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domingo, 27 de novembro de 2011

A FESTA DE NATAL


Dizia-me o meu interlocutor, que a expansão dessas “Igrejas”, ditas evangélicas, mas que muito pouco têm do Evangelho, deve-se aos líderes usarem linguagem chã, despretensiosa e quantas vezes astuciosa. Bem diferente das verdadeiras Igrejas Evangélicas.

Por Humberto Pinho da Silva



Em véspera de Natal, descia em companhia de jornalista do “L’Osservatore Romano”, que na época residia no convento anexo à Basílica de Santo António, a via Merulana, em direção à Praça Maria Maggiore.

Tinha ido a Roma visitar amigo, irmão do venerando Francisco.

Vínhamos animados, a conversar sobre o efeito nefasto de algumas seitas, que proliferam pelo Brasil, e provocam, nas mentes menos esclarecidas, verdadeiras lavagens cerebrais.

Dizia-me o meu interlocutor, que a expansão dessas “Igrejas”, ditas evangélicas, mas que muito pouco têm do Evangelho, deve-se aos líderes usarem linguagem chã, despretensiosa e quantas vezes astuciosa. Bem diferente das verdadeiras Igrejas Evangélicas.

Ao entrarmos na via Liberiana encaramos com grupo de estrangeiros: eram brasileiros e vinham acompanhados por padre franciscano, de ascendência alemã, conhecido de meu amigo.

Após as saudações e o contentamento de toparmos, no centro da Cidade Eterna, com a nossa gente, gente que fala a nossa língua, alguém, aproveitou para contar história, que ouvira numa assembleia cristã, já que estávamos em plena quadra natalícia.

Considerei-a bastante oportuna e merecedora de profunda reflexão. Por isso apresento-a, mais ou menos como a ouvi:

Numa paróquia de povoazinha do interior do Estado de Santa Catarina, andavam todos em lufa-lufa, na preparação da festa natalícia. As catequistas e grupo de jovens, haviam preparado pequena peça teatral, intercalada com leituras bíblicas e muitas canções apropriadas à época.

O salão, que era amplo, foi alegrado com brilhos, flores purpurizadas, e vistosas bolas, de variegadas cores, e no proscénio havia lindas avencas e sambambaias, em cascata.

Encantoado, entre panos brancos e azuis, estava um presépio em cascata, e ao centro, dormia o Menino, nu, de madeira pintada, bem agasalhado em mantilha branca.

Tanto o salão como o presépio estavam mergulhados em penumbra, que mal permitia divisar o grupo de crianças, que sentadas no chão, tagarelavam em ruidoso murmúrio.

Para espanto dos petizes, destacou-se do negrume, uma figura quase translúcida, que lentamente aproximou-se das crianças.

Assombradas com a súbita aparição, emudeceram.

Tony, o mocinho mais espigadote e reguila, ganhando coragem balbuciou:
- É Jesus! …É Jesus! …É Jesus! …

Foi então que a Gé, ousou falar:

- O que queres!? Vens trazer-nos brinquedos?!

Erguendo-se num ápice, a sapeca Lili, dispara:

- Eu queria a boneca que vi na rua do Conselheiro Mafra e a consola que o bazar do Centro Comercial, vende.

Jesus, atento, mas silencioso, toma expressão de bondade.

Tomé, vendo que Jesus nada trazia, declara irado:

-Não Te quero! …Não Te quero! …Vens visitar-nos no Natal e não trazes nada!? - E rematou com a frase que ouvira ao pai: - “A religião é o ópio do povo!”

O semblante de Jesus apagou-se de tristeza, e carinhosamente, abrindo os braços num gesto de ternura, sussurra:

- Eu sou o “presente”! Trago-vos a Minha paz! Dou-vos o Meu Amor!

Mal tinha acabado de falar, iluminou-se o salão e o leitor de Cds, que estava dissimulado por cortina de veludo, jorrou canções natalícias.

Em alegre procissão, a multidão entra na sala e apressasse a buscar os melhores lugares.

Adiante, rodeado de crianças que tangem palminhas de felicidade vinha o Papai Noel, vestido de encarnado, com longas e falsas barbas brancas, que escorriam-lhe para o peito; falsas como a neve do presépio.

Sobre os ombros trazia agigantado saco, repleto de brinquedos e guloseimas.

Explodem as palmas e sorriem os rostos. A festa de Natal vai começar…

humbertopinhosilva@sapo.pt

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