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segunda-feira, 21 de junho de 2010

O suave pouso do albatroz

Por Klauber Cristofen Pires

É incrível a capacidade com que a mídia domesticada aplica a linguagem orwelliana com o intuito de amortecer o impacto de uma notícia ruim, ou até mesmo de a fazer parecer boa. Agora a onda vem com o jargão "pouso suave".

Estão se referindo ao desaceleramento da economia.
Antes de começar, é bom fazer algumas distinções conceituais: não há mais de um mês, os jornais vêm anunciando um ritmo de crescimento quase chinês. Alarme! Alarme! O crescimento da economia brasileira já atingiu 9%! A economia brasileira está se superaquecendo! Cuidado!

Êpa, vamos com calma! O Brasil tem crescido à taxa de 9% ao mês? De jeito nenhum. O que houve foi a retomada da crise imobiliária norte-americana, quando houve uma recessão de 4,5% e o seu retorno ao lugar de origem, com mais uns 4 a 5% de crescimento. Retomar contratos parados em função de uma crise de liquidez repentina não pode ser considerado como um novo patamar, já que todas as estruturas de produção e a maior parte dos contatos e contratos ainda vigem. Em segundo lugar, estamos falando de um único mês em que isto aconteceu. Não foi nem sequer um trimestre.

Em plena campanha eleitoral, anunciar um crescimento de 9%, fingidamente não desejável, não parece ser o melhor dos mundos?

Agora, anunciar um "pouso suave" significa dizer que as trocas entre pessoas e entre países começarão a se aproximar da estagnação, e isto quando temos um passivo social de milhões de pessoas pobres esperando por um trabalho digno que as tire da eterna dependência do governo. Mas quê...soltar o osso agora? Tá cedo demais...

Usam a expressão agora "pouso suave" para se diferenciarem do "pouso forçado", que é o que realmente tem acontecido após um ciclo mais ou menos prolongado de gastança governamental desenfreada, impressão de papel descontrolada, aumento de impostos e um absoluto desprezo aos investimentos em infra-estrutura. Dizem que desta vez não será assim. Claro, não para eles. Não em época de eleições. Não contra o atual governo.

Nenhuma economia não-livre se encaminha para a estagnação econômica sem traumas. O "pouso suave" anunciado está mais para o pouso do albatroz, aquela ave marinha que se estatela desengonçadamente de peito no chão...

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