Páginas

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Imagine Agora...

Por Klauber Cristofen Pires

Recentemente, recebi de uma querida amiga uma mensagem, destas que se transmitem em cadeia pela internet, com a divulgação do artigo “Agora, Imaginei”, publicado originalmente no jornal O Globo, no dia 10/11/2007, de autoria do Sr Cristovam Buarque.

Como me enviara com um certo ar de empolgação, e porque a tenho em boa consideração, dei-me ao trabalho de explicar-lhe as armadilhas armadas nas entrelinhas, assim, detalhadamente.
O motivo pelo qual dei-me a tal estafante trabalho é justamente mostrar às pessoas mais leigas que, tal como a minha amiga, muitas vezes realmente bem-intencionadas, deixam-se levar pela forma – mais ou menos bem apurada - carregada de romantismo e idealismo com que certos formadores de opinião procuram transmitir a sua visão de mundo.

O grande problema que estes agentes de propaganda socialista causam é que, por saberem lidar com as emoções das pessoas mais despreparadas, geralmente logram, além de fazê-las engolir sua gororoba ideológica, também torná-las refratárias a quem busca chamar-lhes a atenção para os fatos e a lógica. É mais ou menos como quem, ao se deparar com o sorriso meigo e a forma terna de falar de um menino levado, encanta-se com sua aurinha angelical e recusa-se a acreditar que ele tenha quebrado as janelas dos vizinhos, mesmo com tantas testemunhas a acusá-lo, justamente por quê, encantado com os modos do infante, se esquece de observar o estilingue, que ele mal esconde atrás de si.

Mais abaixo, segue a reprodução do artigo, com algumas pequenas colocações adicionais, tendo sido os meus comentários colocados parágrafo a parágrafo, em letras itálicas.

“Agora, imaginei que todas as crianças brasileiras, entre quatro e dezoito anos, estavam assistindo aula. Não apenas matriculadas, mas freqüentando, assistindo, aprendendo, até o final do Ensino Médio. Imaginei que o dia escolar começaria na hora certa, e todas as crianças ouviriam juntas o Hino Nacional. Cada aula duraria o tempo previsto. Imaginei todas as crianças em bonitos uniformes, sem diferenças por renda, luxo, pobreza.”

Hora certa, tempo previsto, Hino Nacional, uniformes (destaque: sem diferenças de renda, luxo ou pobreza): o parágrafo pega leve - é uma introdução, apenas - mas, quem se dispuser a identificar nas entrelinhas, poderá enxergar aquele tom de ordem unida, de homem-massa. Um lugar modelo? Que tal a Coréia do Norte, onde a população é acordada diariamente às sete da manhã, com sirenes, tal como nos quartéis? Em tempo: porque sem diferenças de renda? Minha filha tem 6 anos e já compreende que há crianças mais ricas e mais pobres que ela, e que a inveja e a cobiça dos bens alheios são pecados.

“Imaginei que nenhuma criança iria embora logo após a merenda, e que depois do almoço elas ainda teria m atividades escolares complementares: nadariam, pintariam, jogariam, ouviriam música, aprenderiam idiomas, leriam, fariam trabalhos comunitários, assistiriam a filmes, fariam experiências científicas, teatro, dança, aprenderiam a tocar instrumentos musicais.”

A idéia é bonita, não fosse o tom de obrigatoriedade, inclusive quanto ao tal do trabalho comunitário. Aliás, elas teriam de fazer tudo isto ao mesmo tempo? E se meu filho abominasse música, ainda assim seria obrigado a comparecer às aulas? E se ele adorasse física e química? O tempo perdido com todas estas atividades não o atrapalharia?

“Imaginei que todas chegariam ao final do ano e passariam nos exames, por terem aprendido, sem necessidade de promoção automática. Que todos os jovens concluiriam o Ensino Médio, salvo raras exceções por motivos de saúde. E que o Ensino Médio teria 4 anos, garantindo também o domínio de um ofício, ensinado na própria escola. Todos aprenderiam a se deslumbrar com as belezas do mundo, a se indignar com suas injustiças, a entender a lógica das coisas, a querer fazer um planeta melhor e mais belo, a sobreviver dignamente no atual mundo do conhecimento.”

