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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Começou a bolivarianização do Brasil: ANP vai controlar o álcool e Petrobras vai entrar em processo gradual de estatização do setor

                                            Por Klauber Cristofen Pires
Sua cota de álcool, depois
 da estatização
 do mercado pela Petrobras


A recente escassez no abastecimento de álcool (recuso-me a chamá-lo de "etanol") tem proporcionado à Sra Stela a propícia condição de aproveitar a crise criada pela sua própria gestão para justamente desferir dois golpes marcantes no bom funcionamento do livre mercado: passará o controle da comercialização e da estocagem do álcool para a ANP e colocará a Petrobras para participar mais intensamente da cadeia da produção, com a meta de triplicar de 5% a 15% sua fatia no mercado até o fim deste mandato presidencial, a concorrer em pé de franca desigualdade com o empresariado. Seguindo a estratégia militar soviética do ataque em pinças, enquanto a primeira ficará encarregada de sabotar a concorrência, a segunda virá para estatizar o setor.

O álcool tem uma história a contar: lá pelos idos nos anos 80, uma grande campanha promovida pelo governo como parte de uma política de substituição de importações lançou o programa do álcool, constituída de generosos incentivos aos usineiros, especialmente os nordestinos, a ser distribuídos e gerenciados pela imaculada Sudene.

Eram tempos difíceis aqueles. O petróleo constituía o principal item de importação, sobrepujando sozinho todos os demais produtos e causando grande impacto na balança comercial, a exercer forte pressão desvalorizadora da moeda e causadora de inflação. Não que tudo devesse ser obrigatoriamente assim, mas as políticas de então geravam este tipo de resultado.

De qualquer forma, havia, de fato, sim uma crise internacional do precioso líquido, e o Brasil buscava por meio da iniciativa estatal alguma solução alternativa, que no caso, veio pelo Proálcool. O programa teve relativo sucesso, a ponto de a frota de veículos de passeio movida ao biocombustível ter quase chegado a cem por cento da produção. Entretanto, como dizem, o inferno é cheio de gente de boas intenções, e o empreendimento teve o seu calcanhar-de-Aquiles atingido pelos rombos das dívidas impagáveis dos usineiros, resultantes de uma combinação de preços controlados, concessões de créditos mal-administradas, falta de liberdade comercial e também por muitas fraudes.

Com a derrocada deste malogrado arranjo, crises sucessivas de abastecimento do álcool foram frustrando severamente os consumidores, que foram assim retornando ao consumo da gasolina. Ainda me lembro razoavelmente bem do tom jocoso que um certo ministro empregou para dar a solução rogada pelo repórter à constante escassez do produto: "- em casa, temos dois carros, um a álcool e o outro a gasolina", então quando um dos dois está em falta, eu uso o outro". Disse isto de forma acintosa e debochada, como se fosse algo muito simples e trivial, isto é, como se cada brasileiro tivesse mais de um carro na garagem. Agradeço a quem vier recordar a mim e aos demais leitores o nome deste ilustre cretino.


Há que se adiantar a isto que até então a própria indústria automobolística gozava de uma espécie de oligopólio e em decorrência deste fato agia como se vender um carro fosse um favor prestado ao consumidor, daí ter entregado ao "mercado" autênticas carroças (Sim, FCM tinha razão) com uma qualidade tal que a adaptação ao motor a álcool era feita com materiais pouco resistentes à corrosão e o ato de efetuar a partida era extenuante, com sucessivas falhas e a exigir que os motoristas ficassem vários minutos para "esquentar" o seu automóvel antes de tirá-lo da garagem.

Enfim, um belo dia, a história do carro a álcool simplesmente desapareceu, com proálcool e tudo...
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Alguns anos mais tarde, partindo do zero, alguns empresários de São Paulo começaram a reviver a produção alcooleira com a finalidade de oferecer uma alternativa à pior gasolina do mundo, que não por acaso ainda é fornecida por uma empresa estatal.  Foram crescendo, no vácuo do preço do combustível fóssil, e desta vez em estreita sintonia com uma indústria automobilística renovada pela abertura do mercado, que passou a aferecer a fantástica tecnologia "flex", tanques, dispositivos e dutos bem resistentes e além disso, partidas instantâneas a qualquer tempo e o pronto desempenho do motor mesmo nos dias mais frios.

Tudo isto aconteceu sem sem planos mirabolantes, sem reservas de mercado, sem linhas de financiamento privilegiadas, enfim, sem nenhuma "ajuda" estatal. Somente o mercado pelo mercado, e quem não quisesse, que continuasse com seu carro a gasolina.

Pois, eis que em um momento quando novamente o álcool está na dianteira, o governo cresce o olho!

Desde então, foram retomadas as políticas públicas de acompanhamento de preços, de controle de estoques, enfim, do controle sobre as áreas de plantio, com especial prejuízo para os agricultores amazõnicos, só para atender à sugestão do Sr Fidel Castro, Al Gore e Bill Clinton, que saíram à rua com o trombone na mão para protestar que a atividade que consome somente 1% da área de plantio utilizada estava roubando espaço para a produção dos alimentos!

Enfim, o governo Lula e agora, o governo Dilma, tão sedizentes preocupados com o preço e com a garantia do abastecimento, estão conseguindo proporcionar aos consumidores novos períodos de prolongada escassez e de remarcações seguidas.

A bolivarianização do Brasil já vem seguindo um longo e suave cronograma, e agora começa a dar os seus desfechos práticos, afinal. Quem até aqui estava cochilando, acordará com tickets de racionamento à moda de como hoje acontece na Venezuela.

Um comentário:

  1. Saudações, respeitável, vaticinando com lucidez. É isso, sinto que muitos não tenham o privilégio da informação para chegar a transformá-la em conhecimento.
    Mandou bem, como sói acontecer.

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