quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Divagações do “dotôr Sacamoto”


É triste perceber que Lima Barreto fora profético. Em sua época, os “dotores” da vida já causavam um estrago profundo no cotidiano dos brasileiros. Atualmente a coisa se degenerou. Hoje temos charlatães e embusteiros professorais. O “dotôr Sacamato” deveria ser preso por estelionato intelectual. Ou, no máximo, mandado para um hospício ou circo de horrores.


Por Leonardo Bruno Fonseca de Oliveira


Neste pais, também chamado de “Os Bruzundangas”, título da sátira escrita por Lima Barreto, os homenzinhos ruins da terra são deslumbrados com títulos chochos e insípidos de puro bacharelismo vazio, isto, quando não há uma sinecura pública por detrás das parvoíces. De fato, quase cem anos depois da morte do ilustre escritor, os antigos Estados Unidos de Bruzundangas, atual República Federativa do Brasil, produzem esses sujeitinhos pernósticos a granel, formados pela indústria de papel timbrado que é a atual universidade brasileira. O Brasil, por assim dizer, democratiza a cultura e a educação espalhando graduações, mestrados e doutorados para imbecis. Claro, porque deve ser trabalhoso demais formar pessoas inteligentes. Isso gera um custo desnecessário. Melhor mesmo é espalhar os “dotôrzinhos” para inflar as estatísticas. O ex-presidente Lula não se orgulhava de ter um português sofrível? Inspirado em tal proeza, o Ministério da Educação criou uma gramática que ensina errado a nossa língua, “ultima flor de Lácio, inculta e bela”, para torná-la tão somente mais inculta e feia. Nos diletos padrões da gramática politicamente correta, fielmente contrária aos males do preconceito linguístico, lembremos.


            Eis que me deparo um bacharelzinho da terra dos Bruzundangas, o “dotôr Sacamoto”. Ele se identifica como doutor em Ciência Política pela USP e escreve um blog cheio de chavões esquerdistas. Em épocas de antanho, pelo sobrenome, seria o homem que falava javanês ou um nome de tempero japonês pra comidas. Ou, quem sabe, uma espécie esquisita e moderninha de Conselheiro Acácio, personagem ilustre e inesquecível de Eça de Queiróz. Não chega a tanto. Não seria um embusteiro tão sofisticado como o conselheiro e, tampouco, saberia falar javanês. No máximo, seria um acaciano moderno de besteiras e falas uspianas, ou melhor dizendo, de “uspianês”, um dialeto, que de tão confuso e incompreensível, acaba soando até como estranha e bizarra forma de inteligência para os homens tolos.  Tudo sem tempero e sem sal.


Apesar de não ser o conselheiro Acácio, “Dotôr Sacamoto” tem inúmeras pérolas acacianas: “O trabalho pode fazer parte da formação pessoal, desde que não afete o crescimento do indivíduo, respeitando a idade legal”. O discursinho insosso lembra o daqueles bons moços da casa, protocolares, ditando lugares-comuns para mocinhas preparadas para se casar, lá na época de nossos avós. Não passa pela cabecinha do professoral militante que as crianças dos grotões do nosso país trabalham, justamente porque precisam sustentar a família. Aliás, sempre foi assim. É uma questão de necessidade, que extrapola a própria lei. O Brasil rural certamente não vive a realidade da maior cidade da América do Sul. Talvez nem a vida de São Paulo, idealizada por um beautiful people como o “dotor Sacamoto” seja a realidade crua de São Paulo. Meu avô começou a trabalhar com nove anos de idade. Não morreu por isso. Pelo contrário, morreu confortavelmente bem e deixou bens para esposa e família. Aliás, o maior empresário do Brasil, o Visconde de Mauá, começou a labutar nesta idade. E se tornou o homem mais rico do império. Se os xiitas fiscais do trabalho, junto com os “Sacamotos” da vida, existissem em priscas eras, os nossos ancestrais morreriam de fome. Bons tempos em que não existiam os uspianos da vida querendo se meter na vida dos outros onde não são chamados. Ao menos, os menores pobres do passado poderiam trabalhar sem restrições, criando condições de independência e formando suas famílias desde cedo.


