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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Resposta a Luiz Fernando Veríssimo


José Gobbo ferreira, Coronel reformado do Exército, responde a um artigo de Luís Fernando Veríssimo, publicado no jornal
Zero Hora, 05/04/2012, pág.2)

Artigo no Alerta Total – http://www.alertatotal.net
Por José Gobbo Ferreira

“É difícil acreditar que não existe, entre os militares, uma corrente, ou talvez até uma maioria, que reprova a atitude dos clubes dos reformados das Forças Armadas em relação à Comissão da Verdade e ao esclarecimento final do que houve nos anos de rebeldia e repressão. Dos clubes militares, só se pode esperar bravatas vazias, mas ignora-se até que nível vai a mesma insubordinação entre os da ativa. 


Entende-se a resistência a remexer lama antiga, mas é impossível que se continue a sonegar à nação uma parte tão importante da sua história. E é impossível que ainda confundam preservação da honra da instituição militar com o silêncio e prefiram o estigma das ac usações nunca investigadas ao esclarecimento”(Luiz Fernando Veríssimo, Zero Hora, 05/04/2012, pág.2)

Prezado Senhor L.F. Veríssimo:

Em primeiro lugar quero deixar claro que considero uma honra entrar em contato com o senhor. As obras de seu pai foram uma referência inesquecível em minha juventude. Até hoje olho com carinho os lírios do campo e um certo Capitão Rodrigo me mostra a passagem do tempo e o soprar do vento em minha existência.

E o senhor é digno herdeiro dele. Escritor contemporâneo, prosa suave e agradável e uma verve maliciosa, suas crônicas são peças agradabilíssimas de se ler. Parabéns.

Apenas não consigo entender sua posição ideológica. E é por isso que ouso tomar seu tempo com este e-mail. O quanto gostaria que uma pessoa da sua estatura intelectual me explicasse como consegue acreditar nas falácias das doutrinas de esquerda! Elas não deram certo em parte alguma desse globo, custaram milhões e milhões de vidas, alimentaram o desejo de fugir em outras tantas, e mais mortes ocorreram na repressão a essas tentativas, desabaram irreversivelmente com o muro de Berlim, mas ainda existe quem se interesse por elas e as defenda. Isso que considero "difícil de acreditar". 

A Hungria, a Tchecoslováquia pagaram alto preço tentando se livrar do jugo soviético. Conheci a segunda no começo da década de 80. Namorei uma moça de lá. Minha namorada traduziu histórias assustadoras da boca de pessoas do povo, encantadas com um jovem brasileiro, moreno e exótico. Convivi, aqui no Brasil, com pesquisadores russos logo após a queda do muro. Tive a felicidade de estabelecer uma forte relação de amizade com um deles que me contou do passado que queria esquecer e do futuro que almejava para seu país. 

A revolução cultural na China, o massacre da praça da Paz Celestial, as estripulias sangrentas de Pol Pot. O paredón e La Cabaña (hoje aposentada) em Cuba. Aliás, por falar em Cuba, talvez o senhor já tenha estado lá, fora do status de visitante ciceroneado pelo governo. Depois de décadas de subvenção russa aquele pobre país só fez andar para trás. O povo, o verdadeiro povo, que poucos turistas se aventuram a conhecer, é infeliz e miserável. Os velhos ostentam uma fisionomia de tristeza e desalento, e não falam conosco (aliás, acho que nem falam mais...). As ruas populares cheiram a pobreza invencível, bolor, decadência e desesperança. U´a mãe nos oferece a filha adolescente por uns poucos pesos: "No se molesten señores. Tenemos hambre". Eu sei, eu sei que talvez tenhamos coisa parecida nas regiões mais pobres do país. Mas é diferente. Isso não é o Brasil, mas aquilo é bem Cuba.

Por isso me pergunto (gostaria de lhe perguntar): como se pode ser esquerdista? O que alguém sério e honesto, como suponho que o senhor seja, encontra de bom e útil nessas doutrinas? Se o senhor tiver tempo para isso, me responda, por favor. 

Quanto ao seu artigo, gostaria de lhe oferecer alguns esclarecimentos:

1. Não existe o tal "Clube dos reformados das FFAA". Cada força singular tem seu clube recreativo, esportivo e cultural, que são associações civis que congregam oficiais da ativa, da reserva e civis. Quando um manifesto dos presidentes dos Clubes Militares foi indevidamente censurado pelo governo, um grupo de militares lançou um outro, em repúdio a essa interferência. Até a última contagem que recebi, 1234 civis aderiram ao manifesto, em um total de 2683 assinaturas (não foi permitido que militares da ativa aderissem). Acredito que daí se possa inferir que os "reformados" não estão tão sozinhos assim.

2. Pode até ser difícil para o senhor, mas acredite que não existe entre os militares qualquer corrente signifi cativa contrária à posição dos clubes que o senhor chama de "dos reformados". O militar da reserva (ou reformado)de hoje é aquele que estava na ativa ainda ontem, e que foi o professor, o instrutor, o orientador e o comandante `(e às vezes é pai e/ou avô) dos militares da ativa de hoje e que deixou neles os mesmos princípios de ética, lealdade, patriotismo e devoção ao dever que ainda os impregnam durante a inatividade. 

Não sei onde o senhor viu qualquer insubordinação. Existe sim, uma unidade de pensamento entre os militares de diferentes gerações, manifestada dentro dos limites da lei por quem tem o direito de fazê-lo. 

3. Os Clubes Militares (agora sim, em sua denominação correta) não produzem bravatas, vazias ou cheias. Eles apenas expressam a opinião preponderante nas Forças respectivas. (Aliás, será que não seria mais correto o senhor escrever "...só se podem esperar bravatas...?)

4. Estou anexando uma carta que enviei à sua "irmã de crenças", Miriam Leitão, que explica a real posição dos militares sobre a tal comissão da verdade e que pode lhe tirar dessa confusão entre silêncio e honra. Quanto ao estigma das acusações, ele só existe graças à distorção histórica paulatinamente promovida pelos outrora derrotados no intento de implantar o comunismo no Brasil.

Por favor, entenda essa comunicação como uma troca de ideias entre pessoas educadas. Não faço proselitismo. Apenas lhe mostro minha posição e minhas dúvidas e gostaria de saber das suas. Talvez este e-mail chegue às suas mãos. Se chegar, pode ser que o senhor tenha a paciência de lê-lo todo. E nesse caso, quem sabe o senhor me dê a honra de uma resposta. De qualquer forma, reitero meu respeitoso apreço pelo senhor e pela imensurável colaboração que o nome Veríssimo trouxe e continua trazendo para a cultura deste meu amado país. 

José Gobbo Ferreira é Coronel reformado do Exército.

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