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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Carta de um militar à revista Carta Capital

Escrito pelo Coronel Reformado Jorge Alberto Forrer Garcia

Senhor LEANDRO FORTES, repórter da revista Carta Capital. Sobre reportagem


de sua autoria na edição n° 668, de 19 de outubro de 2011, gostaria de


levar ao seu conhecimento que se segue:







Uma vez que o senhor leu, mesmo que por alto, esse Manual de Campanha que


tanto detrata em sua reportagem, deve então saber que seu trabalho


enquadra-se na técnica de propaganda conhecida como “propaganda


divisionista”. Isto é, um textozinho que se mostra indisfarçável na sua


intenção de atingir os militares, com o intuito de afastá-los ou


indispô-los contra a sociedade. Por isso, divisionista.






Usando uma técnica de contrapropaganda que senhor conhece, vou tentar


rebater ponto a ponto , parágrafo por parágrafo, as insanidades por você


escritas, mas sei que, como nas tantas outras reportagens do estilo dessa


sua, que nem novidade é, será gastar muita pólvora com tico-tico.






Começo pelo fim. Quando o senhor desconsidera o Centro de Comunicação


Social do Exército (CCOMSEx) que teria terminado uma nota à sua revista com


o que o senhor considera como uma ameaça, saiba (sim, porque o senhor


provou que não sabe) que o que ali está dito nada mais é do que um


parágrafo do Decreto nº 4.553, de 27 de dezembro de 2002 (Dispõe sobre a


salvaguarda de dados, informações, documentos e materiais sigilosos de


interesse da segurança da sociedade e do Estado...) assinado pelo então


presidente Lula. Diz o Decreto: Art° 37 – Parágrafo 1°... “Todo aquele que


tiver conhecimento, nos termos deste Decreto, de assuntos sigilosos, fica


sujeito às sanções administrativas, civis e penais, decorrentes da eventual


divulgação dos mesmos.” e Art° 65 “Toda e qualquer pessoa que tome


conhecimento de documento sigiloso, nos termos deste Decreto fica,


automaticamente, responsável pela preservação do seu sigilo.”






Portanto senhor jornalista, não se trata de ameaça, senão do cumprimento do


que a lei preconiza. Caso o senhor não goste da lei, vá queixar-se a quem a


fez e a sancionou, e não venha com insinuações de baixo nível para cima de


quem a cumpre.






Quanto ao título de sua reportagem – caso o senhor tenha realmente estudado


o manual, como os militares que, por dever de ofício o fazem, trata-se de


uma “generalização brilhante”, pois emprega a palavra “nós” para iludir


seus leitores. O senhor não tem procuração minha para falar em meu nome e,


certamente, no nome de tantos outros brasileiros. Ao dizer “Nós, os


inimigos”, o senhor peca novamente, por generalizar indevidamente. Eu,


assim como tantos outros brasileiros, não me considero um inimigo do


Exército.






Quando o senhor emprega erroneamente o conceito de “Forças Adversas”,


deveria ter procurado saber que esse conceito veio justamente para acabar


com a antiga expressão “inimigo interno”, antigamente usada para referência


às forças citadas no manual e que tem potencial para perturbar a lei e a


ordem. Como devia ser de seu conhecimento, a Constituição de 1988 atribuiu


como uma das missões das Forças Armadas “a garantia da Lei e da Ordem.”






Então, cabe aos militares estudar o adversário, sob pena de prevaricar de


seu dever de estarem sempre preparados para cumprir com seus deveres


constitucionais. O senhor como cidadão, o que diria se as Forças Armadas,


particularmente o Exército, fossem chamadas a cumprir seu dever e fossem


“apanhadas com as calças na mão”?






O manual ao que o senhor se refere não foi classificado internamente como


“Reservado”. Ele foi classificado como manda a lei, ou seja, como manda o


Decreto a que já me referi. No meu entender, acho até baixa a classificação


sigilosa que lhe foi atribuída de “Reservado”. Caberia muito bem a


classificação “Confidencial”, o que lhe restringiria mais um pouco a


circulação. Talvez assim, jornalistas tendenciosos e mal informados como o


senhor não tivessem acesso ao documento. Saiba que a classificação


“Reservado” foi atribuída para facilitar a circulação “interna corporis”.