Por partes: 1) A própria tese do homem perfeito, não? Por acaso, alguém já viu um índio com problemas de má formação congênita? Ah, não? Então eles são uma raça superior? Bom, se forem superiores porque esmagam a cabeça dos nenéns com uma pedra...aliás, bem do jeito como receitavam Stalin, Polpot, Hitler et caterva.... –a propósito, sugiro assistir ao filme "A escolha de Sofia". 2) A idéia de se ministrar obrigatoriamente um ofício na grade escolar, tradicionalmente defendida pelos adeptos da intervenção estatal no ensino (para quem a educação não passa de um treinamento de capacitação de operários) é um estorvo para o jovem que pretende se preparar para a faculdade e, ao mesmo tempo, um flagrante desperdício de recursos, na mesma medida em que ele jamais exercerá a profissão de nível médio. 3) Agora é necessário "aprender" a contemplar as belezas do mundo? 4) Indignar-se com as injustiças? Quais injustiças? A que os professores, a mando do partido-estado, lhes ensinarem? As injustiças do sistema de liberdades civis, inclusive o de livre comércio, vulgo sistema capitalista? 5) A entender a lógica das coisas? Caramba, estes jovens serão super-homens...eu tenho quase 40 e ainda sei tão pouquinho... - lógico, tal como Pol Pot, que matou pelo menos uns três milhões, os outros é que não o compreendiam... 6) ah, deixa pra lá...cansei...

“Imaginei que todos os professores seriam muito bem remunerados, dedicados e bem formados. Que nenhum professor precisaria parar as aulas para pedir aumento de salá rio. Que um Plano Nacional de Carreira quebraria a vergonhosa desigualdade na qualificação e na remuneração dos professores, dependendo do Município e do Estado. E que todos os nossos professores disporiam dos mais modernos equipamentos pedagógicos, cujo uso dominariam. Cheguei a imaginar que, quando nascesse uma criança, seus pais desejassem para ela a profissão de professor.”

Numerando: 1) Quem não quer um bom salário? Quem não merece? O médico? O motorista de ônibus? O vendedor? Ah, bem me lembro de um torneiro mecânico que não dispensa um terno Armani, pijamas de algodão egípcio, champanhes de 11 mil dólares, e claro, um avião com sauna, que ninguém é de ferro... 2) Qual o problema da desigualdade na qualificação e remuneração dos professores? Todos têm de ser igualmente burros? Todos têm de receber o mesmo salário? Ficarão todos igualmente felizes pelo salário igual que receberem? As condições dos locais em que vivem são iguais? São iguais seus planos e aspirações? Todos os professores terão de saber tudo sobre todas as áreas? E se algum descobrir ou inventar algo novo, terá de jogar sua descoberta/invenção no lixo, para ficar igual aos outros? O ensino não é algo raro e desejado, e portanto, sujeito à lei da oferta e da procura, assim como todos os demais?

Imaginei o fim da desigualdade na qualidade da educação no nosso país, e que a escola dos pobres seria igual à escola dos ricos, a dos morros igual à dos condomínios, todas com a máxima qualidade. Imaginei a escola do Brasil igual às melhores do mundo. Jovens disputando o vestibular em igualdade de condições, independentemente da renda de sua família e da cidade onde vivessem. E a universidade recebendo assim os melhores dos melhores entre todos os brasileiros, com a máxima formação, e não apenas os melhores entre os poucos que concluem o Ensino Médio, com a mínima qualificação. Imaginei que os melhores desses novos alunos optariam pela Carreira Nacional do Magistério.

De novo, por números: 1) Como é que se mede a qualidade? Não é comparando o melhor com o pior? O que seria igualdade de condições? Seria algo como submeter os jovens a uma rotina diária rigorosamente igual, tal como no filme "Os meninos do Brasil”? Quando morresse o pai de um, o pai dos outros deveria ser executado? Quando um sentisse dor de barriga, a todos os demais seria receitada alguma substância que lhes causasse semelhantes sintomas? Que todos estudem, desde o jardim até o fim do segundo grau, exatamente durante o mesmo número de horas, com os mesmos livros, e mais, que tenham as suas aulas com os mesmos professores, e que aprendam por igual? 2) Para quê então os pais, mesmo os pobres, se sacrificam tanto para pagar a melhor escola particular possível para seus filhos? Para que aprendam o mesmo que aprendem nas escolas públicas? Para que sejam iguais, ou para que sejam melhores? 3)Os melhores no magistério? Imagine relegar aos grandes gênios, os indivíduos mais talentosos e empreendedores, não as grandes descobertas que lhes esperam, mas a atividade de repetição e imitação que corresponde ao ensino...não seria andar pra trás?

