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sexta-feira, 27 de julho de 2012

VIDA E DIGNIDADE HUMANA - PARTE I



Entrevista com Dr. Ivanaldo Santos, filósofo, pesquisador e professor universitário

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, quinta-feira, 26 de julho de 2012 (ZENIT.org) – O atual debate sobre a Reforma do código penal brasileiro, com a proposta de descriminalização do aborto, etc, está mostrando que estamos vendo chegar ao Brasil propostas de leis contrárias à vida, à moral cristã, e, filosoficamente contrárias ao próprio desenvolvimento e progresso da nação.
Para ajudar nesse debate ZENIT entrevistou o Dr. Ivanaldo Santos, doutor em filosofia e autor de inúmeros artigos em revistas especializadas de todo o mundo, perguntando-lhe o significado da vida, visto desde a filosofia.
O Dr. Ivanaldo Santos é filósofo, pesquisador e professor universitário. Publicou mais de 70 artigos em revistas científicas nacionais e internacionais e tem 8 livros publicados.
Publicamos hoje a primeira parte da entrevista. A segunda parte será publicada amanhã, dia 27 de Julho.


ZENIT: O que é a vida, filosoficamente falando?
DR. IVANALDO: Do ponto de vista estritamente da filosofia não é possível se construir um conceito fechado de vida. Vale lembrar que as tentativas de conceitos fechados de vida conduziram a experiências trágicas, como é o caso dos campos de concentração no regime nazista. Na verdade vida, podemos assim falar, é a grande manifestação do logos, que engloba, entre outras coisas, a dimensão biológica, cultural, familiar, psicológica, social e religiosa. Vida é o mais amplo e complexo movimento que o ser humano tem acesso.

ZENIT: A vida é propriedade do homem?
DR. IVANALDO: Nos últimos séculos, devido, em grande medida, as experiências oriundas do capitalismo e do estatismo socialista, tem se discutido muito a noção de propriedade. Fala-se, por exemplo, em propriedade privada, em propriedade intelectual e em propriedade do Estado. Nos últimos anos essa discussão chegou até mesmo a vida humana. Com isso, passou-se a discutir sobre a propriedade de medicamentos, tratamentos de doenças e até mesmo do genoma humano. Além disso, é preciso esclarecer que contemporaneamente o mundo vive um retrocesso nas relações trabalhistas e nos direitos humanos. Por exemplo, temos o retorno da escravidão, a exploração de mulheres para fins sexuais, são as chamadas escravas do sexo, o tráfico de sangue e órgãos humanos, uma política agressiva de legalização do aborto e do infanticídio. Dentro do mercado de trabalho está sendo aceito largamente o trabalho precarizado e semi-escravizado, como o que acontece em muitas fábricas na China e em outros países que, são apresentados, como modelos de desenvolvimento econômico. Dentro desse triste quadro passa a haver uma visão reducionista que a vida é um simples objeto comercial, uma propriedade, que, como toda propriedade, é possível se vender e comprar. No entanto, a realidade ontoética do ser humano é bem diferente. O ser humano é a única espécie capaz de refletir filosoficamente sobre si mesma e sobre, a sociedade e o cosmo. Ele é capaz de construir a arte, a poesia e tudo mais que existe de belo e sublime na sociedade. Trata-se, por conseguinte, de uma grande responsabilidade. A vida humana é um patrimônio de Deus e de toda a sociedade. Por isso é preciso valorizar todas as formas e manifestações da vida humana, como, por exemplo, a vida das populações pobres, de regiões isoladas, de mulheres em risco de prostituição, dos deficientes físicos, e do feto, o bebê ainda no ventre da mãe. É por esse motivo que não se pode aceitar e incentivar a cultura da morte, uma cultura que tem como “comércio” a venda da morte para os seres humanos. Essa cultura, ou melhor uma anti-cultura, se manifesta, por exemplo, no retorno da escravidão, na exploração de mulheres para fins sexuais, na tentativa de legalização do aborto, da eutanásia, do infanticídio e de outras barbaridades.