Porém, como em outras profissões, como a sua por exemplo, existem os maus


militares e – com toda a certeza – foi um desses que lhe facilitou o acesso


ao manual.






Saiba que se for para defender a Pátria não incomoda aos militares serem


chamados de paranoicos. Não mesmo. O que interessa aos militares é cumprir


a missão. Quanto a existirem movimentos sociais, ONG e órgãos


governamentais com inspiração adversa ao País como pátria e nação, somente


um ignorante pode admitir que não existam. Pelo fato dessa minha carta ser


destinado ao senhor, deixo de citar algumas dessas organizações, mas o


senhor, que se considera esperto, deve admitir que elas existem. Certos


países, bem mais desenvolvidos que o nosso, continuam adotando a expressão


“inimigos internos” (“...foreign and domestic enemies...”). O Exército,


para ser coerente com a evolução social do País, adotou a expressão “Força


adversa”, deixando a “Força oponente” apenas para os “foreign”, ou seja,


para os inimigos estrangeiros.






Quanto ao manual ter sido aprovado por um oficial-general chefe do


estado-maior do Exército, espanta-me partir de um jornalista esta alusão.


Talvez quisesse o senhor que um manual desse nível fosse aprovado pelo


“cabo das baias”? Mas no Exército não é assim. No Exército é: “A cada um


segundo seus méritos. A cada um segundo suas responsabilidades.” E não


passou desapercebida a exploração totalmente desnecessária que a revista


fez da imagem de um familiar do General. Qualquer “zé mané” em edição


gráfica saberia recortar a foto e publicar apenas a imagem do


oficial-general, que, aliás, desfruta de elevado respeito na Força e das


pessoas que com ele trabalharam.






O senhor goza de igual respeito senhor jornalista?






Quando o senhor fala de “expediente vetado a arapongas militares desde a


Constituição de 1988”, vê-se que nem a Constituição o senhor conhece, pois


não há nada nela que trate do assunto. Quando seu textinho fala de


“política de infiltração de agentes de inteligência militar em organizações


civis, notadamente movimentos sociais e sindicatos...”, saiba que não


existe política nenhuma a esse respeito. A conclusão esdrúxula é de sua


total responsabilidade, tentando enganar seus leitores. O senhor mesmo ao


reproduzir parte do manual com alusão a essas palavras e ações, diz que se


trata do “4-6 Medidas de Contra Espionagem”, quais sejam, medidas que podem


ser adotadas para evitar a espionagem adversa ou oponente. Seria o senhor


jornalista tão ingênuo que achasse que o Brasil ou uma instituição nacional


como o Exército estariam infensos à espionagem? Deixo de falar pelo Brasil,


por não me sentir seguro para tal, mas saiba o senhor que o Exército já foi


alvo de tentativas de infiltração por integrantes de “forças adversas”,


como o crime organizado, por exemplo, ou, no seu entender, o crime


organizado não pode ser chamado de “força adversa”?






Sobre o uso do que preconiza o manual para orientar ações disciplinares


contra oficiais da Força, queria que o senhor soubesse que as Forças


Armadas dispõem de outro manual muito eficaz para essa finalidade que é o


Regulamento Disciplinar. O manual que o senhor tropegamente explora apenas


diz os cuidados que se deve ter para com o chamado “inimigo na trincheira”,


alusão àqueles militares que, desajustados na profissão, passam da posição


de lealdade para a de verdadeiros agentes de forças adversas: tornam-se


informantes de alguns órgãos, tentam inverter a cadeia de comando, tentam


criar hierarquias paralelas, ou envolvem-se com corrupção. Ou, no seu


entender, pessoas que agem assim não podem ser chamadas de “elementos


adversos”?






Quando o senhor faz referência à Escola Superior de Guerra, dá outra prova


de total ignorância sobre o que está tratando, uma vez que a ESG nada tem a


ver com o manual. Desafio-o a encontrar uma só referência à ESG no corpo do


manual. A ESG trabalha numa outra esfera de atribuições, tão importantes


que não lhe deixa tempo para tratar de um manual de campanha do Exército.


Como se diz “no popular”, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra


coisa.