“Imaginei a dinâmica e força dessa nova universidade, as pesquisas que ela desenvolveria, os profissionais que formaria, imaginei até os prêmios Nobel que o Brasil receberia.”

Do jeito que o Nobel anda se desvalorizando, premiando até político democrata americano que faz alarde fraudulento de aquecimento global...

“Imaginei como estariam o desemprego, a violência, a corrupção, a desigualdade, a pobreza, a eficiência, a auto-estima, a participação, a cidadania, a economia, a saúde, a ciência e tecnologia, o meio ambiente, quando todos os brasileiros tivessem uma educação da maior qualidade. Vi que tinha imaginado um Brasil completamente diferente daquele que a realidade nos faz temer, porque o futuro tem a cara que as escolas têm no presente.”

Que tal pensar que uma educação pode melhorar concomitantemente com outros requisitos, tais como o exercício pleno das liberdades civis, inclusive a da livre –iniciativa e do livre-mercado, a formação de poupança privada, a descoberta de novos conhecimentos, das novas tecnologias e das novas oportunidades que o mercado vier a abrir? Que tal pensar em nossa sociedade sem um grande timoneiro a querer impor aos outros a sua visão estreita de mundo, tal como um alguém que, arvorando-se colocar no lugar de técnico de futebol, por vezes manda todos os jogadores para a frente, e outras vezes manda todos recuarem?

“Então imaginei o mais difícil: que todos acreditariam que tudo isso era possível e necessário. Pensei que, se todos imaginássemos juntos, o caminho estaria aberto para transformar a imaginação em realidade. Que se os diferentes partidos, em sucessivos governos, se unissem para fazer aquilo que imaginei, o imaginado aconteceria.”

Todos unidos por um só objetivo! O grande guia manda, os camaradas obedecem. Uma só solução. Todas as outras soluções banidas! Os partidos, Sr Cristóvão Buarque, se unem pelo Brasil. Isto não significa que todos tenham de pensar a mesma coisa. Muitas vezes ajudam, quando justamente discordam. O Fuehrerurtum nunca funcionou, por mais lindas que fossem intenções, e mais doces as suas palavras.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Humanize a Natureza!

Por Klauber Cristofen Pires

Um documentário do canal Animal Planet, ou melhor, um espaço informativo que tem sido apresentado no intervalo dos programas, exibe o depoimento de uma treinadora de baleias e golfinhos, em que a moça expõe o feliz relacionamento que teve com uma baleia orca – a mesma que, salvo engano, foi a estrela do filme “Free Willy” – e destaca o fato de como o animal era dócil, inteligente e carinhoso, enquanto as cenas demonstravam os truques e as peripécias que sua mascote fazia no aquário, para divertimento da platéia.

Pois bem, tal como prossegue o programa, o sucesso do filme chamou tanto a atenção de ambientalistas preocupadíssimos com o bem-estar do bichinho (melhor “bichão”, né?), que estes, enfim, decidiram fazer de tudo para devolvê-la ao mar. Quem não assiste ao canal deve estar pensando que a nossa estrela agora deve estar por aí feliz da vida caçando focas, mas - desculpem-me – cai em ledo engano. O infeliz animal, depois de tanto bem servir ao seres humanos, de aprender a se relacionar com eles e a amá-los – morreu abandonada à própria sorte, de pneumonia. Eu diria, deve ter morrido de desgosto – pois, como o próprio programa afirmava, a coitada da orca foi diversas vezes vista a seguir navios nas costas da Noruega, na esperança de fazer contato com os seres humanos.

Este é o retrato mais fiel da mentalidade dos preservacionistas, e pior, por eles mesmos! Assim, nenhum deles haverá de pôr em questão os fatos.

Agora, pensem bem: a orca tinha lá uma boa vida, não é mesmo? Afinal, vivia em segurança, com alimentação adequada e cuidados médicos e sempre cercada de mimos e carinhos. O que então lhe aconteceu? Humanizou-se, claro! No possível para um ser de sua espécie, ela aprendeu a não ter de matar e nem a ser agressiva, mas ao contrário conviver em harmonia, colaborar (afinal, ela trabalhava!) e o resultado, enquanto morou no aquário, foi uma vida tranqüila, livre do stress típico de quem tem de permanecer em alerta o tempo inteiro para poder comer e não ser comida.

