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sábado, 11 de setembro de 2010

Reações ao Pastor Terry Jones: etnocentristas são os próprios relativizados!


Por Klauber Cristofen Pires

 Quer tenha sido por conta dos noticiários televisionados ou dos jornais tradicionais, imagino que boa parte dos brasileiros já deve estar a par dos acontecimentos relacionados à campanha do pastor americano Terry Jones, de promover uma queima coletiva de exemplares do alcorão. Consoante o modo como têm sido divulgadas por estes veículos de comunicação, não seja de estranhar o quanto a foto do dito pastor não deva estar sendo queimada neste momento em cada papo furado por aí: "fanático", "intolerante", "fundamentalista religioso", "imperialista", "etnocentrista"...

No que me pese fazer generalizações, eis o modelo do brasileiro bem-informado: repetir como um papagaio o que viu na tv, com a pose de quem fez aquela descoberta por si próprio. No caso, alguns pontos a mais podem ser conseguidos em meio à roda de amigos se ele se valer de uma citação, como por exemplo, a de que o Vaticano condenou tal atitude ou de que a Sra secretária de estado, Mrs. Hillary Clinton, frisou que o sujeito em comento não representa os EUA. Aliás, da fala dela, curioso mesmo foi o efeito de fazer as gentes do quarto mundo (sim, a brazucada mesmo, inclusa) pôr-se em estado de elevada reflexão: "- ela quer dizer que o pastor não representa os americanos, mas eles são todos assim mesmo...
No meio desta pobreza que é antes moral do que intelectual, um pouco de discernimento se faz necessário, primeiramente para provocarmos uma discussão sobre algo que de início parece distante do assunto: a massiva propagação acadêmica dos conceitos de etnocentrismo e relativismo cultural em nossas faculdades, e desde recentemente também, em nossas escolas, que dali partiu para o domínio mental de toda a mídia e por extensão, de toda a sociedade.
Por estes conceitos, os seus propagadores têm acusado a nossa cultura, isto é, a cultura ocidental, florescida a partir da filosofia grega, do direito romano e das religiões judaica e cristã, a grosso modo, de ser "etnocentrista", isto é, de enxergar tão somente o próprio umbigo e desprezar as demais sociedades, que merecem ser reconhecidas e valoradas como iguais à nossa, sendo as suas diferenças meramente o produto da diversidade humana, que deve ser respeitada, segundo o conceito do relativismo cultural.
É preciso salientar que tal doutrina emite e omite três embustes gravíssimos: primeiro, opera a substituição do que chamamos "respeito" por "tolerância"; em seguida, acusa a sociedade ocidental e especificamente o Cristianismo de se fecharem para si próprios, quando na verdade são universalistas (explico isto adiante); e finalmente, exime absolutamente os que denomino de "relativizados" da mesma exigência e compromisso à nossa cultura impostos, permitindo a eles a primazia de seguirem sendo, eles próprios, extremamente... "etnocentristas."!
Passemos do edifício aos andares: respeito e tolerância são atitudes muito distintas, embora comumente confundidas. Por respeito, deve-se entender uma ação pacífica e de boa-fé que começa e termina no agente que a pratica:  eu respeito meus vizinhos, logo, não ponho som alto a ponto de importuná-los; por tolerância, ao contrário, compreende-se uma ação fundamentalmente agressiva, que começa no seu agente mas termina em uma segunda pessoa, esta coagida, sobretudo psiquicamente, a aquiescer com quem a originou: eu quero ouvir o meu som em um volume bem alto, e o meu vizinho deve me tolerar.
Nas últimas décadas, uma grande operação mental se deu para incentivar as pessoas à tolerância em detrimento da noção de respeito. Em uma sociedade em que o respeito é cultivado, as pessoas são incentivadas a adotarem um comportamento de auto-domínio, bem como também o de um contínuo discernimento íntimo entre o que é certo ou errado, enquanto que em uma sociedade de tolerância tal domínio se projeta nos outros, por meio da bisbilhotice e da delação. Como consequência disto, as ações agressivas exponenciaram-se até a fronteira do insuportável, e dado que tais ações exigem o concurso de um agente emissor e de outro receptor, a manutenção da relativa e frágil ordem vigente se dá às custas do permanente patrulhamento destes últimos. Vamos assim criando uma sociedade de seres cínicos e dissimulados, aptos a responderem em público o que pensam que a opinião dita coletiva pretenda que ele diga, enquanto sob os panos seguem praticando as piores iniquidades. A respeito disto, recomendo efusivamente a leitura do último artigo do filósofo Olavo de Carvalho "O inferno brasileiro".
Agora, tratemos desta sociedade ocidental, acusada de etnocentrista, por fechada para si própria. Para tanto, recorro a Jesus e ao apóstolo Paulo: o Primeiro nos fala da parábola do bom samaritano, para demonstrar como um estrangeiro pertencente a uma nação à época odiada pelos judeus pode ser mais bem visto aos olhos de Deus do que os levitas da linhagem mais pura; o segundo, por sua vez, defende ardorosamente os gregos e os pertencentes aos outros povos, extinguindo-lhes a obrigatoriedade da circuncisão. No Brasil, o trabalho missionário dos jesuítas jamais envolveu a intimidação e a violência, e um tanto da cultura indígena foi absorvida em nossa língua, em nossa mesa, em nossos quartos e varandas (olhá lá a rede de dormir), e até lá, para quem gosta, dos nosso hábitos, vide o fumo.