Em seguida, esse jornalista, consoante o tom divisionista que adota em todo


o seu textinho, procura mostrar que foi a Carta Capital que levou ao


conhecimento do Ministro da Defesa e existência do manual de Contra


Inteligência e que o ministro – nada além de sua obrigação – consultou os


comandantes militares a respeito. Repito, se fez, fez apenas sua obrigação.


Ou esse jornalista acha que a cada ministro da defesa que assume, tem-se


que dar conhecimento a ele de todos os manuais que as Forças usam? No


Exército existem manuais que ensinam como conduzir um cavalo à mão, como


ajustar o tiro de Artilharia por combatente de qualquer arma, como calcular


cargas de explosivos para trabalhos de engenharia, outro sobre toques de


corneta e clarim. Será que o ministro terá interesse em saber o que mais


consta deles? Deixar de regular a sua atividade profissional, para uma


Força Armada é prevaricar. Quanto ao fato de o manual ter sido distribuído


à Marinha e à Força Aérea, o jornalista, se tivesse estudado o assunto


antes de escrever besteiras, saberia que é uma prática comum entre as


Forças Armadas trocar entre si manuais doutrinários sobre assunto que seus


respectivos órgão geradores de doutrina julguem serem de interesse mútuo.






Esse jornalista faz referência a Pandiá Calógeras como se ele representasse


a submissão dos militares ao poder civil, quando, na verdade, pelo menos no


âmbito do Exército, Pandiá é tido como um dos melhores ministros da guerra


que a Força teve. Até hoje existem espalhados pelo Brasil quartéis


construídos num formato padronizado no tempo de Pandiá Calógeras. Não


importa se o ministro é da guerra ou da defesa. O que importa é que ele


entenda para que existem as Forças e as respeitem quanto ao seu emprego. Já


tivemos ministros que nem sabiam a diferença entre um blindado e um


carro-forte.






Caso o senhor tivesse lido e entendido o texto do manual, sem a intenção de


explorar trechos fora do contexto, teria observado que no capítulo sobre a


Contraespionagem, no que se refere à Segurança Ativa, está-se tratando da


espionagem numa das acepções da palavra, a que trata da espionagem


estrangeira no Brasil, de modo a orientar os militares brasileiros sobre o


modo como, via de regra, os serviços de Inteligência estrangeiros atuam...


e o senhor, como jornalista, deveria saber que eles atuam exatamente como o


ali descrito. Ou o senhor imagina que um adido militar em serviço no Brasil


vem para cá somente para admirar nossas belas paisagens? Eles recrutam


brasileiros e depois os infiltram onde querem. Sobre controle da Imprensa,


saiba o senhor que, infelizmente, essa própria reportagem sua será lida


pelos adidos militares em serviço no Brasil e será por eles repassada a


seus países de origem, com comentários sobre a insistência da Imprensa


brasileira em atacar suas Forças Armadas com a clara intenção de afastá-las


da sociedade e aqueles adidos que não conheciam o manual certamente agora


vão procurá-lo completo, para conhecer como funciona a contra inteligência


do Exército. Quer dizer, o senhor como jornalista brasileiro acaba de


prestar um duplo desserviço para com seu próprio País. Aproveitando, a


respeito do acompanhamento de militares estrangeiros no Brasil, imagine


que, certa vez, pousou, em uma cidade importante, à noite, um avião militar


estrangeiro. Um militar desceu e imediatamente tomou um carro alugado que


estava à sua espera. Foi direto para Anápolis/GO. Anápolis/GO abriga a base


aérea responsável pela defesa aérea do Planalto Central do Brasil. Ainda,


como há algum tempo atrás não se fizesse esse acompanhamento, quando ele


foi reativado, descobriu-se, em outra cidade importante, um oficial de país


estrangeiro que estava há seis anos no Brasil. Tinha até montado uma


empresa em bairro nobre da cidade. Isto, da parte do Exército, não é


espionagem. É acompanhamento.






