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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Media-Watch: Jornalista da área econômica comete erro absurdo e age com arrogância.

Prezados leitores,

Em outros textos já escrevi sobre os pseudo-profissionais que se vestem muito mais de pose e garganta do que de conhecimento. Estamos vivendo um tempo em que o preço dos serviços e o prestígio dos profissionais anda a gravitar muito mais sob o efeito de marketing do que os dos efetivos méritos. Digo isto para que jamais se deixem impressionar por alguém meramente por conta de diplomas coloridos, ternos bonitos ou falas empostadas, enfim, aparências que tomam o efeito de camuflagem para a incompetência.

Certa vez, confabulava com um médico que tem por muitos anos atendido às mulheres de nossa família - refiro-me a  um senhor possivelmente na casa dos oitenta, um profissional com notório reconhecimento público, sempre muito humilde e atencioso, que não faz cara de desdém quando lhe são pedidas explicações, e que não poucas vezes percebi várias pessoas o cumprimentarem com gratidão sincera por seus serviços, principalmente no supermercado, onde vez ou outra nos encontramops por acaso. Em nossa conversa, em determinada ocasião houve de minha parte indagar-lhe quantos partos teria assistido ao longo de sua vida profissional, ao que, sem ter um múmero exato, chegamos à estimativa de pelo menos cinquenta mil bebês! Então penso... como é difícil atualmente encontrarmos gente assim!

Retorno a este tema para trazer ao leitor um necessário trabalho de media-watch: em recente artigo de sua autoria, a jornalista Claudia Safatle, que não é nada menos do que diretora-adjunta do jornal Valor Econômico, publica o seguinte absurdo:

“Enquanto a despesa média por aposentado e pensionista do setor público é de R$ 50 mil/ano, o trabalhador privado custa, em média, R$ 1.580/ano (dados de 2009) (para o INSS)".

Obviamente que, importando o salário mínimo à época vigente no valor de R$ 465,00, seria impossível alcançar-se a diminuta quantia de R$ 1.580,00 ao ano, o que significaria um benefício mensal  MÉDIO de R$ 121,54. Foi o que bastou a um leitor que não usa o jornal como toillette para o seu cachorrinho de estimação perceber e questionar a prestigiada colunista, ao que recebeu, entretanto, como resposta:

"Tenho 34 anos de profissão e nunca tive por hábito inventar ou torturar os números para agradar quem quer que seja.

Vamos aos fatos:

1) 1) Segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, no relatório resumido de execução orçamentária de dezembro de 2009, o déficit do regime próprio dos servidores foi de R$ 47 bilhões. Como são 937.260 aposentados e pensionistas do setor público, dividindo o déficit pelo número de pessoas ( R$ 47 bilhões/937.260 = R$ 50.146,00). Esse é o custo que os contribuintes pagaram para manter o sistema previdenciário do setor público no ano passado. Na matéria, arredondei para 50 mil.

..............................

4) 2) O déficit do INSS no mesmo ano foi de R$ 43 bilhões. Este se refere a 27.048.356 trabalhadores da iniciativa privada, sendo 18.906.231 da área urbana e 8.142.125 da área rural do país, de acordo com o Ministério da Previdência Social. Cada aposentado e pensionista do INSS custou aos contribuintes, portanto, R$ 1.586 no ano passado."

A seguir, vou repassar uma correção muito bem dada pelo jornalista Ricardo Bergamini à questão, usando como fonte os dados da Previdência Social - União e INSS - Fonte MF, Base: Ano de 2009 (em azul):

Em 2009 o déficit do setor privado (INSS) foi de R$ 40,5 bilhões (1,30% do PIB) e déficit do setor público federal de R$ 60,2 bilhões (1,92% do PIB), totalizando no ano 2009 déficit de R$ 100,7 bilhões (3,22% do PIB).

