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terça-feira, 17 de abril de 2012

Porque o lucro é moralmente justo


Entenda porque o lucro é moralmente justo e porque deve ser livre!

Por Klauber Cristofen Pires

Já comentei entre os meus leitores sobre o caso de uma mãe que não se conformou com os preços das pipocas, refrigerantes e guloseimas que são vendidos em cinemas dentro de shopping-centers, a ponto de sugerir a intervenção do Ministério Público contra aqueles que, segundo seu entendimento, praticavam um crime contra a economia popular.
É muito comum que pessoas honestas, trabalhadoras e que realmente não apoiam os regimes socialistas acabem entrando em certas armadilhas lógicas. Isto demonstra uma certa falta de discernimento entre o público que somente um processo educativo pode resolver.
De fato, ao fazermos as contas, verificamos que um reles saco de pipoca em um destes estabelecimentos ultrapassa várias vezes o preço de um quilo de milho para pipoca e da respectiva quantidade de óleo, manteiga e energia, e daí o disparate. Assim é que as pessoas que se aliam a raciocínios mais estritos tendem a alimentar a convicção que o lucro é um roubo, desde que o vendedor toma para si uma parcela de riqueza que não é composta pelos seus custos. Além destas, há ainda outros cidadãos que se acreditam moderados, por concordar que um certo percentual de lucro pode ser aceito para fazer a economia funcionar, percentual este, no entanto, absolutamente arbitrado por eles próprios. Ora, onde pode haver senso de justiça por conta de um julgamento tão arbitrário e subjetivo, isto é o de estabelecer o quanto terceiros devem lucrar com seu trabalho?
Em uma sociedade livre, as trocas entre os diferentes indivíduos gera o fenômeno da especialização. A especialização é uma forma de organização da sociedade que produz mais resultados por indivíduo, mas tem o inconveniente de produzir excessos da coisa produzida e faltas das coisas abdicadas de serem feitas. Daí a dependência das trocas, que chamamos de comércio.
Imaginemos um sujeito que vamos chamar aqui de José e que pensando em economizar pode crer que pintar por conta própria a sua casa pode sair mais barato do que contratar um pintor ou uma firma de pintura. Afinal, ele pensa, deixará de pagar o lucro da gananciosa firma de pintura. Todavia, o que faz a empresa de pintura ter lucro é o fato de que os equipamentos de pintura são utilizáveis em outros trabalhos, assim como os restos de tintas e outros consumíveis; além, disso, contabilizemos sua experiência e conhecimento, de forma que produz seus serviços com melhor acabamento e em menos tempo. Ainda mais, recordemos que a firma de pintura também se especializa em comprar seus insumos junto aos fornecedores mais baratos, bem como aufere descontos mais vantajosos por comprar em maior escala do que o nosso amigo. Por fim, há de considerarmos o próprio tempo utilizado nas fainas por José, que perde dinheiro por não se aplicar em outra atividade produtiva.
Quando assistimos pela televisão a iniciativa de certos políticos populistas que inventam mutirões de construção de casas próprias, podemos compreender como é grave a doença econômica no nosso país, por causa dos altos impostos, das escravizantes burocracias e dos oligopólios formados por empresas que desfrutam benefícios privilegiados em um ambiente altamente pestilento para a concorrência, pois o esperável seria que qualquer cidadão espontaneamente comprasse sua casa ao invés de botar a mão na massa.