No plano histórico, a sociedade cristã ocidental não teria como tanto ter se desenvolvido se não tivesse incorporado tantas invenções, alimentos, a cultura e a ciência de outros povos; os EUA, a nação mais produtiva que já existiu, tanto no plano científico quanto no cultural,  em muito se valeu da contribuição de centenas de cientistas, empreendedores e artistas estrangeiros. Portanto, justo é denominá-la não de etnocentrista, mas bem ao contrário, de universalista.
Quem ingressa na civilização ocidental está convidado a usufruir de todas as melhores contribuições da humanidade. Olhem bem, como nas Américas, na Europa e na Oceania pessoas de todas os origens têm sido bem recebidas, para viver em paz, trabalhar, prosperar e ter as suas religiões respeitadas. Será que vemos o mesmo com relação às nações de onde vieram?
Se já fomos eficazes em desarmar as duas primeiras armadilhas, a terceira a esta altura já deve parecer mais clara: os relativizados são eles próprios os mais radicais etnocentristas, e aí reside grande perigo para a nossa sociedade; tomando como ponto de partida que devemos ser tolerantes para com eles sem sermos retribuídos na mesma medida, e destituídos dos nossos próprios valores,  então estamos extremamente vulneráveis para o que eles quiserem fazer conosco, inclusive, extinguir-nos. Eis aí o fundamento da situação chamada de "guerra assimétrica", aquela em que um dos lados imuniza-se contra quaisquer escrúpulos para atacar o seu oponente, ao mesmo tempo em que exige do próprio ofendido os protocolos mais preciosos de cautela, de permissão, de tolerância, de respeito aos direitos humanos, e por aí vai...
Compreendido este estado de coisas, já em estado de implementação concluída, convido o leitor a repassarmos a atitude do pastor Terry Jones: desde há muito tempo, recorrentes têm sido as notícias e imagens divulgadas pela tv em que ditos "radicais" islâmicos queimam bandeiras de países como os EUA, França, Grã-Bretanha e Dinamarca, e aqui saliento que estas duas contém em seus pavilhões a cruz cristã. Estes radicais também já queimaram livros e Bíblias, e várias vezes protestaram, dentro mesmo dos países que generosamente os abrigam, contra a democracia e a liberdade de expressão. Porém, muito pior do que isto, já mataram muitos cristãos. Não falo de um ou dois: falo de milhares!
Eu gostaria de perguntar aos brasileiros que a esta altura dos acontecimentos estão por aí a tachar o Pr Jones de fanático, e por extensão, os americanos, o que eles achariam se o pastor convocasse os meios de comunicação para assistirem à decapitação de um muçulmano.  Sim, feita, de preferência, com uma faca desamolada, como certa vez eu assisti a um vídeo em que um americano - dentre tantos outros - foi executado por um desses seguidores encapuzados de Alá.
Só para constar: duvido imensamente que uma cópia fidedigna, e portanto, sagrada, do Alcorão esteja  lá na pilha do Pastor Terry Jones para ser incinerada. Explico: para os muçulmanos, os exemplares considerados válidos, e portanto, sagrados, são os impressos em árabe. Como a maioria absoluta - assim creio eu - daqueles exemplares deva estar impressa em inglês, então o evento não está mais do que a queimar meros livros leigos.
Esta minha observação é assaz interessante e oportuna, porque a obrigatoriedade de propagação do islamismo a partir do Alcorão na língua árabe denuncia o quanto esta religião é territorialista e totalitarista. Não bastam os ensinamentos ditos divinos; os povos que assimilam o islamismo devem se submeter  também à cultura, aos costumes, à língua e finalmente, ao sistema jurídico e ao governo, quando seus seguidores, enfim, perfazerem a maioria. Assim é nas nações maometistas: quando muito, estrangeiros podem cultuar suas religiões no íntimo dos seus lares, a portas fechadas. Não se toleram outras religiões. Como uma ilustração prática, o islamismo é como o chupim que se cresce em ninho alheio, mata os "irmãos adotivos", escraviza os seus pais "adotivos" por exigir-lhes cada vez mais alimento, e por fim, torna-se dono de tudo.
Para quem tem dúvidas e prefere agarrar-se à disseminada posição de que os malfeitos do lado de lá são produzidos por radicais fanáticos, peço-me que me tragam um único exemplo que em tais atos tenham sido repudiados por....outros muçulmanos, inclusive seus líderes religiosos.   Muito ao contrário, os horrores produzidos pelos atentados do dia 11 de setembro provocaram ruidosas festas populares em vários destes países, não foi?
Retornando ao caso das edições leigas do Corão que, ao que parecem, estão predestinadas a virar cinzas,  para extrema conveniência do discurso hipócrita, constatemos como agora são anunciadas como sagradas, pelo que bradam como um grave ato de agressão, que já se ameaça em uníssono vingar-se com violência, e pior, com a conivência explícita das próprias autoridades como Obama, Mrs. Clinton, a União Européia e até mesmo do Vaticano.
Compreendidos o cenário e as circunstâncias atuais e verdadeiras, a proposta do Pr. Jones deve ser entendida antes como uma atitude reativa, ainda que equivocada no seu método, frente a todas as ofensas e agressões que os cristãos e a sociedade livre que construíram têm sofrido por parte dos muçulmanos e da turma do relativismo cultural. Não demanda, porém, tantos excessos de cuidados. Se houve uma lição ao mundo a que devemos o concurso do pastor americano, foi justamente o de evidenciar esta extrema desigualdade de critérios.