Em 2009 a arrecadação do sistema de previdência geral (INSS) foi de R$ 181,1 bilhões em contribuições de empresas (5,7 milhões) e de empregados e autônomos ativos da iniciativa privada (48,1 milhões), pagando benefícios da ordem de R$ 221,6 bilhões para um contingente de 23,2 milhões de aposentados e pensionistas, com salário médio mensal de R$ 734,75 gerando déficit de R$ 40,5 bilhões (1,30% do PIB).

A ilustre jornalista com 34 anos de experiência comete dois erros:

1 - O total de beneficiários em 2009 era de 23,2 milhões. Na apuração do resultado previdenciário não se considera os benefícios assistenciais. Somente são considerados quando apurado o resultado operacional.

2 - A experiente jornalista divide o déficit encontrado pela quantidade de beneficiários e não o total pago de benefícios que foi de R$ 221,6 bilhões pelo total de beneficiários de 23,2 milhões que daria uma média/ano per capita de R$ 9.551,72.

3) Somente para ajudar na reflexão da forma de cálculo errada utilizada pela jornalista: se não existisse déficit na previdência o salário médio/ano dos aposentados e pensionistas seria de ZERO.

Em 2009 a arrecadação do governo federal junto aos servidores foi de R$ 9,3 bilhões (Militares - R$ 1,8 bilhão; Parte Patronal da União dos funcionários civis Ativos e Inativos - R$ 1,4 bilhão e Parte dos Funcionários Civis Ativos e Inativos - R$ 6,1 bilhões) de um contingente de pessoal ativo da ordem de 1.167.962 servidores (842.279 civis e 325.683 militares), com salário médio/mês de R$ 6.690,70 pagando benefícios de R$ 69,5 bilhões para um contingente de 979.512 servidores aposentados e pensionistas (697.622 civis e 281.890 militares), com salário médio/mês de R$ 5.457,98 gerando déficit de R$ 60,2 bilhões (1,92% do PIB).

No campo dos servidores federais foi cometido o mesmo erro, ou seja: dividir o déficit encontrado pelo total de beneficiários, quando o correto é dividir o total de gastos com aposentados e pensionistas de R$ 69,5 bilhões pelo quantitativo de 979.512 servidores que daria uma média/ano per capita de R$ 70.953,70.

 Nota: Não estou entrando no mérito dos erros dos valores e dos quantitativos citados pela experiente jornalista.

Quem desejar conferir os quantitativos dos servidores federais corretos vide página 32 do relatório número 171. Clique aqui :

http://www.servidor.gov.br/publicacao/boletim_estatistico/bol_estatistico_10/Bol171_jul2010.pdf

Quem desejar conferir os gastos com previdência (INSS e União) corretos vide página 131 do relatório de dezembro de 2009. Clique aqui:

http://www.tesouro.fazenda.gov.br/contabilidade_governamental/relatorio_resumido.asp

Quem desejar conferir o quantitativo de aposentados e pensionistas do INSS correto vide página 12 do relatório denominado de Resultado do Tesouro dezembro de 2009.

Clique aqui:  http://www.tesouro.fazenda.gov.br/hp/downloads/resultado/2009/Nimdez2009.pdf

Texto incorreto da jornalista:

"Enquanto a despesa média por aposentado e pensionista do setor público é de R$ 50 mil/ano, o trabalhador privado custa, em média, R$ 1.580/ano (dados de 2009) para o INSS."

Nota: R$ 1.580,00/ano dividido por 13 salários daria uma média de R$ 121,54 por mês, sendo que o salário mínimo em 2009 era R$ 465,00/ mês.

É lamentável que tenhamos que perder tanto tempo para explicar algo tão simples e primário. E que a jornalista com 34 anos de experiência ainda tente explicar o inexplicável.

Somente os sábios enxergam o óbvio (Nelson Rodrigues)

Texto correto com base nas explicações acima colocadas:

"Enquanto a despesa média por aposentado e pensionista do setor público federal é de R$ 71 mil/ano, o trabalhador privado custa, em média, R$ 9.551,72/ano (dados de 2009) para o INSS."

Desejo não ter que esperar mais 34 anos de experiência da jornalista para que a mesma reconheça o seu erro. (Ricardo Bergamini)

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