os adultos, mesmos os velhos, num exemplo clássico de síndrome de Peter Pan, refugiam-se como podem, covardemente, nos sonhos de suas utopias malévolas, negando toda a realidade que se lhes impõe às suas vistas cotidianamente.

O Natal não é a apoteose da divisão das classes sociais. Pelo contrário, é justamente o momento do congraçamento. Basta vermos quantas pessoas se dedicam, nesta época, a coletar alimentos, brinquedos, roupas, remédios; basta vermos quantas pessoas visitam as cadeias e os hospitais. O Natal é uma época que convida a todos a darem um tempo na correria diária pela sobrevivência.
Pratos requintados e brinquedos caros não fazem a essência do Natal. Nos lares mais humildes, um delicioso arroz de galinha cai tão bem quanto o bacalhau que será servido nos lares mais abastados. Para uma criança doce de coração, um caminhãozinho ou uma boneca de plástico, desses que qualquer pai que receba salário mínimo pode comprar, torna-a mais alegre e cheia de gratidão do que os brinquedos mais requintados para as respectivas crianças mais abonadas.

Esta luta cotidiana, esta que os comunistas dizem ser a realidade e que, por covardes que são, dela se escondem, enquanto a empurram goela abaixo de seus próprios filhos, é apenas uma realidade-meio, uma realidade instrumental, necessária para manter os nossos corpos em relativo conforto. Não somos gado, somos seres humanos! O trabalho não é um fim em si. Trabalhamos, na verdade, para termos comemorações tais como o Natal, a Páscoa, o Corpus Christi, ou mesmo o singelo domingo que toda semana está lá, para nos possibilitar abraçar nossos queridos, conversarmos em família, e refletirmos sobre as coisas mais altas de nossas vidas.
Feliz Natal a todos!