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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A repudiável sordidez humana

Por Matheus Viana
(Em contribuição especial da revista Profecia)
Pastor americano declara que irá queimar exemplares do Alcorão no próximo dia 11 de setembro. Mais digno de repúdio do que tal atitude é a incoerência moral do ser humano


O pastor americano Terry Jones afirmou, no dia 08/09, que irá queimar 200 exemplares do Alcorão, livro considerado sagrado pelos muçulmanos, no próximo sábado, 11/09, em lembrança ao inesquecível ataque terrorista às torres gêmeas em Nova York no ano de 2001. Declaração que causou um alvoroço de âmbito internacional. Chefes de Estado de vários países, além é claro da Casa Branca, repudiaram tal intento. O Vaticano, a ONU, a União Européia e o Irã - vejam só - também participaram do coro.

Embora seja um cristão – não no sentido religioso da palavra, mas sim no comportamental – não compartilho do intento extremo e fundamentalista do pastor americano em queimar algo sagrado para os islâmicos. No entanto, o clamor internacional contra tal conduta deve ser alvo de análise no tocante a certas medidas de claros intentos intolerantes.

No Brasil há um PL em tramitação na Câmara que visa a retirada de qualquer acessório religioso de repartições públicas. Não seria a mesma coisa que queimar um Alcorão? A mitigação religiosa é a mesma. Só os métodos são diferentes, pois cada vertente usa o que tem na mão. O pastor usa o fundamentalismo religioso, e os ateus marxistas do governo federal brasileiro usam o Legislativo.

Como cristão sou, a exemplo de milhões de brasileiros, adepto à Bíblia. Não vou entrar no mérito de sua veracidade e divindade. Apenas na liberdade de seguirmos seus ensinamentos e princípios. Elaborar e aprovar uma lei que queime todas as Bíblias existentes no país soa totalitário demais. Por isso, usa-se as vias “democráticas” de PL´s que impeçam o uso de todo e qualquer adereço religioso. Mais do que isso. Querem tirar o nome de Deus da Constituição e da solenidade de abertura das votações no Congresso Nacional. Não seria isso queimar a fé e a devoção dos cristãos?

Podemos não concordar com os intentos do pastor americano, mas de maneira nenhuma o criticarmos. Líderes de todo o mundo, como a secretária de Estado americana Hilary Clinton e a chanceler alemã Angela Merkel, evidenciaram seu repúdio à ameaça do pastor. No entanto por que estes líderes, a ONU e o próprio Vaticano não repudiam, de maneira prática, é óbvio, a implacável perseguição aos cristãos que ocorre há década em países comunistas como Coréia do Norte e China? Por que não repudiam, em alto e bom som, a intolerância para com cristãos em países muçulmanos?

Seguindo o raciocínio destes líderes, queimar o Alcorão é considerado um ato de intolerância, mas perseguir e matar cristãos são direitos de Estados comunistas e islâmicos. Vociferar sobre o intento de um pastor em um país democrático é lutar pela tolerância religiosa. Omitir em relação ao homicídio de cristãos em países totalitários é demonstração de respeito à soberania dos mesmos. Que valores morais são esses, afinal de contas?

No Brasil vemos o inflamado levante a favor da homofobia, que, longe de seu verdadeiro significado, consiste em criminalizar toda e qualquer oposição, ainda que seja apenas ideológica e pacífica, à homossexualidade e seus desdobramentos. Todavia não há um pio sobre o que poderíamos chamar de “cristofobia”. Democracia sem divergência é? Isso mesmo: ditadura.

O pastor Jones parece ter se esquecido do mandamento de Jesus que diz: “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que vos perseguem”. (Evangelho segundo Mateus 5:44). Contudo, os chefes de Estado que vociferaram contra ele também esqueceram o mandamento que diz: “Tenham o cuidado de não praticar suas ‘obras de justiça’ diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isto, vocês não terão recompensa do pai celestial”. (Evangelho segundo Mateus 6:1).

Jesus definiu o caráter destes indivíduos: “Guias cegos! Vocês coam um mosquito e engolem um camelo”. (Evangelho segundo Mateus 23:24). Pois “coam o mosquito” quando repudiam o objetivo do pastor e “engolem um camelo” quando permitem, com uma omissão mórbida, a latente perseguição aos cristãos em vários países. Nada mais, nada menos do que a demonstração da sordidez humana declarada pelo profeta Isaías há milênios: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia”. (Isaías 64:6).

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