Mas o nosso acaciano moderno, o nosso homenzinho que sabia falar uspianês, diz defender os menores da “exploração do trabalho”, mas quer eliminá-los no início, (em nome dos tais “direitos da mulher” ou da “saúde pública”) com a cantilena pró-aborto. Ele diz: “Hoje, o “direito” ao aborto depende de quanto você tem na conta bancária. Afinal de contas, mulher rica vai à clínica, paga R$ 4 mil e pronto”. Matar alguém no Brasil também depende de uma boa conta bancária. Um fazendeiro rico dos grotões nordestinos pode contratar uns pistoleiros para matar um desafeto, pagar bons advogados, subornar juízes e conseguir a absolvição. Um empresário rico pode matar a mulher, pagar bons advogados, enrolar a justiça, aproveitar-se dos problemas da burocratização dos processos e ficar solto ad infinito. Pronto! Cerca de 50 mil pessoas morrem por ano, em homicídios, por todo o Brasil e o número de casos criminais chega a níveis absurdos de impunidade. Que tal legalizarmos os homicídios? Pela descriminação dos homicídios já!


O homem que sabia falar uspianês abusa da incoerência lógica: “Mulher pobre se vale de objetos pontiagudos ou remedinhos vendidos a torto e direito sem controle e que podem levar a danos permanentes. A discussão não é quando começa a vida, sobre isso dificilmente chegaremos ao um consenso, mas as mulheres que estão morrendo nesse processo”.


Ou seja, não importa se as mulheres, ao praticarem o aborto, estejam matando seus filhos. Importa sim isentá-las das responsabilidades pelos atos que praticam. O benefício da dúvida não se aplica aos nascituros. Curiosa argumentação: em nome da dúvida, mata-se. Che Guevara afirmava a mesma coisa, em sua justificativa de fuzilamentos sumários em Cuba. Não é diferente do nosso acaciano de esquerda. E por quê? Em nome de um direito, em abstrato, de propriedade da mulher sobre o corpo, destrói-se algo real, que é a vida de alguém.

O professoral de discursinho de DCE acadêmico revela tal pensamento, ao satirizar as declarações do bispo de Assis, que fez pesadas críticas à nova ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, que é pró-aborto: “Para cicatrizar uma ferida, primeira é preciso abri-la, retirar toda a sujeira que se acumulou ao longo do tempo e lavá-la bem. Daí usar os medicamentos apropriados para que não ocorra nenhuma infecção, ou seja, que o problema se espalhe. Aí sim, é hora de fechá-la. O que o bispo pede é diferente. Ele quer que ninguém mexa na ferida, que há séculos produz um pus fétido na sociedade, que é a forma como tratamos as mulheres e o direito ao seu próprio corpo. E como o Estado se omite em debater temas importantes, deixando para outras instituições essa responsabilidade”.


Aqui, o “dotôr Sakamoto” apela a uma desonestidade argumentativa chamada “non sequitur”. O que tem a ver o tratamento dado às mulheres com a legalização do aborto, que é o direito de matar nascituros, impedindo-as de nascer? O que isso fundamentalmente muda no quesito do “direito” das mulheres? Coloco entre aspas, porque não é dado a ninguém o direito de matar outro indivíduo. E neste argumento, há outra falácia lógica: o bispo, como a Igreja Católica, não está discutindo o direito da mulher sobre o próprio corpo, mas sim o direito de uma mulher sobre o corpo e a vida de seu filho. Sobre a vida e corpo de terceiros. Todavia, o professor, com sua linguagem uspianesa, inverte a lógica do discurso, falsificando a realidade para seus leitores.


Ele não se comove. O non sequitur continua imbatível: “Mas, afinal de contas, o bispo tem razão. Que história é essa de pensar que o Brasil é laico e democrático? O Brasil pertence aos pastores de Deus, aos homens de bem e aos héteros (sic). Ah, e aos empresários de sucesso, é claro”.  A pergunta que não quer calar é: o que tem a ver alhos com bugalhos? O que tem a ver a natureza laica e democrática do Estado com a legalização do aborto? É interessante notar a mentalidade comunista inculcada nessa cabecinha uspiana do “dotôr Sacamoto”: padres, bispos, pastores ou até religiosos são cidadãos de segunda categoria.  Eles não podem opinar ou ter posições políticas e morais a respeito de seu país. E o que tem a ver os empresários de sucesso com relação ao aborto? O monopólio da opinião pertence a bestas doutorais como nosso militante profissional acaciano com sobrenome de tempero japonês. Ao que parece, há na mentalidade esquerdista abjeta de cada professorzinho “dotoral” do país uma tentativa de rasgar a Constituição, que garante a igualdade, sem distinção de ideologia ou religião. Não são os tipos “sacamotais” da vida que aderem alegremente àquele calhamaço totalitário do PNDH-3?


