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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Inflação: falando curto e grosso

Por Klauber Cristofen Pires

Depois que você lê von Mises é que você percebe como os outros economistas são confusos.
Olavo de Carvalho



Inflação é expansão monetária. Inflação é mais e mais papel impresso pela casa da moeda. Deu pra entender? Portanto, se você andou lendo naqueles livros consagrados de Economia  - inclusive alguns que são a estrela-guia dos concursos públicos - que a inflação consiste em um processo de aumento generalizado de preços, tome tento da lição simples e precisa de Ludwig von Mises: o aumento de preços é apenas um dos efeitos da inflação, resultante da percepção da expansão monetária pelos agentes econômicos. Ora, uma doença e seu sintoma não podem ser confundidos, embora se relacionem.
 
Apenas para pormos um pouco de lógica com o fito de falsificar de vez tal conceito, basta pensar que em um cenário de moeda estável um aumento no preço de determinados produtos fatalmente teria de ser acompanhado por uma diminuição do preço de outros, já que as pessoas abdicariam destes para eleger aqueles como os seus prioritários. Isto nada mais é que o reconhecimento real do princípio fundamental da Economia, qual seja, a de que vivemos em um mundo com recursos escassos.
 
Porém, tal como no famoso samba em que o sujeito recomenda à mulher botar mais água no jeijão porque chegaram mais visitas, o estado vai assim tornando mais ralo o valor do nosso dinheiro - em suma, confisca nossa propriedade, e por isto é tão certeira a sentença que diz ser a inflação uma forma escamoteada de tributação.
 
Quando o estado imprime dinheiro para contratar mais funcionários públicos ou para pagar-lhes aumentos salariais, dá impulso ao aumento dos preços, porque estes terão mais dinheiro para comprar a mesmas coisas que estão no mercado, em competição com os demais cidadãos, sem terem contribuído para produzi-las. Praticamente o mesmo efeito se dá com todos os outros tipos de gastos, dependendo do efeito mais ou menos produtivo que estes representem.
 
Quando todos os empresários, cada um de per se, se dá conta de que há um aumento na demanda por suas mercadorias ou seus serviços, naturalmente os preços aumentam de acordo com a lei da oferta e da procura, e como um segundo efeito vêm então, com igual razão, as reivindicações trabalhistas e os aumentos de aluguéis, aí já a desencadear um ciclo vicioso e empobrecedor, já que os aumentos de preços não se produzem linearmente.
 
Em recente notícia divulgada pelo site Noticias Agrícolas, os produtores argentinos estão estão interrompendo as vendas de grãos em protesto contra a política de cotas de exportação estipulada pelo governo de Cristina Kirchner criada justamente sobre pretexto de conter uma onda inflacionária da qual ela própria é a causadora.
 
No Brasil, temos sentido uma forte escalada nos preços que todos, como sempre, temos percebido muito corretamente nas gôndolas e nos boletos das escolas, dos aluguéis e dos serviços públicos ser maior do que a divulgada pelo governo. Não tardará que a Presidente Dlma Roussef vista a máscara de administradora severa a apontar o dedo em riste para a classe empresarial e apontá-la à população e à mídia como a culpada pela incúria da herança maldita de que é legatária de si mesma. No vácuo, surgirão mais medidas oportunistas de cerceio à liberdade e à propriedade privada - lembrem-se dos ficais do Sarney.

2 comentários:

  1. Klauber:

    Apesar da idéia de que a inflação é causada pela expansão monetária, esta expansão, hoje em dia, é só marginalmente causada pelo aumento na quantidade de moeda circulante, porque o papel moeda é parte menor no volume de transações ocorridos numa economia. Os títulos emitidos pelo governo, como forma de compensar o déficit corrente nas contas, assim como o dinheiro que entra na economia na forma de outras moedas também são fatores que causam pressão inflacionária na economia. Por outro lado, esta pressão pode ser mascarada, e de fato é, pela abertura comercial: uma vez que se permite a entrada de produtos estrangeiros, que aumentam a oferta frente aos nacionais, pode-se ter uma expansão monetária combinada com uma manutenção no preço dos bens e serviços.
    Paul Krugman escreveu um texto outro dia criticando o simplismo de alguns economistas que resumem a inflação e o processo inflacionário apenas a uma questão de emissão de papel moeda.

    Abraço.

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  2. Caro Fernando,

    Publiquei o seu comentário, e aqui faço algumas observações:

    Tenho um dos livros de Paul Krugmann em casa, mas sem querer cair na generalização, este autor é um dos favoritos das esquerdas, keynesiano de carteirinha e adepto do endividamento público como motor da economia.

    Permaneço com a idéia miseana: os aumentos de preços refletem somente a percepção da expansão monetária pelos agentes econômicos. Embora hoje em dia haja novas formas de meios de pagamento, tais como as transferências bancárias eletrônicas e os cartões de crédito, todas elas ainda derivam do papel-moeda à disposição do público, e tanto é que que você pode cobrar e ser cobrado para receber ou pagar com dinheiro em espécie.

    No caso dos cartões de crédito, os gastos parcelados ainda assim precisam ser pagos com dinheiro futuro, de modo que uma pressão atual sobre os preços tem de necessariamente vir acompanhada de uma depressão no consumo futura.

    A emissão de títulos pelo governo apenas representa um item a mais nas contas de despesas, este sim o principal causador da inflação, e a abertura dos mercados somente exerce alguma influência em uma economia até então fechada, para depois se estabilizar.

    Logicamente, hoje em dia nenhum país abriga mais moedas conversíveis e a desvalorização - muitas vezes forçada - delas próprias também contribui para causar esta confusão.

    De fato, o artigo buscou uma simplificação para o leitor leigo, para compreender as coisas no seu âmago: inflação não é causa, mas a consequência de uma só causa: expansão monetária causada pelos governos por conta de gastos excessivos.

    Abs,

    Klauber

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