Quando o manual fala em “público interno”, incluindo pessoal da ativa, da


reserva, reformados e familiares de todo esse grupo, não se trata de


incluir civis no sistema de Inteligência e sim delimitar o universo de


pessoas que são influenciadas e influenciam de forma mais direta nas


decisões da Força. Imagina o senhor que, por exemplo, uma restrição ou


modificação inesperada no sistema de saúde do Exército não virá a


influenciar a todos, inclusive os da ativa? Posso lhe dar outro exemplo:


minha filha cursava o primário num colégio particular em São Paulo. Certo


dia, a classe dela foi realizar um passeio de van. Sabe aonde o colégio a


levou? Para a frente da 36ª Delegacia de Polícia. E sabe o que foi dito


pela professora às crianças? Que ali funcionara um centro de repressão da


ditadura e era onde muitas pessoas tinham sofrido torturas. O senhor veja


só senhor jornalista. Crianças de curso primário. É lógico que minha filha


ao chegar em casa questionou-me a respeito. Isso a torna uma “agente de


Inteligência” sem missão definida, no dizer de suas palavras? A esposa de


militar da Reserva, ambos com idade avançada, recebe um encaminhamento


hospitalar para uma organização civil de saúde e lá ambos são destratados e


mal atendidos. Ele vai ao hospital militar que o encaminhou e faz uma


reclamação contra a clínica. Isso os torna “agentes de Inteligência” sem


missão definida? O que ele está fazendo nada mais é do que defendendo o


Sistema Exército, dando conta um contrato mal cumprido por uma das partes.






Reconhecendo que não devo ter o alcance intelectual desse jornalista, não


consigo entender o enfoque que o senhor dá à expressão “público externo”.


Se o outro universo foi definido como público interno, o há de errado em


considerar as pessoas que estão fora desse grupo de público externo? Até


onde eu sei, o que não é interno é externo.






Entenda que – historicamente – o Exército sempre esteve ao lado do povo


que, por sua vez, sempre pode contar com ele quando precisou. Isso é


História senhor jornalista. O senhor precisa ler melhores livros. Por mais


que os livros de história modernos tentem deturpar a História, os livros


clássicos sempre ficam, a menos que alguém já os esteja queimando, como


fizeram os nazistas, e eu não saiba.






Novamente, o senhor se esmera em parecer pouco informado ao tentar


desclassificar a preocupação que a Força tem com a espionagem em suas


próprias fileiras. O senhor deveria saber que a espionagem é um fato, um


ato deliberado de quem quer alguma coisa. Até ladrões não partem para um


assalto sem colher o máximo de informações sobre seu alvo e, se possível,


procuram contar com as chamadas “informações internas”. O senhor saberia


dizer-me por que o Exército estaria livre desse tipo de ação? Hilário não é


o manual. Hilário é quem menospreza as medidas tomadas pela Instituição em


defesa de si própria. Agir diferentemente disso não seria, no seu entender,


prevaricar no exercício do dever?






Um agente infiltrado por uma ação de espionagem não tem nada a ver com


“inocente útil”, como o senhor afirma. Um “inocente útil” pode ser um


jornalista que, por meio de suas reportagens, esteja a serviço de uma


ideologia ou de grupos que o influenciam em suas reportagens em benefício


próprio. Este é o “inocente útil”.






Quanto ao Exército acompanhar seu público interno, não consigo ver onde


estaria o erro. Conto uma história: certa vez observou-se um militar que,


do dia para a noite, trocou seu “corsinha” 1.0 para um Toyota Camry.


Primeiro, procurou-se ver se ele tinha ganhado algum prêmio ou concurso.


Depois, verificou-se que ele financiara a compra do novo carro em


prestações, que, com seu soldo, ele não poderia pagar. A fonte do dinheiro


era sua esposa, que praticava fraudes na área do turismo. Então, senhor


jornalista, onde está o mal da instituição em proteger-se ao procurar saber


da cumplicidade de um seu integrante numa fraude rendosa?






Sobre a Contra Inteligência Interna, quando o senhor escreve que a norma


tem servido para enquadrar militares que caíram em desgraça dentro do


Exército, eu preferiria dizer “militares que se mostraram desadaptados à


profissão que escolheram” e o lembraria que a expulsão não é um risco. A


expulsão é um ato disciplinar previsto e quem quer agir de modo contrário


às normas vigentes assume o ônus por seu comportamento. Sobre o capitão ao


qual o senhor se refere não vou fazer outros comentários. Apenas, acho que


por ainda estar no serviço ativo do Exército, ele somente deveria se deixar


fotografar com a barba feita e não se deixar fotografar tendo como fundo


uma estátua de um militar. Quer dizer: provocação pura! E nem esse


jornalista deveria insinuar algo de anormal no atropelamento do militar,


dizendo que o carro que o atropelou jamais foi identificado. O Exército


ainda não tem a função de controlar as ruas da cidade. É possível que ainda


venha a ter. Afinal... é tanta missão fora da sua destinação


constitucional. Sobre as estórias do capitão, sugiro que esse jornalista


consulte os inquéritos a respeito. Caso algum deles tenha alguma


classificação sigilosa, não se intimide em descumprir a lei, publique-os. A


lei que protege documentos aos quais foi atribuído algum grau de sigilo não


tem importância para o senhor, no melhor estilo: “ A lei? Ora, a lei!”






