Ainda Belo Monte: a mansidão da razão contra a ira da ideologia

Revista Veja: A razão e a calma dos estudantes se sobressai no desmonte das falácias do vídeo do Gota D'Água.

Por Klauber Cristofen Pires

Prezados leitores,

Foi com imensa satisfação que adquiri um exemplar da edição nº 2246 da revista Veja, de 07 de dezembro de 2011. Trata-se, indubitavelmente, de um momento histórico. Merece ser guardada como uma relíquia. A capa faz deliciosa remissão à reportagem bem elaborada que consagra a resistência democrática que está se consolidando na internet.

Como tenho dito, mentir tem ficado cada vez mais difícil. Foram-se os tempos em que rostos de “celebridades” faziam prova mais que suficiente de uma alegação. O Brasil está aprendendo a pensar e a discordar. Aqui encaminho os parabéns aos moços e moças sérios que formularam com muita classe e propriedade as objeções que se tornaram conhecidas por quase cinco milhões de internautas (e que prometem ser conhecidas por muito mais gente, com os préstimos da Veja), e pedir licença para mencionar os méritos indiretos de todos os que têm participado da rede liberal-conservadora, também conhecida como a “resistência democrática”.

Em tempo, como certa vez muito bem ensinado pelo filósofo Olavo de Carvalho, tem sido a própria esquerda quem difundiu o mito de que atores e atrizes são altos representantes da cultura, quando na verdade, o ofício da representação traduz-se na reles reprodução mecânica de caras e bocas. Se neste momento alguém há de me perguntar o que a esquerda tem a ver com isto, só responderei a ela que repare nas roupas e na barba mulamba de Eriberto Leão, como se tivesse sido trazido de avião diretamente da Sierra Maestra para gravar o vídeo.

Eu digo mais: a representação em campanhas publicitárias é a prostituição da informação: pagou, falou. Que o diga a paraense Dira Paes, que sem pejo pôs-se a fazer coro com os demais atores e atrizes globais contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte no vídeo do Movimento Gota D'água, e simultaneamente, a favor da energia hidrelétrica em propaganda contra a divisão do estado do Pará, veiculada em âmbito estadual : “...o Pará só perde...perde os rios que mais geram energia...”. Haja óleo de peroba!

Convém a todos conhecerem do vídeo produzido pelo Movimento Gota D´Água, com a participação dos rostos belos e famosos da Rede Globo. Os sonsos que medirem a sua visitação vão crer que os números aumentados refletem adesões, mas isto não nos faz mal algum. Aqui neste momento eu só chamo a atenção dos leitores para o caráter subliminar da propaganda, que não se negue, foi bem produzida, com o uso de modernas técnicas de informação. É sobre isto que vou deitar a minha análise.

Percebam como o conjunto da propaganda almeja mais do que simplesmente convencer, ainda que com argumentos falaciosos. A tônica não está nas alegações, mas no poder persuasivo do constrangimento. Esta técnica de comunicação não é nova. De novo, o filósofo Olavo de Carvalho já nos advertiu sobre isto:

A mentira propositadamente inverossímil, propositadamente contrária aos fatos visíveis, é coisa totalmente diversa. É uma técnica psicológica já bem testada em seitas pseudo-religiosas e em regimes totalitários. Theodore Dalrymple resume-a com precisão: “No meu estudo das sociedades comunistas, cheguei à conclusão de que o propósito da propaganda comunista não era persuadir, nem convencer, mas humilhar – e, para isso, quanto menos ela correspondesse à realidade, melhor. Quando as pessoas são forçadas a ficar em silêncio enquanto ouvem as mais óbvias mentiras, ou, pior ainda, quando elas próprias são forçadas a repetir as mentiras, elas perdem de uma vez para sempre todo o seu senso de probidade... Uma sociedade de mentirosos castrados é fácil de controlar.” (Reforcei com grifos a parte mais importante)

Notem como a própria presença massiva de vários atores e atrizes globais foi pensada de modo a impor a popularidade dos famosos sobre o assunto e silenciar os eventuais discordantes como sujeitos catalogados como fora-de-moda, impopulares, nerds, esquisitos ou coisa parecida. Quem estaria disposto a discordar do Marcos Palmeira, tão bem reputado na mídia por sua militância conservacionista, e arriscar-se a tomar as vaias não dele, mas de suas tietes cabeças-ocas?

Avaliem também o tom desafiador de todas as falas. Confiram como estão muito longe de solicitar a compreensão do público sobre um fato sob bases educadas e racionais. Muito ao revés, o tom empregado é sempre o da ridicularização e do acinte.

Tem sido assim. Até há pouco. Ficou a desmoralização nacional dos que participaram daquela farsa do movimento Gota D'Água. Bem-feito: um artista que bem zela sua imagem deve pensar em avaliar com juízo sobre o que está a emprestar a sua imagem em apoio.

Ficou também a lição e uma próxima missão: rostinhos bonitos não querem dizer nada, e urge que a rede se mobilize contra uma grande campanha a ser veiculada pela rede Globo em prol da lei anti-homofobia. De novo, com a calma dos corajosos e a razão dos justos. Sapientiam autem non vincit malitia.