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terça-feira, 25 de outubro de 2011

PERIGOS INFUNDADOS NAS ENCOSTAS E BEIRAS

O autor do artigo que apresentamos hoje é o Dr.Fernando Penteado Cardoso, engenheiro agrônomo pela ESALQ-USP. Administrador e empresário rural foi fundador e presidente da Manah S/A - Fertilizantes e Pecuária de Corte. Foi também Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo. Depois que vendeu a Manah fundou e presidiu a Fundação Agrisus - Agricultura Sustentável, de iniciativa de sua família. As lúcidas conclusões a que chega neste artigo, que agradarão com certeza nossos leitores, fazemos nossas.
 
Fernando Penteado Cardoso*
Extraído do Paz no Campo

Desde os primórdios da agricultura no Brasil, quando era inexistente a disponibilidade de fertilizantes, os agricultores perceberam que as terras mais férteis coincidiam com as encostas das serras, o que é explicável pela origem geológica desses solos.

Outro motivo da preferência pelos declives era o menor risco de geadas, pois os danosos bolsões de ar frio se acumulam nas áreas planas, sejam nas baixadas ou nos espigões.

Antigamente o controle das invasoras se fazia a enxada e as capinas morro acima eram mais fáceis, mas resultavam escorrimentos que lavavam a terra em prejuízo da fertilidade.

Alguns agricultores formaram cafezais e outras culturas alinhados em nível, com sulcos ou camalhões nas entrelinhas para proteção da erosão. Mesmo assim os resultados nem sempre eram satisfatórios nas plantações mantidas “no limpo” por capinas continuadas.

Mais recentemente, o recurso dos herbicidas e dos fertilizantes, completados pelas roçadeiras, tratorizadas ou costais, tem permitido manter as encostas íngremes permanentemente recobertas de vegetação, com controle satisfatório da erosão e com melhoria da fertilidade. É o sistema de plantio direto.

Os equipamentos motorizados de roçada, de adubação e de pulverização sobem e descem bem os morros, mas funcionam mal quando inclinados lateralmente nas plantações em nível. A mecanização vem justificando o plantio em linhas retas independentes das curvas de contorno.

Na terrível tromba d´água de Teresópolis observou-se que as encostas revestidas de gramíneas desde o topo (pastagem)  foram menos vulneráveis do que onde havia vegetação de mata. A água escorria pela superfície sem impregnar  e saturar o solo até o pondo de ruptura da coesão, quando se torna semi fluido, pastoso e lamacento, em estado de areia movediça, deslizando morro abaixo por ação da gravidade.

A erosão nas encostas não é mais problema devido à proteção oferecida pelo plantio direto e pelas gramíneas permanentes, semeadas de propósito, controladas por roçadas.

Resta analisar a utilização das margens dos rios, córregos e lagoas.

Preliminarmente cumpre admitir que não está comprovado, por aferições in loco, que a vegetação arbórea é indispensável para proteger os barrancos marginais dos cursos de água e das lagoas, assim evitando erosões.

Nas regiões de terras fracas  de campo ou cerrado as margens são abertas, sem qualquer vegetação original arbórea, salvo onde houve deposição marginal de solo fértil, quando, então, formaram-se as matas ditas ciliares. Tradicionalmente, só eram cortadas pequenas áreas dessa vegetação para plantio de cereais.

Nas zonas de terra fértil a mata nativa chegava até as margens dos rios, córregos e lagoas e as aberturas nem sempre respeitaram a vegetação das beiras, seja porque as queimadas as atingiam, seja porque continham ervas tóxicas para o gado, seja ainda para proteção humana no combate ao anofelino da malaria.

Nas áreas de margens originalmente abertas ou desmatadas não se constatam desbarrancamentos, erosões e outras alterações explicáveis pela falta de vegetação alta.  Pode ser verificado por observações de sobrevôos e das fotos espaciais.

Há ainda a considerar a perda de área produtiva que pode chegar a 20% no caso de córregos separados de 300 m p.ex. quando as terras são “bem servidas de água”. A perda será menor nas áreas mais secas, de riachos afastados, as quais, paradoxalmente, poderiam se tornar mais valorizadas pelo menor desperdício de terra agricultável.

Os urbanitas pouco afeitos às lides do campo, ainda que bem intencionados, podem ficar tranqüilos: a agricultura moderna dispõe de recursos para melhorar e conservar o solo nas encostas íngremes.

Outrossim, a inexistência de vegetação arbórea nas margens dos cursos e depósitos de água, não prejudica o ambiente nem a segurança do produtor. Os renques ribeirinhos podem, quando muito, apresentar uma bela paisagem, especialmente se mirada com olhos de pássaro.

Os milhares de km de margens desnudas dificilmente, - talvez nunca-, virão a ser arborizadas face aos custos envolvidos com cercas laterais, combate à formiga e às pragas,  preço das mudas, serviço de plantio e replantio, capinas ou roçadas por um ou dois anos, tarefas a executar na condição de pouca mão de obra, própria da atividade pecuária e da agricultura mecanizada.

No Brasil, enormes áreas mais declivosas e ao longo dos cursos de água produzem milhões de toneladas de alimentos – arroz, café, frutas, hortaliças, etc. – trazendo tranqüilidade e bem estar às populações das nossas cidades.

O mundo aproxima-se de uma fase de escassez de alimento em que se propõe um aumento de 40% na produção de cereais no Brasil. Obrigatoriedades de menor importância podem dificultar e restringir a produção de grãos que o mundo espera de nosso país.

Cumpre, nessa contingência, remover restrições burocráticas e ideológicas para que a garra dos produtores venha a alcançar sua plenitude, como tem sido plenamente demonstrado pelo país a fora.

*Eng. Agr. Sênior, ESALQ-USP 1936, após sobrevôo de observação a NO de Alta Floresta/MT.

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