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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Mais outra da "ditadura da portaria": MPE/PA persegue açougueiros!

Por Klauber Cristofen Pires

Sob o título Açougues continuam ignorando portaria leio a notícia veiculada pelo jornal Diário do Pará de que muitos açougues da periferia de Belém expõem carne à venda sem refrigeração, em desobediência a uma portaria que a matéria não informou, suscitando ainda a promessa do Ministério Público Estadual de realizar ações futuras "mais duras". Francamente, o que eu esperaria deste órgão é que fosse mais duro com os bandidos...
 Bom, antes de discorrer sobre este assunto, vou acrescentar aqui outra notícia também publicada em um dos grandes jornais de Belém, qual seja, a de que mais de 70% dos crimes de assassinato na região metropolitana resultam silenciados, e deixo para os próprios leitores, a seu juízo, fazerem a correlação...

A ditadura da portaria simplesmente não tem fim! E quem ó o seu público-alvo? Gente que trabalha e produz, as mais das vezes gente pobre e humilde. Há séculos que se vende carne em açougues sem refrigeração e isto não tem constituído necessariamente um problema.

Para ser mais exato, trata-se mais de barraquinhas de feiras, que comercializam o produto do dia, e isto para consumidores os quais muitos deles também não têm refrigeradores e freezers em casa. É gente pobre vendendo para gente pobre. Dada a impossibilidade de conservar seus produtos em frigoríficos, estes vendem, como direi, segundo o método "just in time", e acreditem, existe aí um fator de diferenciação de mercado, pois conforme divulgado pela matéria, há mesmo consumidores que prefiram a carne assim, por conter um sabor mais agradável do que a carne refrigerada. Querem saber? Eu concordo. Sou um cara chato neste assunto e sei como ninguém detectar uma comida com gosto de congelador ou de frigorífico. Ademais, o gelo que conserva a carne é o mesmo que a estraga, pois os cristais agem como facas cortando as fibras e a deixando com um aspecto sem consistência.

Há também quem tenha uma particular preferência por carne "maturada". O leitor sabe o que é isto? A carne maturada  é mais macia e possui um sabor mais agradável, portanto constitui-se em uma iguaria de preço mais alto do que a fresca, e embora hoje as que encontramos embaladas nas gôndolas dos supermercados e açougues mais finos sejam produzidas por outros processos mais modernos, a origem da carne maturada, ou usando um termo mais simples, "amadurecida", deriva justamente de deixá-la avançar um pouco em seu processo de deterioração (claro, sem que se torne apodrecida de vez).

Até aqui, estou apenas exibindo conhecimento geral, porque na verdade, nada disso importa. O que importa é que deve e pode muito bem competir ao consumidor escolhê-la e decidir se vai levá-la pra casa ou não. Afinal, é isto o que fazem: eles olham e escolhem a carne ali mesmo no local, à luz do dia. E não é só a carne: em todo o estado do Pará, o pescado também é vendido em mesas ou lonas estendidas sobre o chão, muitas vezes dispostas justo em frente aos barcos pesqueiros. Trata-se de um costume regional, e digo mais: da minha infância como catarinense de nascimento que sou, muitas vezes presenciei a venda de peixe e de cações expostos diretamente sobre a areia da praia. Curioso, mas lembro-me também que a criminalidade naquele tempo era muito menor...

Talvez você, leitor, tenha um padrão de vida tal que o permita comprar carne especial em um bom açougue, e se escandalize com o que estou defendendo aqui. Tenha em boa consciência, contudo, que tudo isto tem um preço pelo qual você pode e decide pagar. Eu mesmo prefiro comprar a picanha sem a camada de nervuras que jaz abaixo dela e que os supermercados em geral a mantém, e aceito pagar mais caro por isto em açougues mais selecionados. Todavia, se eu ou você declararmos que todo estabelecimento deva ser obrigado a proceder assim, então estamos sequestrando o direito de escolha das outras pessoas para substituí-los pelos nossos próprios.

Absolutamente e de forma tão escancarada que salta aos olhos, já há muito trabalho para o Ministério Público - seja o Federal ou Estadual - se ocupar, e refiro-me aqui a gente que faz o mal e que pratica crimes com vítimas: assassinatos, roubos, sequestros e por aí vai afora...

 Medidas proibitivas não resolvem o problema da escassez, mas tão somente deixam as pessoas com poucos recursos sem opção, que no caso, será abdicar de adquirir carne. Os pobres cidadãos que compram nestas feiras poderão muito bem migrar espontaneamente para os bons supermercados e açougues ou os próprios feirantes adquirirão freezers quando o governo parar de tungar-lhes a renda e os empregos por meio da alta tributação e da absurda intervenção regulamentatória.

Um comentário:

  1. Caro Klauber, bastante lúcido seu artigo. Lembrei do que aconteceu há pouco tempo aqui no interior do Acre.

    Havia uma única distribuidora de água potável na cidade, que foi interditada por ação do MP porque não atendia às "normas técnicas".

    Sem água para comprar e beber, a população ficou à míngua, dependendo da boa vontade daqueles vizinhos ou amigos que tinham poço artesiano, já que ninguém se atreveria a tomar a água provinda do abastecimento público.

    Compadecido, o dono de um posto de gasolina localizado numa das avenidas mais movimentadas da cidade resolveu instalar torneiras para oferecer à população gratuitamente a água potável do poço artesiano de seu estabelecimento.

    Boa parte da cidade ia lá buscar água.

    Adivinha? O MP também agiu de forma a suspender o fornecimento de água potável gratuita à população, interditando as torneiras do posto de gasolina do empresário, sob a alegação de que a água era imprópria para o consumo.

    A população, então, se viu novamente sem água potável para consumir, uma vez que a única distribuidora fora fechada e o empresário que oferecia sua água gratuitamente, impedido de continuar a fazê-lo.

    Durante muito tempo, tivemos que contar novamente com a boa vontade de amigos e vizinhos que tinham poços artesianos em suas casas, até que, no fim do ano passado, a distribuidora de água voltou a funcionar.

    Agora, a mesma ação contra os açougues citada por você está também em curso por aqui, e por um motivo ainda pior: querem impedir estabelecimentos mais simples de vender carne caso não utilizem lajota branca em toda a parede do açougue, dentre outras "especificações téncnicas obrigatórias".

    Enquanto isso, o que é essencial resta cada vez mais em segundo plano.

    Abraço

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