ZENIT: Em ordem de importância, qual vida é mais importante: a vida humana ou a vida animal?
DR. IVANALDO: Inicialmente é preciso esclarecer que todas às formas de vida devem ser valorizadas, preservadas e respeitadas. Sem dúvida que os maus tratos a animais selvagens e domésticos não devem ser aceitos. Nesse sentido tem havido no mundo, inclusive no Brasil, um avanço na legislação de proteção aos animais. Entretanto, é preciso esclarecer que a proteção aos animais passa pela proteção e valorização da vida humana. Em muitas ocasiões, o ser humano é o destruidor da natureza e da vida selvagem, mas também é o promotor da cultura, da arte e da própria preservação da vida animal. Do ponto de vista ontoético, a vida humana é mais sublime e mais especial do que a vida animal. É claro que devemos promover a defesa da vida animal, mas, por compromisso ético, temos que respeitar, promover e garantir as condições socioculturais de desenvolvimento da vida humana. Neste sentido a vida humana tem prioridade sobre a via animal. Isso não significa que vamos sair por aí matando animais, mas, pelo contrário, temos que garantir, num primeiro plano, a dignidade da vida humana e, num segundo plano, a vida animal. Levando em conta o desenvolvimento econômico e científico do mundo, afirma-se que há condições técnico-científicas suficientes para a realização dessa tarefa.

PARTE II
Fonte: http://www.zenit.org/article-30919?l=portuguese

ZENIT: Um embrião humano é pessoa humana?
DR. IVANALDO: Graças ao projeto genoma e a decifração do DNA humano é possível afirmar que, a partir da primeira célula do novo ser, ou seja, do embrião, formado no ventre da mãe, temos um ser humano completo. O motivo disso é que durante os 9 meses de gestação e mais durante toda a vida pós-nascimento até a morte, nenhum material genético é acrescentado ao indivíduo. Além disso, um feto contém todas as características humanas (respira, sente dor, tem braços, pernas e outras). Vale lembrar que existem espécies na natureza que durante o período de gestação tem um formato e depois do nascimento desenvolvem outra forma. No entanto, não vemos na atual sociedade campanhas para exterminar, por meio do aborto, essas espécies. Em sua maioria são espécies protegidas por lei. Não há, até o presente momento, uma explicação filosófica aceitável para dizer que o embrião humano não é pessoa humana. Geralmente quem defende essa tese são grupos e lobbys pró-aborto e pró-cultura da morte. No entanto, é um argumento que não encontra fundamento nem na filosofia e nem na moderna biologia genética. Se realmente é ético e politicamente correto defender as espécies da natureza, também é ético e moralmente correto proteger o embrião humano.

ZENIT: Racionalmente falando, como provamos que um ser humano é espiritual e tem uma alma imortal?
DR. IVANALDO: Esse é um tema especifico da teologia, da mística e das religiões. A filosofia pode discutir sobre a alma e outras questões metafísica, mas não tem condições de efetivamente provar sua existência. É preciso esclarecer que nem tudo na vida pode e deve ser provado. A vida é a vida. É preciso aceitar que a vida humana, o grande logos, é cheia de mistérios que nem a filosofia e nem qualquer outro ramo das ciências humanas jamais poderão provar totalmente. No entanto, é preciso ter consciência que quando se trata de temas éticos, como, por exemplo, a vida embrionária, a maternidade e a proteção dos mais frágeis e inocentes, as religiões tem todo o direito de orientar seus fiéis e a sociedade. Vivemos oficialmente em uma sociedade democrática. E por isso não se pode negar o direito que as religiões possuem de cobrarem das autoridades e do Estado uma política e uma legislação que defenda a dignidade da vida humana. Não podemos voltar aos tempos antigos, da barbárie, onde a vida humana não tinha valor. Onde qualquer imperador ou funcionário público poderia condenar a morte qualquer indivíduo. O Ocidente evoluiu muito no campo técnico-científico. Agora precisamos evoluir no campo da ética e da proteção da dignidade da pessoa humana. Nesse processo as religiões e especialmente o Cristianismo tem um papel central, pois podem e devem conduzir um debate e ações com vistas à reforma do Estado e das estruturas de morte da sociedade, como, por exemplo, o aborto, o infanticídio e a escravidão. E a partir dessa reforma garantir que todas as formas de manifestação da vida humana sejam protegidas. Se isso acontecer finalmente a dignidade da pessoa humana estará assegurada e resguardada.

Para mais informações: Ivanaldo Santos, doutor em filosofia.
E-mail: ivanaldosantos@yahoo.com.br.

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