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quinta-feira, 28 de junho de 2012

O FILME BELLA, O ABORTO E A CULTURA DA MORTE


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Ivanaldo Santos, doutor em filosofia, fala sobre o filme Bella

Por Tarcisio Siqueira e edição de Thácio Siqueira

BRASILIA, segunda-feira, 25 de junho de 2012 (ZENIT.org) –  ZENIT entrevistou o Dr. Ivanaldo Santos sobre o filme Bella, um filme que promove a vida e que venceu o Festival de Toronto, no Canadá.
O Dr. Ivanaldo Santos é  filósofo, pesquisador e professor universitário. Publicou mais de 70 artigos em revistas científicas nacionais e internacionais e tem 8 livros publicados.
Publicamos a entrevista na íntegra:

ZENIT: Qual é a grande mensagem do filme Bella, vencedor do Festival de Filme de Toronto, no Canadá, em 2006?
IVANALDO SANTOS: Numa primeira leitura trata-se de um filme que fala do fracasso. O filme apresenta o encontro de um jovem casal: José e Nina. José é representado pelo ator Eduardo Verástegui e trata-se de um astro internacional de futebol que, por lesões físicas, fica sem poder jogar e perde a fama e o dinheiro. Ele termina sendo o cozinheiro no restaurante de comida mexicana do seu irmão. Por sua vez, Nina, representada pela atriz Tammy Blanchard, é uma jovem pobre que trabalha de garçonete no restaurante em que José é o cozinheiro. Ela descobre que está grávida e que o pai da criança não deseja assumir a ambos, Nina e seu filho. Numa leitura que podemos dizer “contemporânea” poderia se dizer que Nina tem uma “gravidez indesejada”. Aparentemente são duas histórias de fracasso que se encontram. No entanto, numa segunda leitura, uma leitura analítica e crítica, é possível afirmar que o filme trata do valor e da importância da vida e da família. José poderia ter se entregado às drogas e ao álcool, Nina poderia ter feito um aborto, coisa que, no filme, é aconselhado. Vale salientar que drogas e aborto são apresentados, em vários ambientes sociais, como sendo elementos de libertação do ser humano. O casal José e Nina descobrem que acima das drogas, do aborto e de qualquer outra “facilidade” da sociedade atual estão a vida e a família. Trata-se de uma descoberta surpreendente que emociona o telespectador. Com isso, a grande mensagem do filme é que vale a pena investir na vida e na família. Mesmo que os valores sociais digam que a família está morta, que não tem mais valor, ela é o núcleo onde o indivíduo sempre encontrou o refúgio e a felicidade.
ZENIT: é possível fazer uma relação entre o filme Bella e a cultura da morte?
IVANALDO SANTOS: Sim é possível. O filme apresenta os valores da cultura da morte (aborto, negação da família, individualismo e outros) de forma bem natural, da mesma forma que um cidadão comum vê em seu cotidiano. O filme não faz apologia da cultura da morte. Pelo contrário é uma das maiores críticas que essa cultura sofreu nos últimos anos, mas apresenta como os cidadãos, no dia-a-dia, tem acesso aos contra valores da cultura da morte. Por exemplo, o filme apresenta o individualismo, a busca cega por dinheiro, e como as pessoas e especialmente as mulheres são induzidas e enganadas para realizarem o aborto. Na sociedade contemporânea poucos são os espaços onde se falam do valor da vida, da família, de ter filhos. Geralmente as pessoas são educadas para viverem uma vida selvagem, para ganharem muito dinheiro, qualquer gravidez é logo rotulada de “indesejada” e, por conseguinte, recomenda-se, como se fosse natural, a prática do aborto. Tudo isso o telespectador poderá ver no filme Bella. Nesse sentido o filme é realista. É uma espécie de “raio X” da sociedade contemporânea.
ZENIT: O filme Bella tem recebido grandes elogios por parte da crítica especializada. Apesar disso nota-se certo boicote por parte da grande mídia. Por que isso acontece?
IVANALDO SANTOS: É possível apontar quatro motivos para esse boicote. O primeiro é o fato do filme não ser de guerra e/ou de sexo. A grande mídia (TV e cinema) trabalha essencialmente com elementos que dão lucro fácil e audiência quase que automática. Um filme como Bella, que fala do valor da vida e da família, que não tem nudez, que não tem longas séries de tiroteios e mortes sangrentas, não atrai a atenção da grande mídia.
O segundo motivo é que o filme não faz apologia do aborto e de outros contra valores que atualmente são apresentados como libertários e terapêuticos. É preciso ver que a grande mídia, em certo sentido, está dominada e é controlada, se não em sua totalidade, pelo menos em sua maioria, pela cultura da morte. A luta pelo lucro e pela audiência torna a grande mídia susceptível ao dinheiro rápido e fácil que vem da “indústria da morte”, ou seja, a “indústria” que oferece a morte como produto a ser consumido. Entre esses produtos estão a violência, o abandono da família, o aborto, a eutanásia, as drogas e o infanticídio.