Em seguida o senhor volta à questão das “forças e/ou elementos adversos”.


Senão vejamos. Para uma Força que tem a destinação constitucional de


garantir a lei e a ordem, não é lícito conhecer quem:


-pratica ocupação e invasão de áreas públicas e/ou privadas: o senhor


desconhece que isso aconteça em nosso País quase que semanalmente?






- bloqueio de vias de circulação: são índios cobrando pedágios ou queimando


pneus em vias federais. São movimentos sociais ocupando praças de pedágio,


causando atritos com as autoridades, sendo necessário o uso de armas de


fogo.






- promoção de greves em setores essenciais: o senhor mesmo cita a recente


greve dos correios. O senhor como um cidadão brasileiro, não julga que, num


exercício de pensamento, caso a greve dos correios persistisse, não


faltaria um gaiato para pedir que o Exército Brasileiro, por sua


capilaridade em todo o território nacional, assumisse a entrega da


gigantesca demanda acumulada? É possível, pois veja: já somos chamados a


distribuir água no Nordeste, patrulhar o Morro do Alemão, a ser guardas de


parque na Marambaia, a vacinar cachorros, combater focos do mosquito da


dengue, a combater incêndios em Roraima...por que não entregar cartas? Por


fim, nesse parágrafo, por sua própria conclusão, cita um movimento social


como “inimigo”. Outra vez lanço o desafio para que esse jornalista mostre


no manual onde está escrito que o Exército tem esse movimento social como


“inimigo”. A inferência e o uso dessa palavra é totalmente sua, provando


sua má-fé no trato do assunto.






Quando esse jornalista trata do Terrorismo, aí então, outra vez, demonstra


seu total desinteresse em informar seus leitores, senão o de atingir a


credibilidade de uma publicação de responsabilidade do Exército. Caso, mais


uma vez, o senhor tivesse lido com atenção o manual, na parte que se refere


ao Terrorismo, teria observado que certas organizações seriam sim


consideradas terroristas se, e tão somente se, recorressem a atos


terroristas para provar suas ideias. Como fizeram os palestinos durante


muito tempo, como fizeram os militantes contra o aborto nos Estados Unidos,


como o fez por muito tempo o Sendero Luminoso no Peru, como fazem as FARC


na Colômbia. Todos são movimentos sociais, mas recorreram a atos


terroristas. E mais, o senhor como jornalista interessado nesses assuntos


deve saber o motivo de – até a data de hoje – o Brasil não dispor de uma


lei antiterrorista. Sabe por quê? Por que as autoridades não se entendem


sobre a definição de “organização terrorista” pois, a serem considerados os


conceitos universais de organização terrorista, certo “movimento social”


como o senhor escreve teria de ser enquadrado naquela definição. E aí como


é que fica? Como em tantos outros assuntos, as autoridades preferem fechar


os olhos. Não há lobby do Exército para a aprovação uma lei antiterrorismo.


O que o Exército quer é conhecer o oponente, senão, como combatê-lo? A


exemplo de outros países, pode sim ser necessária uma legislação especial


para poder-se dar combate aos terroristas. Haja vista os Estados Unidos


que, imediatamente após os ataques terroristas de “11 de Setembro”,


instituiram o chamado Ato Patriótico, uma lei de exceção no melhor estilo.






