O orgulho que sentimos quando esses mesmos governantes falam de boca cheia sobre os avanços conquistados pelo Brasil no mundo globalizado, tristemente dá lugar à vergonha quando se calam ou passam ao largo frente ao nosso caduco, definhado e corrompido sindicalismo, que essa mesma gente não tem a necessária palavra, coragem e indispensável espírito público de restaurar. E olhem que são do ramo!
Por Fernando Alves de Oliveira
Recentemente empossado em substituição ao
controvertido Carlos Lupi, o pedetista Carlos Daudt Brizola (mais
conhecido como Brizola Neto, por ter por avô o famoso finado
trabalhista Leonel Brizola), tem um novo integrante em sua equipe no
MTE. Trata-se do Secretário de Relações do Trabalho daquela pasta,
Manoel Messias Nascimento Melo, nomeado através da Portaria nº 554,
recentemente subscrita pela ministra-chefe da Casa Civil da
Presidência da República, Gleisi Hoffmann. Manoel Messias é
natural de Alagoas, com vida sindicalista em Recife. É membro da
Executiva Nacional da CUT desde 2003, profissional do setor de
informática e fundador do Sindicato dos Profissionais de
Processamento de Dados de Pernambuco.
Obviamente que chamou a atenção o fato da
aludida nomeação não ter sido procedida por ato administrativo do
próprio ministro do Trabalho, como naturalmente estaria ao seu
alcance fazê-lo, mas pelo Planalto. Aliás, sabe-se que o aludido
sindicalista é pessoa de extrema confiança de Gilberto Carvalho,
ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, a quem
verdadeiramente cabe o patrocínio da indicação, ainda que
creditada sob um hipotético acordo entre a CUT e Força Sindical.
Aliás, no Governo Dilma o núcleo que ora passa a ser comandado por
Messias, é alcunhado pelo jargão de “fábrica de sindicatos”.
Vale ainda lembrar que desde que o PDT assumiu o ministério do
Trabalho, fato ocorrido desde o início do segundo mandato do
ex-presidente Lula, a Secretaria de Relações do Trabalho, bem como
todos os demais setores do ministério, foi invariavelmente chefiada
por figuras do próprio partido. Primeiramente por Luiz Antônio de
Medeiros, um dos principais fundadores da Força Sindical e
ultimamente por Zilmara Alencar.
Sendo fato inconteste que, a exemplo do Governo
Lula, também no de sua sucessora os ministérios são loteados e
entregues de porteira fechada aos partidos que lhe prestam
incondicional apoio político, é natural que Manoel Messias,
dirigente petista possa ser considerado um estranho no ninho
pedetista, partido que, convém frisar, tem duas faces bem distintas.
A de raiz política por excelência e a de gênese sindical por
conveniência. Este último segmento de há muito foi incorporado
pela Força Sindical, que exerce ao PDT influência análoga ao da
CUT em relação ao PT.
A verdade é que Brizola Neto foi nomeado pelo
Governo Dilma, não exatamente por eventuais saudosas evocações de
sua titular em relação ao seu passado político como ex-militante
da referida facção partidária, surgida quando da decaída e
divisão do histórico PTB de Getúlio Vargas. Foi, sim, e de forma
primordial, em razão de Brizola Neto ser um autêntico e
indisfarçável inimigo político de Carlos Lupi, que, por sua vez,
segue oficiosamente mandando no PDT, ainda que oficialmente ostente a
condição de “presidente licenciado”. E também –ainda que com
menor intensidade- em relação a Paulo Pereira da Silva, que, como
Lula no PT, é o assumido donatário da Força Sindical. Mas
questiúnculas e picuinhas intestinas à parte, o que interessou ao
Governo na nomeação de Manoel Messias foi sua preocupação
precípua de tentar acabar com a criação em série de novos
sindicatos, cujo controle está afeto à Secretaria de Relações do
Trabalho do ministério e que se constituíram no estopim que deram
azo a um dos muitos escândalos ocorridos no primeiro ano do Governo
Dilma, sacudindo o MTE, a Nação e destronando o “indestrutível”
Lupi.