O terceiro é a teoria neomalthusiana. No século XIX o malthusianismo pregava que o crescimento populacional se daria em progressão geométrica, enquanto os recursos humanos cresceriam em progressão aritmética. Deste modo, em poucas décadas, haveria uma completa escassez de recursos no planeta. A solução apontada foi a do controle da natalidade. No início do século XXI essa mesma teoria malthusiana volta a estar de moda. É o neomalthusianismo. Desta vez ela vem disfarçada com uma nova roupa, a do “ecologismo”, e com traços apocalípticos – como se o homem fosse o único mal da terra e esta estivesse a ponto de ser destruída. Como esclarece o Padre Helio Luciano, em recente entrevista concedida a agência de informação Zenit, chegamos à geração “Avatar” –que exalta a ecologia ao mesmo tempo em que mata seus próprios filhos. O problema é que neomalthusianismo faz muito sucesso na grande mídia. Criou-se uma espécie de lugar comum que diz que repórter “moderno” e “esclarecido” prega abertamente o discurso apocalítico do neomalthusianismo. Um discurso de controle da natalidade. Só para se ter uma ideia do problema, recentemente uma grande rede de TV no Brasil fez uma série de matérias alarmistas dizendo que o planeta Terra está lotada que não cabe mais ninguém. Essa série de matérias chegou ao ponto de elogiar o rígido controle da natalidade realizado na China. Um controle que pune os indivíduos com pesadas multas, com a prisão, tortura e até mesmo a morte. Num contexto como esse, um filme como Bella não atrai a atenção da grande mídia.
O quarto e último motivo é a falta de mobilização, de cobrança por parte dos movimentos pró-vidas e pró-família. É comum os movimentos pró-vidas e pró-família criticarem a programação alienante e favorável a cultura da morte que é exibida na TV e nos cinemas. Essa é uma cobrança importante que precisa ser aprofundada. No entanto, não se pode apenas ficar criticando a grande mídia. É preciso trabalhar junto com ela. É preciso conquistar a confiança da grande mídia. Uma das formas é lutar, até mesmo com aporte financeiro, para que canais de TVs passem a exibir, em sua programação normal, filmes e programas com conteúdo pró-vida e pró-família. O filme Bella é um ótimo produto midiático para ser oferecido às redes de TVs. É preciso ter coragem, ser audacioso. É preciso aproveitar o grande sucesso do filme Bella para negociar com as redes de cinema e TV uma programação mais voltada para a vida e a família.
ZENIT: Qual a relação entre o filme Bella e a cultura da vida, de valorização da família?
IVANALDO SANTOS: Pode-se dizer que há uma relação de 100% de proximidade. O filme não segue o esquema proposto pela cultura da morte, ou seja, moça pobre, trabalha de garçonete em um restaurante, descobre que está grávida e, por causa desses fatores, faz um aborto. É preciso recordar que atualmente, devido à grande influência do neomalthusianismo, tenta-se criar um lugar comum que diz que toda moça pobre tem que abortar. É como se os pobres não tivessem responsabilidade e condições morais de ter e criarem seus próprios filhos. Esse tipo de discurso é altamente discriminador e concede grandes benefícios aos ricos e à classe média. Em um mundo onde se fala tanto em inclusão social o filme Bella é um exemplo de inclusão, pois promove a inclusão do feto, do nascituro, justamente o grande excluído da propaganda midiática, das políticas do governo e da agenda das Organizações Não Governamentais (ONGs). Além disso, o filme inclui a família, berço de toda a dignidade humana. Logo a família tão desprestigiada em nossos dias. Trata-se de um filme que não pode ser colocado na categoria de “conto de fadas”, mas é um filme que valoriza a família, a vida e a natalidade. São valores eternos e que precisam estar no centro dos debates da mídia, do governo e da Igreja.
ZENIT: O que dizer para alguém que não assistiu ao filme Bella?
IVANALDO SANTOS: Inicialmente é preciso ter convicção que dificilmente o filme vai passar na TV em horário nobre. A não ser que algum milionário, algum mecenas, pague a exibição. Partindo desse pressuposto, afirma-se que o filme Bella precisa ser visto por todas as pessoas. Sejam elas jovens, velhos, solteiros, casados, pessoas que abortaram ou que pensam em abortar. É um filme muito realista. As cenas e diálogos do filme podem ser encontradas, de forma real, na maioria de nossas cidades. Por isso, é preciso que todo mundo se esforce para ver e divulgar o filme. As pessoas devem adquirir o DVD com o filme e assisti-lo em casa ou no trabalho com os parentes e amigos. A Igreja deve fazer todo o esforço possível para difundir o filme Bella. Vamos exibir o filme nas paróquias, capelas, nas escolas e demais lugares que estejam sob administração da Igreja. O filme Bella trata-se de um dos melhores presentes que o cinema deu à cultura da vida e à valorização da dignidade da pessoa humana. Temos que lutar para que ele seja assistido pelo maior número de pessoas possíveis.
Para contatos email: ivaanldosantos@yahoo.com.br

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