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segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Quem faz mais Medalhas?

Por Klauber Cristofen Pires

De vez em quando dou uma passada na imprensa cubana, principalmente no Granma Internacional Digital e no Juventud Rebelde. Move-me a curiosidade, de um de lado, de procurar saber alguma coisa da vida cotidiana dos cubanos (muitas vezes a verdade transparece em meio à névoa propagandista), e por outro, de acompanhar o desempenho de seus jornalistas.

Acompanhar as colunas de opiniões é um hobby particularmente interessante, e adianto, pode ser um rico campo de estudo para a Psicologia. Como destaque, os colunistas cubanos são peritos em fazer de uma nota de rodapé um tratado: qualquer fato que em um jornal qualquer não ocupe mais que duas linhas e meia, nos jornais “.cu” merece cinqüenta! O personagem “Rolando Lero”, da escolinha do professor Raimundo, enfim, encontraria um emprego digno de seus talentos...

Terminados os Jogos Pan-Americanos, o negócio de lá agora é colher os louros. Sem falsa modéstia – e até mesmo, eu diria, com justa razão - Cuba se orgulha de ser uma potência esportiva e de vender seu sucesso como o corolário de uma política de saúde e educação providas pelo Estado, ou melhor, pela Revolução.
Ademais, para que se não diga que no país vige uma repressão à liberdade de expressão, há uma enquete sobre os jogos no site “Trabajadores.cu” (http://www.trabajadores.cubaweb.cu/, dia 13/08/2007), onde os internautas podem se manifestar sobre a seguinte pergunta: “¿Por qué Cuba gana en Panamericanos a países con 10 veces más habitantes, más recursos y sin bloqueo económico?” , com as seguintes alternativas: “Porque es Socialista”, “Porque el deporte es para todos”, “Porque el Estado apoya el desarrollo deportivo”, e “Porque em otros paises no apoyam el deporte tanto como Cuba”.

Consideradas “todas” as respostas disponíveis, votei naquela que dizia que outros países não apóiam tanto o esporte como Cuba, embora, no contexto, como se vê, todas as alternativas levassem ao mesmo resultado... Com efeito, há uma grande diferença entre Cuba e os demais países da América: enquanto que no Brasil, Canadá, Estados Unidos ou México as pessoas buscam realizar seus próprios sonhos e laboram por seus objetivos, em Cuba todos recebem o apoio do Estado, mas somente aquele destinado a realizar os objetivos de um só homem.

Todavia, seria oportuno mostrar que há um equívoco ainda não-esclarecido: isto porque, mantidas as mesmas condições com que Fidel mantém o seu plantel de estrelas, o Brasil logra conseguir muito mais medalhas que Cuba. Com efeito, são tantos os campeões nacionais que hoje a liderança mundial no quadro de medalhas, cabe, indiscutivelmente, ao nosso país. De quê estou falando? Ora bolas, claro, do nosso rebanho bovino! Por quê não? Seria injusto compará-los com os atletas caribenhos?

Para quem duvida, leia da própria pena de Fidel Castro, em seu artigo “La Constancia Escrita”, publicado no dia 08 de agosto de 2007: ...“En una entrevista con un diario brasileño, el empresario alemán Ahmet Öner, promotor de cuatro boxeadores cubanos ya refugiados en Alemania, admitió que organizó la fuga de Rigondeaux y de Lara, por la que dijo haber pagado cerca de medio millón de dólares.”... “...Cuba dispone de muchos buenos deportistas pero no se los ha robado a nadie.”

Ora, como se vê, (“...Cuba dispõe de muitos bons esportistas, mas não os roubamos de ninguém!”) o entendimento do Comandante é que os dois boxeadores quase lhes foram roubados! Portanto, não são os jovens atletas seres humanos e donos de seus próprios corpos, dotados do direito natural de decidir sobre a própria vida, mas literalmente, são tratados como uma “coisa”, ou como se diz em latim, “res”. Ora, pelo visto, porquê então não comparar as “reses” cubanas com as brasileiras?

Talvez ainda assim Cuba saia perdendo muito: só para começarmos pelo campo da “saúde e educação”, por exemplo, eu não apostaria um atleta cubano contra um Nelore tupiniquim : afinal, o rebanho brasileiro tem andado muito bem, obrigado. São tratados com veterinários bem-qualificados, remédios de última geração e equipamentos caros e modernos. Quem se lembra de alguns anos atrás, quando, desafiados pelo Canadá, eles é que acabaram tendo de se explicar sobre as suas vacas doidinhas?

Mas as diferenças não param aí. Enquanto que os bois e vacas brasileiros recebem uma muito boa alimentação, balanceada e controlada por veterinários e nutricionistas, em Cuba já houve momentos em que a OMS teve de enviar suplementos alimentares e de obrigar o governo de lá a subir a ração diária de 1600 para 1800 calorias, por conta de uma epidemia de doenças mentais causada por avitaminose! (Ver em http://www.olavodecarvalho.org/convidados/cuba.htm)

Muito antes do sucesso da tomada de La Moncada, mais especificamente, em 1949, expressava-se, com um teor um tanto profético, o filósofo Ludwig von Mises, em sua obra-prima, "Ação Humana" (2):

"Tem sido afirmado que as necessidades fisiológicas de todos os homens são idênticas e que essa igualdade pode servir de base para medir o grau de satisfação objetiva. Quem expressa tais opiniões e recomenda o uso desse critério na formulação de políticas governamentais na realidade está propondo que se tratem os homens da mesma maneira que um criador lida com seu gado. Tais reformadores não percebem que não há um princípio universal válido para todos os homens. O princípio que vier a ser escolhido dependerá dos objetivos que se quer atingir. O criador de gado não alimenta suas vacas com a intenção de fazê-las felizes, mas visando a objetivos específicos que ele mesmo estabelece. Pode preferir mais leite ou mais carne ou qualquer outra coisa. Que tipo de pessoas os criadores de homem querem formar: atletas ou matemáticos? soldados ou operários? Quem pretender fazer do homem a matéria-prima de um sistema preestabelecido de criação e alimentação na verdade está arrogando-se poderes despóticos e usando seus concidadãos como um meio para atingir seus próprios fins, que são indubitavelmente diferentes dos que eles mesmos pretenderiam atingir." (Ludwig von Mises, Ação Humana: Um Tratado de Economia, Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995, 2ª ed. p. 243.)
Mas, e quanto à educação? Aqui já não se encontram diferenças gritantes; ao contrário, as grades curriculares de ambos parecem assemelhar-se: uma das primeiras coisas que um jovem cubano e um novilho zebu aprendem é que não devem passar dos limites da cerca elétrica; outra, também muito importante, é que se decidirem fugir, devem antes saber quem são os vizinhos amigos de seu dono, pois basta um vacilo e podem ser devolvidos...

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