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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Atenção: na prancheta, o “controle social do fisco”

Por Klauber Cristofen Pires




O significado do termo “controle social” não é o de exercer um controle pelo povo, mas sobre o povo. Controle social é controle “da” sociedade, não controle “pela” sociedade. Este futuro órgão, se vier a ter existência, arrostar-se-á a acabar de vez com qualquer resquício de autonomia estadual e municipal, bem como marginalizará toda e qualquer opinião alheia da sociedade, ao avocar para si a legitimidade para substituí-la a pretexto de “representá-la”.






Prezados leitores,

Todos os dias questiono a mim mesmo sobre o meu tempo que estou sacrificando a escrever para um número de leitores que é muito valoroso, inteligente e até mesmo exigente, mas que no cronômetro do jogo, ainda é muito pequeno. Entretanto, quando olho para a minha filha e penso no horror dos que vivem em Cuba, e agora na Venezuela,  Bolívia, e outros países sul-americanos, sinto lá dentro de mim que não há mais nada no mundo que valha a pena a fazer. Quem sabe eu consiga inspirar alguém - sim, que seja uma só pessoa - mais talentosa, esforçada ou “popular” que compre a idéia de que temos de retroceder neste caminho rumo a um estado totalitarista e faça a hélice da liberdade girar.
Poucas coisas ainda me surpreendem, dado o rumo que conheço estar tomando o nosso país, mas nem por isto deixam de me entristecer. A cada dia, brotam do solo muito mais órgãos, decretos e portarias do que grãos e frutos. A cada dia, vamos deixando de viver os nossos projetos e concepções de vida, para nos submetermos ao que o estado gigantesco nos impõe. Nós não estamos vivendo mais as nossas vidas, mas a vida do estado. E como há poucos que se dão conta disto!
A nova onda do imperador, sabem qual é? Chama-se “controle social do fisco”! Sim! E sabe de quem partiu esta idéia magnífica? Dos próprios servidores dos diversos órgãos fiscais do país, representados por seus respectivos sindicatos, desde o federal aos estaduais e quiçá, alguns municipais. Acredite se quiser, mas há quem diga – desde dentro destas instituições de arrecadação - que é necessário que exista uma instituição estatal que zele pelos interesses dos cidadãos e combata os excessos daqueles mesmos que propõem a sua criação. Bizarro? Sei lá...
O que sei é que nenhum conselho estatal do que quer que fosse eu vi dar certo e zelar com maior eficiência o patrimônio da sociedade do que ela mesma por seus próprios meios. Por exemplo, no Sistema FGTS, um Conselho Curador decide onde serão investidos os recursos deste fundo, que nos últimos 20 anos tem se provado como o mais do que pior investimento que um cidadão particular poderia fazer por conta própria. E isto acontece porque uns poucos sabichões passam a decidir sobre o dinheiro de cada uma de todas as outras pessoas. Caso elas pudessem por si mesmas fazer suas aplicações, elas poderiam se juntar em clubes de investimentos, e aplicar este dinheiro em necessidades da sociedade mais urgentes e rentáveis, de acordo com tendências reais do mercado, e não de acordo com políticas públicas pré-estipuladas á margem da realidade e da razão. Além disso, mesmo quando não fossem tão felizes, poderiam ao menos trocar de agentes e de bancos, o que não é possível fazer com um grupo cujos participantes elas não escolheram e sobre cujas decisões elas não podem dar nenhum voto ou veto.
No meio jornalístico, o governo passado – cujo partido ainda está no poder - tentou várias vezes emplacar o que denomina de “controle social da mídia”, termo pomposo e até à primeira vista democrático mas que encerra em sua novilíngua (leiam Orwel, 1984) tão somente a vontade tirânica de manipular de um órgão que represente (e substitua) a verdadeira liberdade de expressão, esta que eu mesmo faço uso neste momento para vos dirigir estas palavras, para em seu lugar impor uma censura mais severa até do que se viu nos regimes totalitários do Século XX.
E quanto aos tais “orçamentos participativos”? Por acaso, alguém algum dia recebeu uma convocação do TER para comparecer às urnas munido de sua cédula eleitoral para votar em algum projeto municipal de forma amplamente participativa? A verdade é que sempre estas assembléias já traziam as coisas decididas para serem tão somente chanceladas por um público militante emocionalmente excitado a aprová-las.
Em uma sociedade madura, o controle social, e vejam bem, de qualquer coisa e não somente para efeitos tributários, dispensa órgãos de tutela e ainda mais, arrepia-se só de ouvir falar de tais instituições.
Em uma sociedade livre e responsável, o “controle social” é exercido pela vigilância difusa dos homens e mulheres egrégios, pelos grandes formadores de opinião, pelos institutos de pesquisa, os “think-tankers”, pelas organizações não-governamentais voltadas para a transparência e gasto públicos, pelo jornalismo livre a ativo, e por que não dizer, pelos partidos políticos. Até mesmo por um ilustre qualquer um, como um Francenildo!
Iludem-se os que defendem um órgão de controle esterno do fisco por visualizarem aí uma composição paritária e legitimamente representativa da sociedade: mesmo que nascesse com as suas cadeiras preenchidas pelos anjos mais celestiais da Bíblia, em pouco tempo o governo já os teria todos em suas mãos. Na melhor e mais esperável das hipóteses, um tal “Conselho” seria formado por representantes de empresários, do governo, de algumas ong’s de contribuintes e por servidores de carreira dos órgãos fiscais.  A presidência, claro ficaria com o governo, como são todas as composições semelhantes. Os representantes dos empresários seriam os que já vivem e convivem nas comitivas do Air Force 51; composto de uma gente que não se importa com o alto índice da carga tributária nem com a prolixa burocracia pelo só fato de que justamente se beneficia delas, sob um processo que já denominei há tempo de “dumping tributário-administrativo”. ONG’s? São os maiores chupa-cabras de tão ilustre elenco. Como se vê, sobram apenas os servidores fiscais a defender a nação por seu indubitável patriotismo e senso de dever.
O significado do termo “controle social” não é o de exercer um controle pelo povo, mas sobre o povo. Controle social é controle “da” sociedade, não controle “pela” sociedade. Este futuro órgão, se vier a ter existência, arrostar-se-á a acabar de vez com qualquer resquício de autonomia estadual e municipal, bem como marginalizará toda e qualquer opinião alheia da sociedade, ao avocar para si a legitimidade para substituí-la a pretexto de “representá-la”.
Sei que no momento em que faço esta crítica estou a contrariar as estratégias do sindicato do qual faço parte como associado, e que visam conquistas de outras naturezas, mas não tenho como aceitar fazer parte desta empreitada por entender que nem todos os meios são válidos para alcançar-se um objetivo qualquer. Toda ação que deseje ser permanentemente bem-sucedida e gozar de boa reputação deve buscar o bem nos princípios, nos meios e nos fins. Eu não pretendo delegar mais poder ao estado sob nenhum pretexto, nem retirá-lo da geração seguinte. Prefiro ser um frentista de um posto de gasolina num pais livre e próspero do que  mais um burocrata com uma estrela no peito para dizer sim a tudo o que o estado total me dita. Se a vida vale a pena ser vivida, devo vivê-la eu, e não o estado. 