Um comentário:

  1. "Passemos do edifício aos andares: respeito e tolerância são atitudes muito distintas, embora comumente confundidas. Por respeito, deve-se entender uma ação pacífica e de boa-fé que começa e termina no agente que a pratica: eu respeito meus vizinhos, logo, não ponho som alto a ponto de importuná-los; por tolerância, ao contrário, compreende-se uma ação fundamentalmente agressiva, que começa no seu agente mas termina em uma segunda pessoa, esta coagida, sobretudo psiquicamente, a aquiescer com quem a originou: eu quero ouvir o meu som em um volume bem alto, e o meu vizinho deve me tolerar.

    Nas últimas décadas, uma grande operação mental se deu para incentivar as pessoas à tolerância em detrimento da noção de respeito. Em uma sociedade em que o respeito é cultivado, as pessoas são incentivadas a adotarem um comportamento de auto-domínio, bem como também o de um contínuo discernimento íntimo entre o que é certo ou errado, enquanto que em uma sociedade de tolerância tal domínio se projeta nos outros, por meio da bisbilhotice e da delação."

    A passagem acima é a síntese da sociedade brasileira atual. Já foi a época em que as pessoas se respeitavam, não impunham seus modos ou gostos aos outros.
    Hoje, ao se reclamar de qualquer atitude reprovável de qualquer pessoa, especialmente os mais jovens, é possível ser taxado de intolerante, racista, e outros adjetivos mais baixos.
    Faça o seguinte teste: reclame uma única vez da pessoa que fica ouvindo aquelas músicas horríveis (funk, pagode etc.) no viva-voz do celular ou com o porta-malas do carro aberto. Você verá o tipo de educação que o povinho desse país tem.

    De resto, parabéns Sr. Klauber!
    Brilhante texto!

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