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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Deixem o meu álcool em paz

Por Klauber Cristofen Pires

Mais uma vez vem o governo interferir no mercado, a pretexto de evitar flutuações de preços no mercado do álcool combustível duarante a época da entresafra. Para atingir fins políticos, desvia dinheiro público que poderia ser sido aplicado em investimentos mais produtivos e atropela a importante função que é justamente a variação dos preços - aquela que informa aos consumidores para maneirar nos gastos e a mesma que informa e patrocina a produção mais eficiente.

Eu abasteço o meu carro somente com álcool. Em Belém, os melhores preços para o produto estão por volta de R$ 1,95, mas o normal - principalmente na área central de Belém - correm em torno de R$ 2,30. Não há vantagem imediata em relação à gasolina, como se pode perceber. Entretanto, face à sofrível qualidade desta última, o diferencial aparece na preservação do motor. No meu carro anterior, por ocasião de uma revisão,  havia tanta borra acumulada no cabeçote que o risco de bater válvulas ou grimpar os pistões era iminente. Devo confessar também meus pendores ecológicos, ao preferir o aroma do álcool ao do combustível fóssil.

Até que os veículos movidos a hidrogênio ou eletricidade venham a se tornar uma realidade economicamente viável, o Brasil apresentou uma das soluções mais eficientes para substituir os derivados de petróleo. Invenção dos militares, mal-sucedida por conta de um sistema de subsídios que geraram dívidas e calotes, mas depois reavivada com eficiência dupla pela iniciativa privada, que deu o melhor de si enquanto os governos não prestavam-lhe atenção - tanto na produção alcooleira quanto no desenvolvimento dos veículos flex.

Agora vem o tempo da preocupação. Desde que o setor se reergueu por si só, tem vindo o governo a meter pitaco em tudo. Antes de discorrer, lembro que o mandatário do Poder Executivo Federal saía por aí afora fazendo propaganda, até que o seu tio antilhano viesse botar areia no negócio sob pretexto de que o aumento das áreas cultivadas iria reduzir a área plantada para os alimentos. Claro, o velho que nem o diabo quer por lá nas suas bandas estava dando força ao seu outro sobrinho, Hugo Chavez, que bem a calhar, tem lhe fornecido derivados de petróleo a preços simbólicos.   Pra completar, veio a campanha contra as plantações na região Norte, prejudicando centenas de agricultores e com eles a economia dos estados envolvidos.

Agora, uma nova trapalhada governamental está em curso: o governo pretende controlar o preço do álcool, mediante a concessão de financiamentos. Alega que precisa "regular" o mercado para evitar as flutuações de preço durante os períodos de entresafra, e que pretende fazer isto por meio de uma concessão de créditos a juros menores que 9%.

Há algum fator nesta equação que não se encaixa. Uma maior produção tenderá a baixar ainda mais o preço do produto durante a safra, mas isto não significa efetivamente que os preços durante a entresafra não venham a aumnetar, a não ser que haja um grande investimento em armazenagem. Por outro lado, a construção massiva de reservatórios reguladores também consome recursos e incorre em custos de manutenção. Daí que, ao contrário do que esperam os burocratas do governo, é possível que os preços venham  a aumentar justamente no período da safra, tanto para especular quanto para pagar os custos de manutenção de armazenagem, que tanto serão maiores quanto for maior a produção. Enfim, uma super-produção sem demanda a contento, obtida por expectativas mal-avaliadas devido aos incentivos ofertados indevidamente - pode gerar um elefante-branco embriagado com tanto álcool e tombado sob o peso de enormes dívidas.

A grande sacada viabilizadora do álcool se deu com a tecnologia flex, uma vez que libertou o consumidor de ter de consumir um só produto. Para melhorar, já estão aí os veículos tri-flex,que operam também com gás natural,  e creio que em breve uma combinação com a propulsão elétrica deve se tornar mais uma opção benfazeja.

Por favor, Sr Lula, deixe o mercado em paz. Por conta do patrocínio prestado pelos consumidores, especialmente aquele advindo dos maiores preços nos períodos de entresafra - a variação de preços tem uma função econômica que precisa ser respeitada - os produtores investirão em tecnologia para produzir álcool durante o ano todo, tal como já se conseguiu fazer com a soja, de ser plantada em climas quentes, ou investirão seus próprios recursos em reservatórios para atender períodos de pouca oferta, mas construídos segundo critérios mercadológicos mais bem definidos quanto aos custos e às verdadeiras necessidades.

 Vejamos como se expressa Henry Hazlitt quanto a este assunto:

Insiste-se nesses empréstimos junto ao Congresso, alegando-se razões que parecem muito plausíveis à maioria dos ouvintes. Diz-se que toda produção dos fazendeiros é lançada no mercado ao mesmo tempo por ocasião da colheita; que é esse, precisamente, o tempo em que os preços são os mais baixos e que os especuladores se aproveitam para comprar a produção e conservá-la, a fim de conseguirem preços mais elevados quando os alimentos se tornarem mais raros. Afirma-se, então, que os fazendeiros sofrem com tal situação e que, mais que os especuladores deviam tirar proveito de preços médios mais elevados.

Esse argumento não é sustentado, quer pela teoria, quer pela experiência. Os muito vilipendiados especuladores não são inimigos dos fazendeiros; são essenciais a seu bem-estar. Os riscos da flutuação dos preços agrícolas devem ser sustentados por alguém; têm sido sustentados nos tempos modernos, na verdade, principalmente pelos especuladores profissionais. Em geral, quanto mais competente for a situação destes em seu próprio interesse, tanto maior será o auxílio que prestarão ao fazendeiro, pois servem a seus próprios interesses precisamente na mesma proporção de sua habilidade para prever os preços futuros. Mas, quanto mais exata for a sua previsão, tanto menos violentas e extremadas serão as flutuações de preços.

Mesmo que os fazendeiros tivessem que lançar toda a produção de trigo no mercado num único mês do ano, o preço nesse mês não seria necessariamente inferior ao de qualquer outro mês (salvo certa margem  para cobrir o custo do armazenamento), pois os especuladores, na esperança de obterem lucro, fariam a maior parte de suas compras nessa ocasião. Continuariam comprando, até que o preço subisse a um ponto, em que não vissem mais oportunidade de lucro futuro. Venderiam, sempre que julgassem haver perspectiva de perda futura. O resultado seria estabilizarem-se os preços dos produtos agrícolas durante todo o ano.

É precisamente por existir uma classe profissional de especuladores para assumir esses riscos que fazendeiros e moleiros não têm necessidade de assumi-los. Poderão proteger-se através dos mercados. Em condições normais, portanto, quando os especuladores estão desempenhando bem sua tarefa, os lucros dos fazendeiros e moleiros dependerão, principalmente, de sua habilidade e atividade nas fazendas e nos moinhos e não nas flutuações do mercado.

Em suma, com um esquema camarada de empréstimos, o governo estará beneficiando os produtores mais ineficientes às custas dos mais produtivos e para estes últimos praticamente reduzindo a zero as oportunidades que tornariam competitivas as pesquisas científicas. Com tal esquema de empréstimos mantida a juros inferiores ao normalmente praticados, um "zilhão" de oportunidades de negócios terá sido prejudicada pela falta de crédito - e com isto transferem-se recursos de um ou vários setores mais eficientes para uma produção menos eficiente. Por quê nunca apreendem?

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