3 comentários:

  1. Prezado Klauber, não sei se fará qualquer diferença chegar ao seu conhecimento que na proposta defendida pelo Sindireceita para o "controle social" da Receita Federal, ou o como prefiro chamar Conselho de Gestão da Receita
    Federal, não tem nada haver com as políticas de Cuba ou Venezuela, muito ao contrário, tem haver com democracia participativa, com transparência administrativa, com a sociedade exercendo diretamente o controle de seus interesses legítimos.

    Que autonomia é essa que desrespeita o bom contribuinte, que o trata como bandido até que prove o contrário? Que autonomia é essa que leva 04 ou 05 anos para lhe devolver o seu imposto de renda que "caiu em malha" mesmo você tendo toda a comprovação das despesas? Que autonomia é essa que leva quase uma década para dirimir conflitos administrativos-tributários? Que autonomia é essa que pratica descaradamente o desvio de função causando enormes prejuizos ao erário público com ações milionárias para servidores que vão em busca dos seus direitos (caracterizando improbidade administrativa)? Que autonomia é essa que permite que se legisle (função do Congresso Nacional) por instruções normativas ou portarias? Não meu amigo Klauber!! Com todo respeito que tenho por sua pessoa e seus argumentos, estes não conseguem arranhar á sólida intenção de se promover mudanças dentro de um dos maiores órgãos da Administração Pública brasileira.

