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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O tamanho dos que medem

Por João Bosco Leal


Mais do que nunca, tenho tido a oportunidade de refletir sobre a vida, pessoas, atitudes, ocorrências e tantas outras coisas que nem me recordo. O comportamento humano, porém, é um dos assuntos que mais tem me intrigado, e talvez um dos que mais tenho procurado entender.


Em textos anteriores, comentei sobre como é comum ver pessoas criticando outras sem olhar os próprios erros, e também sobre como, em casos de impossibilidade de locomoção por longos períodos, como o de dois anos ocorrido comigo, podemos observar isso mais detalhadamente.

Penso que algumas pessoas se acham "professoras de Deus", pois sabem de tudo, sobre tudo e estão sempre ensinando como fazer isso ou aquilo. São sempre as maiores e melhores. Mas normalmente são exatamente essas as mais ignorantes, pois, se pensassem sequer um pouco, não julgariam, não ensinariam e principalmente não palpitariam em assuntos dos outros, para os quais não foram convidadas a participar.

Esse comportamento é comum em pessoas que no passado foram social e economicamente acima da média, mas que não souberam sequer manter o que tinham, em geral levando vidas nababescas, muito acima de seu real poder, e que agora se dedicam a falar de outros para encobrir o próprio fracasso. Numa roda de conversa, são as que mais falam, e se sentem no direito de apontar defeitos, falar da roupa, da moda, dos carros, das casas dos outros e até dos móveis e da decoração de outras casas quando em alguns casos nem isso possuem mais, como a grande maioria dos "quatrocentões paulistas", famílias ricas no passado e que hoje vivem praticamente só de ajudas, de favores.

Isso normalmente ocorre como consequencia de suas atitudes no passado, mas elas não conseguem sequer enxergar isso. Tinham casões, carrões, faziam festões, gastavam fortunas em roupas da moda, e agora que acabaram com tudo o que possuíam, necessitam falar mal dos outros que sempre levaram e continuam levando uma vida mais sensata, dentro de padrões normais e de suas reais possibilidades.

Essas pessoas se sentem no direito de medir as outras, de criticá-las exatamente por não levarem o tipo de vida que redundou no fracasso que hoje elas são. E quando essas pessoas têm suas opiniões tratadas com o desprezo que lhe é devido, até pelos exemplos de vidas que elas mesmas deram, não se conformam e cobram explicações daqueles que delas discordaram.

Mesmo com minhas limitações físicas, faço questão de não depender de ninguém. Faço tudo sozinho, independentemente da dificuldade que tenha, até nas pequenas atitudes do dia a dia, como pegar xícaras no armário. Posso até quebrar algumas, mas faço só, sem solicitar ajuda. Penso dessa maneira estar crescendo, tentando conseguir o que hoje não consigo, mas que, com esforço, certamente conseguirei um dia.

Nos pequenos detalhes da vida é que as pessoas podem ver com clareza suas dificuldades, seus defeitos, que certamente são iguais ou até maiores que os de outras pessoas, motivo pelo qual, antes de falarmos dos outros, devemos sempre fazer um auto julgamento, nos olhar em profundidade, para não nos colocarmos na posição tão ridícula como a de quem se sente "professor de Deus".

Independentemente do grau de instrução e da posição social, há pessoas grandes ou pequenas espiritualmente. Conheço pessoas menos instruídas, de classe social inferior, que são bem maiores do que outras mais cultas, porém pequenas, insignificantes mesmo, tanto que não conseguem sequer enxergar o próprio tamanho.

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