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terça-feira, 10 de abril de 2012

O pibinho da sexta economia mundial


Somos a sexta economia mundial, alardeou o governo, mas passou batido que em 2011 tivemos um pibinho de 2,7% e não os prometidos 5% do ministro Mantega. Foi de longe o pior PIB dos Brics, o mais baixo da América Latina, um fiasco completo diante da jactância oficial.

Maria Lucia Victor Barbosa

O ser humano tem necessidade de acreditar em alguma coisa que dê sentido à sua vida e, assim, se torna alvo fácil fácil de espertalhões de todos os tipos, sendo mais visíveis aqueles que transitam na esfera pública. Entretanto, a “ética da malandragem” não é monopólio de nenhuma classe social. É praticada tanto pelo indivíduo que vende ilegalmente terrenos que não lhe pertencem aos seus iguais favelados, quanto por empresários que praticam a “ética de mercado”, nome politicamente correto para a corrupção que se espraia como nunca em perfeita simbiose com a esfera pública.

Aliás, sempre houve o intercâmbio governo e elites econômicas, sendo que atualmente chefões mafiosos também mandam em altos escalões governamentais. A sucessão de quedas de ministros acusados de atos ilícitos no primeiro ano do mandato de Dilma Rousseff, que estariam ainda em seus cargos não fossem as denúncias feitas pela imprensa é prova do que aqui se afirma.

Outros ministros estão, como se diz, blindados. Estes podem navegar tranquilos em suas lanchas, singrando sem problemas o mar de lama da corrupção público-privada. Neste caso e no dos que caíram dos ministérios, mas seguem impávidos em outros cargos importantes, a impressão que se tem é a de que companheiros pairam acima da lei ou mantêm a lei a seu favor. Ingênuo, desinformado ou indiferente o povo acredita em faxina presidencial, está otimista quanto à economia e atribui 77% de aprovação à presidente cujo mandato até agora foi de um vazio absoluto. Algo, sem dúvida, politicamente surrealista.

Deve-se o atual estado de putrefação moral ao PT, que aos poucos vai solapando valores capazes de funcionar como bússola de condutas e impondo falsos valores atrelados ao seu projeto de poder. Ao mesmo tempo, a classe dominante petista vai centralizando cada vez mais poder no Executivo e levando a reboque o Legislativo e o Judiciário. Tudo está a serviço do Partido, o resto é coadjuvante. Sem oposição fica fácil ir aos poucos completando o domínio. E, se recentemente houve rebelião nas bases aliadas, um sucedâneo de mensalão pode refazer a completa dominação petista sobre o Congresso. Basta Lula da Silva chamar às falas sua pupila e cobrar dela o mesmo que fazia seu “companheiro de guerrilha”, José Dirceu.

Corrupção sempre existiu desde que Cabral pisou a Terra de Santa Cruz”, gritarão os militantes. “Nunca existiu mensalão”, dirão outros repetindo o ex-presidente que nunca deixou de presidir, “o que há é coalizão”. É verdade, corrupção que leva pelo ralo o dinheiro que devia ser destinado ao povo sempre foi praticada, só que agora está sacramentada, oficializada e é exercida com desfaçatez inédita.

Em estado de beatitude o povo aplaude e se regozija com a roubalheira que o prejudica, com os altos impostos, com a péssima situação da Saúde, como o baixíssimo nível da Educação.

Para tanto êxito dos antigos militantes éticos funciona a deturpação dos dados econômicos, o falseamento dos fatos. E, se “a estatística é uma forma nobre de mentira”, o marketing pode ser uma forma ignóbil de enganação.

Somos a sexta economia mundial, alardeou o governo, mas passou batido que em 2011 tivemos um pibinho de 2,7% e não os prometidos 5% do ministro Mantega. Foi de longe o pior PIB dos Brics, o mais baixo da América Latina, um fiasco completo diante da jactância oficial.

Na realidade cresce a inadimplência e o comprometimento da renda das famílias com o pagamento de juros e amortizações, o que deve frear de novo o PIB deste ano. O que faz o governo? Manda o povo comprar mais e para isso grita como um Sílvio Santos através do Banco do Brasil e da Caixa Econômica: “Quem quer dinheiro? Aqui temos crédito abundante e juros baixos. Os bancos particulares que nos sigam”. Será que já vimos um filme um tanto parecido em outro país, o que gerou a crise mundial?

Quanto à indústria Brasileira, que vem se desindustrializando por conta de questões como, entre outras, carga tributária, pesados encargos trabalhistas, custo do dinheiro, problemas de infraestrutura, escassez de mão-de-obra qualificada, foi agraciada com um pacote de boas intenções e exacerbação de medidas protecionistas que só fazem atrasar nosso possível desenvolvimento.

Quando Lula da Silva chegou à presidência na quarta tentativa herdou a herança bendita do Plano Real e navegou nas águas calmas da economia mundial, que só começaram a se tornar turbulentas em 2008. Rousseff herdou do seu mestre e de si mesma uma herança maldita e trafega em meio à crise mundial. O governo vai precisar de algo mais que encenações e enganações para que o PIB desse ano não seja um pibinho.

Título e Texto: Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, 09-04-2012

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