Como amplamente exarado em comentários
anteriores, alguns escritos e publicados até antes da posse da atual
titular do Palácio do Planalto, inexiste real interesse do PT na
promoção de reforma ampla da remota legislação sindical e
trabalhista de 70 longos anos.
O que se constata em mais este capítulo sindical,
é a repetição de cosmética tentativa de se apor um mais um
simples enxerto, de pouco alcance e como tal de todo incapaz de
sanear uma árvore apodrecida pelo tempo. É de enfático
conhecimento que o problema crucial do sindicalismo brasileiro emana
de comprovada ordem estrutural. Assim, ainda que Manoel Messias seja
efetivamente um profissional experiente na área e referenciado por
dotes qualificativos de maior competência profissional, além de
respaldado por antecedentes de extremada lisura no trato das coisas
sindicais em relação aos seus predecessores no trabalho de
rigorosa análise e processamento acurado que terá na incumbência
de dar maior empenho e obter melhor performance nos trâmites
documentais exigidos para se evitar o registro de sindicatos que não
tiverem comprovada legalidade e, pondo fim com as ilegalidades e
desvios de conduta havidas no importante setor ministerial quer é a
Secretaria de Relações do Trabalho, ainda assim é óbvio que
ter-se-á um avanço merecedor de encômios, mas não se conseguirá
a reversão de valores muito mais transcendentes que se esvaíram ao
longo do tempo.
Comprovadamente, o Governo Dilma não ousa
intentar as reformas que o País realmente requer e necessita no
campo do trabalho e do sindicalismo. Por se tratarem de matérias de
ordem constitucional, necessitam de iniciativa e apoio tanto do
Executivo como do Legislativo. E sem uma ampla e substanciosa reforma
sindical, jamais ocorrerá reforma trabalhista de qualidade. O
problema é que essas matérias pertencem a verdadeiro campo minado.
Como tal, impenetrável. Assim, o Executivo utiliza a tática de
passar “batido”, seguindo fielmente o projeto de preservação e
perenidade de poder implantado pelo antecessor e discípulos, ainda
que para tal seja preciso recorrer aos velhos “custe o que custar”
ou do “doa a quem doer”.
Ora, dentro dessa ótica estrábica, julga-se que
para evitar os “perigos” de detonação de novos eventuais
escândalos (ou malfeitos, como é do gosto semântico do Planalto),
basta simplesmente substituir João por Antônio e assim anular a
possibilidade de fornecimento de munição aos opositores junto à
opinião pública, sempre de olho no marketing comportamental e nas
pesquisas de opinião. Francamente!
Destarte, a nomeação de Messias se explica como
simplesmente agasalhada na falta de vontade política de dar real,
efetivo e corajoso início à resolução do problema, que o Governo
sabe ser bem mais embaixo... Lamentavelmente, ela representa mais uma
ação do tipo “é preciso mudar alguma coisa para deixar tudo como
está...” Não serão, pois, através de medidas paliativas que o
nosso modelo sindical será depurado e restaurado. Urge uma reforma
radical.
Mas enfim, o que esperar de governantes
originários de um segmento de atividade que, historicamente criado
para servir aos mais nobres e proveitosos desígnios institucionais
de ordem coletiva e destinados ao bem comum, dele se vale muito mais
para servir-se do que servir? O que mais e de melhor aguardar de
gente que, tendo alcançado a governabilidade, transmuda-se e olvida
por completo os acalorados discursos de palanque de ontem,
diametralmente opostos da prática de hoje?
O orgulho que sentimos quando esses mesmos
governantes falam de boca cheia sobre os avanços conquistados pelo
Brasil no mundo globalizado, tristemente dá lugar à vergonha quando
se calam ou passam ao largo frente ao nosso caduco, definhado e
corrompido sindicalismo, que essa mesma gente não tem a necessária
palavra, coragem e indispensável espírito público de restaurar. E
olhem que são do ramo!
Consultor
Sindical Patronal, autônomo e independente, autor dos livros O
sindicalismo brasileiro clama por socorro,
e S.O.S.SINDICALpt
–ambos
editados pela LTr- de palestra direcionada e dezenas de artigos sob
o tema sindical. Acervo em http://falvesoiveira.zip.net/ Contatos:
falvesoli40@terra.com.br
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