Mais uma vez o senhor se esmera em descontextualizar o texto do manual ao


escrever que ali está dito que, se necessário, controlar os meios de


comunicação, já que a decisão de difundir deve estar centralizada no mais


alto nível da Força. Aqui admito que o texto do manual quis dizer uma coisa


mas transmitiu outra ideia. Está-se falando de atividades terroristas. O


assunto assumiu tamanha importância depois do “11 de Setembro” que a


consequência foi uma severa preocupação com esse tipo de atividade. Daí a


necessidade de não se reportar alarmes que, depois, podem mostrar-se de


menor significação, alertando ou até causando pânico na população


desnecessariamente. Quanto ao verbo “difundir”, quero crer que as pessoas


que escreveram o texto usaram-no na acepção que ele tem na Inteligência, ou


seja, dar conhecimento a agências externas ao Sistema Exército. Não fosse


assim, as agências de Inteligência mais periféricas do Sistema de


Inteligência do Exército poderiam sentir-se livres para difundir –


regionalmente – possíveis dados sobre ações terroristas, com consequências


que poderiam não ser as desejáveis.






No que diz respeito ao Estudo de Situação de Contra Inteligência, no que


diz respeito ao campo político, volto a dizer, se esse jornalista tivesse


tido o cuidado em contextualizar as coisas talvez pudesse ter transmitido


aos leitores o espírito do que ali está escrito. Imagine o senhor se um


oficial ou sargento vai comandar uma organização militar em alguma cidade


de médio ou pequeno porte sem inteirar-se das características políticas do


local. Ele poderá ser instrumentalizado pelas forças no poder, poderá ser


envolvido em rixas entre grupos, é possível que venha a sofrer coações ou


se tente influenciá-los, para o bem ou para o mal. Existem cidades que amam


seus quartéis, já em outras, conforme a localização do quartel em área de


elevado valor imobiliário ele pode ser alvo de campanhas para a sua


transferência para área menos valorizada. Sobre o conhecimento que se deve


ter sobre as organizações de trabalhadores na área de interesse da


organização militar, como os sindicatos, pelo senhor citados, imagine o


Comandante de um quartel localizado no ABC Paulista, ao avaliar sua área de


atuação, deixar de considerar a força representada por aquelas entidades.


Alguém que vá comandar um quartel incrustrado numa área indígena tem, por


obrigação, saber como a FUNAI, por exemplo, atua na área e quais as ONG ali


atuantes e que desrespeitam as leis brasileiras. O que de errado há nisso?


No meu modo de ver, isso é “agir profissionalmente”.






Encerrando, apliquei nessas minhas considerações algumas das técnicas que o


senhor mesmo alude no seu textinho. Procurei desacreditá-lo, procurei


colocá-lo em posição de inferioridade e, acima de tudo procurei, usando a


técnica de rebater ponto por ponto, ridicularizar essa sua peça de


propaganda ideológica. Uma técnica que eu não usaria nesse caso seria a do


“silêncio”, mesmo sabendo que a reportagem de hoje embrulha o peixe de


amanhã.






Eu, como militar da Reserva tenho a prerrogativa de manifestar a minha


opinião, o que é vedado ao pessoal da ativa. Mas isto não quer dizer que


falo por eles. Falo por mim e sou o único responsável por tudo o que


escrevi.






Muitas instituições nacionais e estaduais, com certeza, mais de quinze,


procuram absorver os conceitos do Manual de Contra Inteligência do


Exército, por julgarem-no muito bem elaborado, e copiam dele procedimentos


que lhes podem ser úteis.






Qualquer país estaria orgulhoso se seu exército dispusesse de semelhante


manual. Mas, aqui no Brasil, o que se quer é atacar o Exército nas coisas


que ele tem de melhor. Uma delas, o seu Serviço de Inteligência.






Sr. LEANDRO FORTES. Não sei se o senhor é mais novo ou mais velho do que


eu. Caso seja mais novo, aceite um conselho: não ponha a sua pena a serviço


da ideologia. Se for mais velho, ainda dá tempo de estudar a História do


Brasil nos livros antigos que o senhor ainda deve ter.






Escrevi essa carta aberta em respeito à minha condição de militar da


Reserva e em homenagem aos oficiais mais novos, da ativa, para que não


esmoreçam diante da propaganda divisionista de que somos alvo, quase que


diariamente. Saibam que esse tipo de reportagem nos acompanha há cerca de


30 (trinta) anos e, ao contrário de nos dividir, só tem fortalecido o


sistema de Inteligência do Exército. Ou melhor, do Exército não. Do Brasil,


pois o Exército pertence ao Brasil.






Jorge Alberto Forrer Garcia Coronel Reformado

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