    Recordes mensais de arrecadação e declarações via internet mascaram a verdadeira face de um leão, que, como já disse antes, mais parece um cágado peludo. O que se esconde atrás dessa pirotecnia é o excessivo número de obrigações acessórias aos contribuintes o que encarece seus custos. É falta de transparência das ações de fiscalização. É a falta de um código de relacionamento fisco-contribuinte. Enfim, é o respeito pelo contribuinte e por todos os outros servidores públicos dedicados que asseguram as vitórias (de Pirro) dessa casa, que vem sendo conseguidas a duras penas e você sabem muito bem disso.

    E para você saber que nossa proposta não está pronta e acabada mas contemplará sim a participação de pessoas indicadas pela:
    1) RFB
    2) Ministério da Indústria e Comércio
    3) OAB
    4) Ministério Público Federal
    5) Ministério da Fazenda
    6) MPOG
    7) Congresso Nacional
    8) Representantes dos trabalhadores
    9) Representantes de ONG's ligadas á area da Administração Tributária
    10)Controladoria Geral da União
    11) Outros ainda a serem definidos.

    Compare a formação proposta com outros "Conselhor de Gestão" que você conhece ou outras experiências públicas conhecidas e veja que a ideía não é outra que não a de melhor traçar e gerir os rumos da Receita Federal. Ela terá toda a autonomia para bem exercer seus objetivos institucionais, com transparência, respeito ao contribuinte e aos servidores que dela fazem parte.

    A proposta será apresentada e debatida por toda a sociedade e em seus mais diversos nichos representativos. Isso, ao meu sentir, não tem nada haver com Cuba ou Venezuela meu caro Klauber!

    É a possibilidade concreta de se discutir novos rumos para um órgão da importância e magnitude da Receita Federal. Hoje na arrecadação, quem sabe amanhã na fiscalização dos gastos do Governo Federal? Se hoje, no Brasil, se considera a carga tributária alta é porque o retorno à sociedade não atende às expectativas de tamanha arrecadação (900 bilhões em 2010).

    Klauber, precisamos marcar um tempo para conversarmos, atualizarmos nossas divergências, já que, provavelmente, em que pesem argumentos prós e contras, não nos convenceremos de uma ou outra idéia, mas é sempre salutar e agradável debatê-las com alguém de sua formação. Um abraço!

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  2. Caro Klauber,

    Creio que o companheiro Tales é sincero e coerente nas suas colocações, no seu papel sindical.

    O verdadeiro dilema aqui é: Como conciliar a defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada com ações patrocinadas pelos interesses de sindicatos de funcionários públicos?

    Praticamente todo ano temos greves de funcionários da RFB, nas quais os grevistas alegam buscar o interesse público (só pode ser piada, e de mau gosto).

    Pra mim, os dois são, em essência, mutuamente excludentes.

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  3. Prezado "Anonimo", antes de mais nada aproveito para agradecer os adjetivos (sinceridade e coerência) atribuidos a mim e que sempre persigo em minha vida.

    Na verdade, prezado comentarista, os servidores da Receita Federal(AFRFB e ATRFB) não fazem um movimento paredista desde 2005.

    Todo sindicato de trabalhadores busca em primeiro lugar "aumento de salário" e em essência é para isso que eles existem, o bem estar de seus filiados. Alguém tem dúvida disso?

    Mas existem sindicatos sérios, como o Sindireceita, que entre os interesses paroquianos, buscam sim finalidades públicas em suas reivindicações. Melhorias quer sejam dentro dos órgãos que militam, quer sejam para a sociedade.

    Campanhas contra a pirataria ou em propostas como o Conselho de Gestão da Receita Federal e Código de Relacionamento Fisco-Contribuinte, sem qualquer tipo de retorno direto a esta ou aquela categoria são posicionamentos que costumo chamar de "além do umbigo".

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