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terça-feira, 27 de abril de 2010

Mais quiproquó em Belo Monte!

Por Klauber Cristofen Pires

Agora os jornais e a tv concentram as suas reportagens na inconformidade dos índios com a notícia da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, anunciada para ocorrer ainda neste ano. Pasmem os leitores mais afastados do assunto, mas a discussão acerca desta matéria já completa trinta anos e ainda, pelo jeito, tem pano pra manga, ou seria mais correto dizer "pena pra cocar"? (...)

Afirmar como fazem as comunidades indígenas, escoradas por padres da teologia da libertação, que eles não foram ouvidos, não é uma piada; é um processo premeditado de sabotagem, facilmente identificável pelo só fato de os próprios jornalistas se referirem a cada grupo dos nativos como "nação", um termo objetivamente emancipacionista e absolutamente impróprio, haja vista o grau de miscigenação dos mesmos com brancos e negros, bem como a raiz comum das etnias indígenas que os compõem. Para completar, a  chegada oportunista de Mr. Cameron e Mrs. Sigouney Weaver dão o aval do beautifful people ativista.

Em Belém,  posso afirmar sem grau de erro que falta luz todo dia. Toda manhã, quando acordo, tenho de regular novamente os relógios do microondas e do aparelho de som. Segundo um amigo que trabalha na área, sou um privilegiado, por residir em um dos "melhores bairros", pois os operadores dão preferência por desligar do barramento os bairros mais pobres quando em caso de sobrecarga.

A luz elétrica na região Norte é a mais cara do país, assim como a gasolina, o gás, o álcool e grande parte das hortaliças, legumes e frutas. Os imóveis e os aluguéis também são os mais caros. É possível afirmar com certeza que uma família pode viver bem melhor em qualquer outra região do país com apenas sessenta por cento do mesmo salário que seu compatriota nortista faça jus. Ainda assim, qualquer tentativa de se produzir algo que gere bens, serviços, empregos e impostos é massacrada a pauladas, ou melhor, literalmente a golpes de tacapes e terçados.

Há alguns meses, o canal The History apresentou a história de Walt Disney, e de sua estraordinária façanha de ter construído a adorada Disneylândia. O que me aguçou a minha curiosidde como um articulista liberal foi justamente a sua capacidade de negociar a compra de uma ampla extensão de terras de diversos proprietários diferentes.

Sem muita novidade para quem é do ramo, o famoso empresário do entretenimento infantil utilizou-se de vários correstores diferentes, dando aos moradores locais a impressão de que se tratavam de operações distintas. Jamais foi revelada a intenção de lá construir o primeiro grande parque temático do mundo, o que evitou que se inflassem os preços. Teria Walt Disney enganado os antigos proprietários? Teria agido com falta de ética, ou imoralmente? A minha conclusão pessoal é a de que isto não aconteceu, de jeito nenhum. A todos foram feitas as ofertas, as negociações e pago o preço acertado. O que haveria de ser construído ali não é da conta de quem vende o seu terreno, mas do futuro proprietário.

A Disneylândia não foi um empreendimento tão mais complicado do que construir uma usina hidrelétrica. Por ela, ninguém pode reclamar pelo dinheiro que recebeu por sua terra, fruto de uma negociação livre, paritária e espontânea. Diariamente, ainda vejo com meus próprios olhos como ocorrem grandes investimentos tais como shopping-centers e complexos imobiliários de grande porte, todos erguidos com base no mais puro contratualismo. Há até mesmo um caso muito interessante, o do shopping Pátio Belém, que antigamente era denominado de Iguatemi Belém, que foi construído interamente ao redor de uma casa, possivelmente pela negativa do seu dono em aceitar vendê-la, fato perdurou por muitos anos e que só recentemente consumou-se a venda, assim propiciando a expansão do complexo comercial. 

Belo Monte traz consigo a marca da violência estatal, fruto da ideologia consagrada no Direito Administrativo de que se pode desapropriar alguém com base em um pretexto denominado de "interesse público". Esta conversa de "bem comum", ou de "interesse público", porém, jamais aparece nas negociatas dos grupos que se apresentam como candidatos aos leilões, para ganharem dinheiro próprio operando com dinheiro público. Quando existe, é para justificar a cessão de empréstimos a juros irreais e riscos desamparados de garantias. Para estes, "interesse público" é "pro-labore"; para aqueles, é "colabore". 

Não existe nenhum impeditivo técnico para que, qualquer pessoa, mesmo com um dínamo acoplado a um pneu de bicicleta, possa fornecer energia elétrica. Basta gerar o suficiente em tensão e corrente para se emparelhar ao barramento. Fulano herdou um terreno montanhoso e rochoso que não serve para porcaria nenhuma. Um dia, percebeu que lá venta muito; desta forma, construiu uma mini-usina eólica. Beltrano planta cana-de-açúcar e não sabia o que fazer com o bagaço, até que um amigo seu sugeriu-lhe de fornecer energia a partir de uma termelétrica. Deu para pegar o espírito da coisa? Infelizmente, todas estas possíveis realidades, no Brasil, são proibidas, por causa de outra idiotice chamada de "monopólio".

Tivessem sido dadas as condições livres de mercado, talvez Belo Monte jamais viesse a ser construída, e isto interamente independente da vontade dos moradores locais, mas apenas por causa de um sério levantamento de custos em confronto com as melhores alternativas de tecnologia e logística. Isto não significa, porém, que não haveria uma ampla oferta de energia aos cidadãos. Haveria, e muita! Não obstante, ainda que viesse um dia a ter existência, jamais haveria de ser posteriormente atacada nos tribunais por participantes de movimentos tais como o dos atingidos por barragens ou fisicamente em suas instalações por índios ou outros tipos de ativistas políticos e ambientalistas. Em Manaus, uma eficiente operadora de transporte marítimo realiza a descarga dos navios no meio do rio, por meio de modernas balsas. Na mentalidade burocrática, nenhum barbudo sabichão compreenderia tal atividade sem a construção de um caríssmo porto. 

Belo Monte já está para se tornar o retrato fiel de um país estagnado, vítima de um povo retrógrado, confuso e amarrado. Que um dia seja lembrado como lição. Espero ainda estar vivo.

Um comentário:

  1. Infelizmente caro Klauber,é assim que as coisas funcionam em nosso país. Monopólio de tudo o que se possa imaginar desde que seja atividade lucrativa,e sempre com as bençãos do estado, pois este participa dos lucros. Cordiais saudações, Regina

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