O caso desta baleia não é único: quem quer que tenha um cãozinho percebe como ele se integra nas regras e no relacionamento carinhoso que lhe oferecem seus donos; certa vez, eu soube de uma porquinha que, tão bem tratada que era, sentia uma certa repulsa dos seus irmãos de espécie no chiqueiro, afinal, parecia-lhe clara a sua superioridade com relação a eles, tanto na higiene como nos modos.

Realmente, não dá para saber o que um animal pensa, se é que pensa alguma coisa, isto é, em termos de raciocínio lógico. Todavia, já sabemos que os animais, principalmente os mamíferos mais desenvolvidos, possuem esquemas pré-lógicos, digamos assim, que lhes permitem fazer algumas escolhas. No caso do nosso querido cetáceo, isto ficou claro quando passara o resto da sua vida a seguir navios, em vão (puxa, que triste!).

Fiel à mentalidade revolucionária, entretanto, os ambientalistas-politiqueiros- marqueteiros de plantão (só porque ela fora uma estrela de cinema, pois as outras continuam com suas vidas tranqüilamente...) interferiram na vida da orca, declarando-se pensar em seu bem-estar, isto é, à revelia do animal, da tratadora - que a amava como um filho seu, e da administração do aquário, que sei lá os prejuízos que teve de suportar para ver sua estrela lhe ser subtraída.

A essência do preservacionismo é querer manter a natureza do jeito que está, e, no possível, fazer os seres humanos agirem tal como os animais. Um trabalho sem sentido, pois desde os trilobitas, que reinaram no período Paleozóico (e até antes), milhares ou milhões de espécies animais e vegetais apareceram e desapareceram da face da terra, sem que não tivesse havido absolutamente nenhuma intervenção humana.

Não raro, todavia, gente desta espécie, associada a biólogos, sociólogos, e sedizentes filósofos, buscam no comportamento dos animais selvagens explicações ou exemplos para servirem de modelo aos seres humanos. Então pergunto: por quê tem de ser assim? Por quê não pode ser o contrário?

Se os humanos são filhos de Deus, conscientes de sua existência, e a única espécie racional do planeta, por que não humanizar os animais, ao invés de barbarizar o homem? Todas as espécies de animais que se associaram aos seres humanos evoluíram, tornaram-se mais graciosas, têm vivido melhor e foram granjeadas com maiores garantias de perpetuação do que no estado selvagem. Até mesmo animais silvestres que têm tido um contato marginal com seres humanos tornam-se mais tranqüilos, meigos e até colaboradores, tais como os jacarés ou catitus, nas fazendas do Centro-Oeste, ou os golfinhos pescadores, nas praias catarinenses.

Certa vez, assisti comovido a um caso que aconteceu no zoológico da Inglaterra: foi quando uma criancinha caiu da balaustrada, indo parar direto na área dos gorilas. O curioso foi ver um dos gorilas, talvez o chefe, impedir os outros de sua espécie de se aproximarem do menino, que jazia inconsciente. Caso por caso, o gorila foi mais humano do que aqueles da espécie homo sapiens, que proclamando serem “defensores dos direitos dos animais”, na Alemanha, propunham sacrificar um ursinho de três meses, batizado de Knut, somente porque a mamãe ursa o havia rejeitado (alegavam que, na natureza, o ursinho morreria, e que isto deveria ser emulado também no cativeiro...).
Se é a missão bíblica do homem trabalhar na obra divina, ou, num discurso mais apropriado aos ateus, se o homem é o ser racional e consciente, porque ele mesmo não deve ser a medida das coisas, pacificando os animais, transformando os desertos em campos verdejantes e purificando os ambientes insalubres e pestilentos?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

CAdê o Super-Tiro?

Por Klauber Cristofen Pires

Um dos brinquedos mais bacanas que eu tive na infância foi um rifle de repetição a ar comprimido. O “Super-Tiro”, como era seu nome, era produzido pela Estrela e disparava um projétil de plástico, semelhante a uma minúscula peteca. Ele tinha um carregador lateral, e era alimentado por um puxar da empunhadeira. Com ele, também vinha um alvo, cujas “moscas” caíam quando acertadas pelos projéteis.