Todavia, mesmo em um país economicamente pervertido como o Brasil, certas vantagens advindas da especialização são espetaculares! Por exemplo, quem poderia construir com as próprias mãos um automóvel por um custo inferior, quiçá igual, ao que o adquire na concessionária? Pois pensemos igualmente com os eletrodomésticos, as roupas, os calçados e praticamente toda a gama de produtos industrializados...
Até aqui, creio ter demonstrado que o lucro, como resultado da especialização, não se incorpora no conceito de roubo, mas sim na parcela da troca que corresponde às coisas que o cidadão especializado deixou de fazer ao ter decidido produzir um só bem ou serviço. O lucro, então, é como um vale que seus compradores emitem, autorizando-o a ir buscar junto a terceiras pessoas aqueles outros bens e serviços que ele merece por ter produzido seu bem ou serviço não somente para seu próprio consumo, mas para usufruto pelos demais cidadãos.
A esta altura, temo que ainda reste à mentes mais renitentes a aceitação do lucro, desde que encaixado em um hipotético balancete de custos como critério para fiscalizar que a parcela representada pelo lucro não ultrapasse o custo total.
Com efeito, o que vai acima muito pouco convencerá aquela mãe no caso específico das pipocas dos cinemas em shopping-centers – e isto porque não há mesmo alguma comparação possível em termos de custos para a produção daquele bem pela própria mãe, em sua casa, ou mesmo comprando produtos equivalentes em paradas de ônibus e praças - anão ser, claro, os altíssimos custos de aluguel e condomínio naqueles conglomerados comerciais.
Porém, aqui se faz presente um outro princípio da sociedade de economia livre: a decisão sobre a aplicação dos recursos. Se não concedermos a ampla liberdade de lucro aos empreendedores, certos bens e serviços simplesmente jamais virão sequer a serem criados. O caso é que, se um órgão estipulasse que os cinemas devessem vender suas pipocas a preços iguais aos que se veem nas vias públicas, eles simplesmente desistiriam do investimento.
Mas não fiquemos somente aí. A arbitrária posição de alguém de estipular os preços de terceiros desconhece que se o negócio de vender pipocas em shopping-centers se mantém, não é por força ou vontade dos donos dos estabelecimentos, mas sim das outras pessoas que decidem patrocinar seus empreendimentos. Será moralmente justo eu proibir todas as pessoas que usualmente preferem comprar pipocas quentinhas na porta do cinema dos shopping-centers de usar o dinheiro delas como se lhes aprouver?
Há quem diga que comprar pipocas em cinemas de shopping-centers é um luxo. E digo: “meu amigo, você tem toda razão!”. Não obstante, o que tais pessoas que pensam assim devem apreender é que o luxo é uma poderosa ferramenta de democratização do uso, porque é o alto preço do luxo que permite patrocinar as inovações. Basta lembrar o luxo que já foi ter um horrível aparelho celular, nos primórdios de sua comercialização, quando uma linha custava algo como U$ 20,000.00 (vinte mil dólares). Não se assustem, isto foi há coisa de poucos vinte anos atrás! Como bem lembrado por Ludwig von Mises, utensílios tais como talheres já foram bens que somente se encontravam nas mesas dos reis! Eu ainda me lembro de meu pai pagar religiosamente por um consórcio para a aquisição de um aparelho de vídeo-cassete, quando hoje se adquire um reprodutor de DVD's por irrisórios cem reais ou menos.
Há ainda alguns casos em que persistem lucros extraordinários por artigos de luxo cuja tecnologia e acesso aos materiais de fabricação já se popularizou. É o caso dos artigos de griffe. Ora, estes comércios também se sustentam porque há pessoas que buscam diferenciais na moda que mais tarde vão se copiados pela indústria de massa. Seus clientes, então, agem como verdadeiros mecenas, por patrocinarem a arte.
Não obstante, pode ainda mesmo ser o caso de bens que não oferecem nada de mais. Neste caso, o diferencial não está no produto, mas nos próprios clientes. O que faz os potenciais clientes é o desejo de participarem do seleto grupo das pessoas que podem pagar por aquele bem. É preciso insistir que até mesmo aí se encontram vantagens para os clientes, que eles mesmos decidem sobre elas.
Todavia, nada disso obriga a ninguém. Eu mesmo adoro e admiro as coisas mais baratas que o capitalismo pode nos proporcionar, e me nego a pagar – por mais dinheiro que eu tenha ou venha a ter – por coisas que são muito eficientes, muito baratas e mesmo bonitas. Isto somos eu, você e todas as pessoas desfrutando das nossas liberdades. Não é melhor assim?

Um comentário:

  1. Seus argumentos são bem articulados mas são superficiais.
    Enquanto na verdade você justifica a concentração de renda, meios de produção e a exploração do capital especulativo por uma elite minoritária que explora o trabalhador sem distribuição justa de lucros.
    E com esse artigo me parece que isto é para o exercício da liberdade e bem social. Ou seja, o luxo de alguns é para o bem de todos? Realmente temos que aceitar isso?
    pseudo liberal que individualizam os lucros defendendo a iniciativa privada e quando suas empresas quebram, e geralmente por mal gestão, querem socializar os prejuízos recorrendo ao público?
    Quando a consumidora recorre ao Estado é absurdo??? E quando o banqueiro pede ajuda ao Estado???? Quando o tal empresário usa de subsídios, incentivos e infra estrutura providos pelo Estado????

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