Falando em “non sequitur”, é necessário rir mais um pouco: “Defender o direito ao aborto não é defender que toda gestação deva ser interrompida (nem sei porque estou gastando pixels explicando algo que deveria ser óbvio, mas vá lá). E sim que as mulheres tenham a garantia de atendimento de qualidade e sem preconceito por parte do Estado se fizerem essa opção. O “dotôr” com sobrenome de tempero de cozinha escamoteia suas intenções. Defender o “direito ao aborto” é sim defender o aborto. No entanto, ele ainda defende o assassinato de nascituros, apelando aos mais altos ideais. Eufemismos grosseiros para defender algo monstruoso. Traduzindo em miúdos, a lógica do planeta USP, sem enrolações: defender o direito de matar não é defender que todas as pessoas sejam mortas e sim que os assassinos não tenham risco de morte!


E o “Sacamoto”, o homem que sabia falar uspianês, talvez não conheça muito bem a língua pátria, ao colocar acento na palavra “hetero”.  Sabe-se lá o que ele quis dizer que o Brasil pertence aos heteros? Deve ser porque o sujeitinho tenha uma revolta contra a realidade, já que não foi uma relação anal do Parque Trianon que reproduziu a tal espécime uspiana, e sim um casal formado por homem e mulher (embora tenha minhas dúvidas quanto às origens geracionais dos seres uspianos). Não é que o acaciano nos dá uma declaração que faz chorar rios de lágrimas os idiotas do politicamente correto? “Dotôr Sacamoto” não tem apenas imprecisões nas palavras. Deve ter sérias imprecisões na sexualidade, para dar declarações como estas, já que só falta colocar na cadeia quem divergir da conduta homossexual: “Tolerância é bom. Porém, legal mesmo não é apenas tolerar, mas acreditar que as diferenças tornam o mundo mais interessante e rico do que a monotonia monocromática da velha ditadura comportamental a que estamos subjugados pela religião, pela tradição, pelo preconceito”. Realmente, a heterossexualidade deve ser uma completa e malvada ditadura da natureza. Que crueldade de Deus, da religião e da tradição. Criou uma humanidade sem criatividade, totalmente sexuada. O negócio mesmo é “pluralizar” o sexo, torna-lo mais “interessante”. Que tal legalizar a sua diversidade? Os pedófilos, os zoófilos, os necrófilos, e demais membros da “diversidade sexual” bem que poderiam tornar o mundo mais interessante. Já pensou? Isso porque o “dotôr Ajinomoto” vai além da tolerância! Ele quer a aceitação compulsória de qualquer comportamento sexual “plural”. Insiste o nosso falante de uspianês, acaciano, como sempre: “Nenhuma manifestação de afeto deveria ser taxada de anormal. Anormal é quem torce o nariz para ela”. Os tarados ficariam bastante felizes com essa afirmação. Pedófilos dizem ter afeto por crianças. Zoófilos dizem ter afeto por animais. Até o maníaco do parque dizia ter afeto por mulheres, suas vítimas. Se alguém beijasse a bunda de um garoto ou passasse a mão nas nádegas de uma mulher, as vítimas é que iriam pra cadeia. O cartunista Laerte não invadiu o banheiro das mulheres numa pizzaria, e ainda recebeu apoio da imprensa? Nas palavras de muitos jornalistas, o dono da pizzaria e a criança que denunciou a histriónica cena é que deveriam ser presos. Crime? Preconceito contra a “transgeneridade”.

É triste perceber que Lima Barreto fora profético. Em sua época, os “dotores” da vida já causavam um estrago profundo no cotidiano dos brasileiros. Atualmente a coisa se degenerou. Hoje temos charlatães e embusteiros professorais. O “dotôr Sacamato” deveria ser preso por estelionato intelectual. Ou, no máximo, mandado para um hospício ou circo de horrores.

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