Eu, meus primos e meus amigos brincávamos a valer naquele tempo. Quase sempre com armas de brinquedo. Brincávamos de guerra, de polícia e ladrão e de faroeste. A bem dizer, nas nossas brincadeiras de criança, diga-se, sempre privilegiávamos o papel do soldado aliado (brasileiro ou americano que fosse) e principalmente, o da polícia (bem diferentemente do que ocorre hoje com estes videogames com jogos de lutadores de gangues de rua). De todos os que me acompanharam nestas atividades lúdicas, que eu saiba, não saiu nenhum assassino, ladrão, estuprador, matador de aluguel ou coisa parecida, para desgosto dos sociólogos, psicólogos, pedagogos e demais profissionais de plantão afins. Aliás, que eu me lembre, fora insetos e baratas, o único ser vivo que eu já matei até hoje foi uma galinha para o Natal, e ainda assim “paguei um mico” danado (eu estava com pena da bichinha e isto aumentou várias vezes o seu sofrimento, porque a execução demorou além da conta. “Tadinha”...).



Jamais aceitei o fato de o Super-Tiro ter sido retirado do mercado. (Gostaria até que, se alguém da Estrela ler este artigo, ou mesmo alguém que tenha sido um feliz dono de um exemplar - que se pronunciasse acerca da sua extinção). Era um produto de boa fabricação, inofensivo (o disparo não era mais forte do que um pequeno “peteleco”), divertido (porque reunia a família inteira – lembro-me dos campeonatos de tiro-ao-alvo que fazíamos), e a melhor notícia para qualquer pai, não usava pilhas!



Há alguns anos atrás, a mídia noticiou com estardalhaço o fato de um menino ter desfilado no dia sete de setembro como mascote de uma guarnição da polícia militar, à frente da tropa, uniformizado e, ora, pasmem, empunhando a arma padrão da corporação, se não me engano, uma submetralhadora ou algo assim! Na mente de quem se achava no dever não de informar, mas de servir-se como agente de transformação social, aquilo foi o fim do mundo, e o que era para ser motivo de orgulho de um pai, de seu filho por ele, da organização militar e por tabela, da sociedade, foi “vendido” ao público como a vergonha extrema.



Naquela época, a condenação total do acontecimento, sem nenhuma voz influente a discordar e proteger a corporação militar, jogou longe a tradição de prezarmos as nossas instituições incumbidas de zelar pela lei e pela ordem. Funcionou mais ou menos como o seguinte recado que a sociedade tivesse lhe dado: “- olha, Polícia Militar, você é somente um mal necessário, uma assassina legalizada que nós, cidadãos, pagamos a contragosto – e atendemos pela porta dos fundos”. Para o menino – e talvez também para seu pai, que era um dos policiais no desfile - deve ter sobrado o trauma e a frustração pela função que exercem. Que coisa, hein?



Na Receita Federal, os brinquedos apreendidos provenientes de descaminho (popularmente conhecido como contrabando) são encaminhados para destruição. Necessário dizer mais alguma coisa? Aliás, parece que as crianças hoje não brincam mais com armas de brinquedo – usam as de verdade, mesmo!



A este ponto chegou a paranóia dos militantes em favor da causa desarmamentista, vistos estes três pequenos exemplos, tirados a olho grosso. Que tivessem influenciado a Administração Pública (no caso dos brinquedos apreendidos) até que era coisa de aceitarmos, digamos, com aquela complacência protocolar; mas esta gente conseguiu interferir nas nossas vidas privadas, e especialmente no caso do menino que desfilou no sete de setembro, conseguiram produzir uma inversão de valores tal que somente muitos filmes com o “Capitão Nascimento” conseguirão – quem sabe - fazer com que passemos a dar o devido valor à polícia (isto, independentemente das suas falhas, o que é outra história).




É com isto que nós, brasileiros, temos de nos preocupar e abrir os nossos olhos. Por uma mera questão de opinião, que já se mostrou falsa de tudo quanto é jeito, estes grupos conseguiram impor a sua vontade sobre os nossos valores e nossas preferências. Conseguiram invadir as nossas vidas! Dali em diante, tornaram-se supercidadãos, e nós, algo como os “intocáveis” (não me refiro aos heróis do filme americano da década de 30, mas àquela casta indiana que, por estar abaixo de todas as demais, não usufruem quase nenhum direito e vive de esmolas e dos serviços mais sujos).