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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Símbolos do Brasil: Brasília, lombadas e lombrigas

Por Klauber Cristofen Pires

Ah, Brasília! Creio que nenhuma capital do mundo deve caracterizar tão bem uma cidade de políticos e feita para eles mesmos. Exemplo de organização. Em nossa capital federal, por exemplo, se você quiser se hospedar em algum lugar, deve se dirigir ao setor hoteleiro. E se está lá, digamos, para resolver um problema em uma das autarquias, deverá se dirigir ao setor das autarquias. Viu? Tudo bem planejado. Tudo bem organizado por uma só pessoa ou um grupo de pessoas que assim decidiram que seria feito. Elas pensaram o melhor para os cidadãos e visitantes, segundo os mais avançados conceitos da arquitetura e da engenharia  de que dispunham.


Às vezes, alguns brotos de desorganização advindos da detestável iniciativa individual crescem, mais ou menos como as ervas daninhas que encontram lugar para nascer dentre os apertados vãos dos paralelepídedos ou entre as rachaduras do asfalto, mas, oras, lá está o estado para arrancá-las antes que cresçam, multipliquem-se e descaracterizem o sonho dos seus criadores. Refiro-me especialmente ao caso de diversos pequenos hotéis e pousadas cujos proprietários descobriram que tem gente que não acha tão legal assim deslocar-se pela cidade inteira em busca de um objetivo isolado: por exemplo, seria interessante estar hospedado em um hotel de onde se pudsse alcançar o local de trabalho a pé, bem assim como dali para uma farmácia, um cinema ou supermercado ou a loja de departamentos, enfim, o jeito desorganizado de ser de outros lugares onde a classe política não seja tão predominante.

Devido à peculiar organização da nossa sede política nacional, predominam dezenas - não (!) - centenas de  saídas, contornos e retornos, que as mais das vezes não levam literalmente a lugar algum, mas antes, a ainda outras pistas de manobras, formando todas elas o mais fiel retrato da mente de um político: uma enrolação sem fim. Graças ao sábio planejamento estatal, diariamente formam-se quilométricas serpentes de carros engarrafados para transportar os servidores públicos e demais trabalhadores dos setores habitacionais para os setores onde exerçem as suas atividades e à tardinha, para fazerem o caminho oposto.

Em La Spezia, um cidade importante do norte da Itália, certa vez pude contemplar em uma escala maior o que também se constata em muitas cidades brasileiras, sobretudo as menores: prédios cujos pavimentos térreos abrigavam casas de comércio, tendo nos andares superiores ou escritórios ou residências. Não me parece que aquele arranjo tenha sido previamente planejado, mas também a mim ocorreu de perceber que seus habitantes não passam a maior parte do dia em cansativas peregrinações e engarrafamentos, pela simples razão de que boa parte da população desloca-se a pé mesmo...

Mas vamos a outro símbolo pátrio: a lombada, ou quebra-molas. Em uma viagem de férias que empreendi reentemente pelo Nordeste, perdi a conta de quantas tive aturar: estimo que tenham chegado à casa do milhar. Mesmo nas rodovias fedeais, era andar trinta ou quarenta quilômetros, e ao avistar uma meia dúzia de casas, lá estavam elas, a imporem-se no meio do caminho, e vou dizer mais: todas, sem exceção, em desconformidade gritante com as especificações ditadas pelo atual código de trânsito! Recordo inclusive uma que, de tão íngreme, teve por mérito encalhar um extenso caminhão que carregava rolos de aço laminado!

Inconformes, descacterizadas e sem sinalização, e sobretudo, desnecessárias e inconvenientes de qualquer forma, as lombadas constituem um grave perigo ao trânsito pelas rodovias. Imaginem o desastre de algum condutor não as enxergar e passar por elas mesmo que, digamos, a meros 60 km/h? Em muitos casos, as rodovias adentram nas cidades, obrigando os viajantes a desfrutarem do "prazer aventureiro" de compartilharem do trânsito do centro com os moradores locais, entre semáforos, buzinadas e a busca por um retorno redentor depois das mal-afortunadas tentativas de encontrar a saída. E dizer que nos EUA você pode atravessar de uma costa a outra em meros três dias. É de lascar!

A lombada é a mais fidedigna materialização no asfalto do arcabouço cerebral do brasileiro para todas as outras coisas da vida: colocar um obstáculo para atrasar a vida dos outros e se possível, causar-lhes algum prejuízo.  

Enfim, tal como li na página do dileto amigo Aluízio Amorim, blogueiro de Santa Catarina, que lá denunciou haver uma quase epidemia de doenças relacionadas ao trato intestinal pelo período das férias de verão, também testemunhei o mesmo com amigos que visitei em Fortaleza, assim como igualmente veio a sofrer a minha filha. Resumo da ópera: salvo algumas cidades brasileiras, e mesmo assim parcialmente, não existe nenhum tratamento de esgoto e todas as praias, mesmo as que se dizem próprias para o banho, estão potencialmente infectadas com toda a sorte de coliformes. Depois reclamam que o turismo não progride. Só para lembrar: Quem mesmo está a cargo do tratamento de esgoto? Ah, é o estado, ...né?


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