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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Gestão econômica petista: mais gasolina para combater o fogo!


Governo anuncia antecipação de gastos em buracos negros para alavancar a economia. Vai funcionar?
Por Klauber Cristofen Pires

Às vezes, acomete-me um pesaroso desconsolo com a facilidade que têm as pessoas de absorverem tão facilmente o que assistem na TV, justamente na era que se afirma como a da razão e da comunicação; não me refiro ao zé povão, de quem não se pode mesmo esperar muita coisa, e que às vezes até nos surpreende ao mostrar-se mais salutarmente cético quanto aos modismos, mas, caramba(!), de pessoas letradas, que exercem posições de destaque de suas respectivas áreas de atuação.
Acreditar que a água - a água doce – pode acabar como o petróleo se consome pela queima, por exemplo, é uma daquelas crendices que espantam pela flagrante falta de juízo.
Isto me faz recordar de um lúcido artigo escrito já há um bom tempo por um médico que, lembrando bem o mito de vivermos em uma época em que à razão se lançam todos os louros, apontava vários casos de comportamentos completamente nonsenses, e um dentre os quais que me recordo especialmente era dirigido aos seus próprios colegas de profissão, por engolirem doses massivas de vitaminas porque convencidos por uma intensa campanha midiática que havia na época, a prometer nisto a fórmula do rejuvenescimento, quando haviam apreendido desde os ambientes catedráticos que todos os excessos são expelidos naturalmente do organismo pelo xixi.
Outra crendice que ainda demanda muita persistência para ser falsificada de vez é a tolice keynesiana de que o incentivo ao consumo tende a gerar prosperidade. Ora, se um pai de família gasta mais dinheiro do que produz, como haverá de enriquecer, se a cada dia se torna mais endividado? Pois se é assim com uma família ou com uma empresa, porque seria diferente com o estado e com toda a sociedade?
Hoje, com um pingo de esperança, aqui ou ali já se leem dos palpiteiros de economia da grande imprensa algum esboço de preocupação com o nível de endividamento dos cidadãos e com o dirigismo estatal na condução da economia, argumentos sofregamente adiantados desde há muito por mim, tanto quanto por outros distintos conhecedores dos princípios da Escola Austríaca. Não bastante, “no grosso”, o que a mídia tradicional ainda faz é agir como focas, a bater palmas para cada bola que o governo lhas joga.
Perseverando, informo que segundo a minha perspectiva, não há nada no horizonte que prenuncie melhores dias, especialmente no caso brasileiro.
A moeda fiduciária de curso forçado e o sistema bancário de reservas fracionadas já são fatores mundiais que por si somente já se fazem capazes de causar as cíclicas crises econômicas que tantos malefícios têm causado a todos os países, e o Brasil reforça o mau caminho com a expansão monetária desenfreada, a tributação exorbitante, a burocracia extravagante, os gastos perdulários e mal aplicados do dinheiro público, o protecionismo alfandegário, o dirigismo seletivo da economia, e todos os incentivos ao consumo, concomitantemente ao tolhimento da poupança e do investimento privados. Em suma, o nosso país segue na vanguarda em fazer tudo o que for possível da maneira errada!
Claro está que os resultados não podem ser animadores, como de fato, não têm sido, afastado o Brasil do vácuo que o rebocava atrás de um período de prosperidade que não soube bem aproveitar.
Para piorar um pouco mais, recentemente o governo brasileiro, mais perdido que cego em tiroteio, anunciou mais uma desesperada medida segundo a qual acredita que poderá combater a tendência de crise na economia, quando de fato, está é alimentando-a: a destinação de 8,4 bilhões de reais para adiantamentos de compras governamentais com preferência para produtos nacionais!
Segundo a Agência Brasil:
O programa anunciado pelo governo prevê aquisições nas áreas de saúde, defesa, educação e agricultura, como retroescavadeiras, ambulâncias, ônibus escolares, motocicletas para policiais, veículos lançadores de mísseis e blindados.”
Na área de saúde, mais de 80 itens produzidos no país poderão ser adquiridos com preços até 25% superiores aos dos concorrentes, de acordo com o Ministério da Saúde. A margem de preferência vai variar entre 8% e 25% para o que for produzido pela indústria brasileira até junho de 2017. Entre os itens previstos estão tomógrafos e aparelhos de hemodiálise.


Vamos refletir um pouco?
Desde o primeiro mandato do governo Lula, contam-se em centavos os investimentos governamentais em infraestrutura para o setor produtivo:
1 -a nossa produção agrícola ainda atola nos buracos das nossas velhas estradas e apodrece na fila para embarque nos navios;
2 - a estrutura energética ainda é a mesma que os governos militares nos legaram e jamais esteve tão cara e deficiente, a causar imenso prejuízo para as empresas e para os cidadãos com a queima dos equipamentos e eletrodomésticos – cumpre recordar, oportunamente, os vergonhosos aumentos no preço do gás importado da Bolívia e da energia hidrelétrica de Itaipu, politicamente aceitos pelo governo para apoiar seus colegas do Foro de São Paulo ;
3 – a única usina petrolífera com alguma previsão de conclusão é a binacional Abreu e Lima, em Pernambuco, com indícios veementes de superfaturamentos e atrasos, conforme apontado pelo TCU, e com o solene calote do governo venezuelano, que não aportou até hoje um mísero real, sendo que três outras viraram obras inacabadas;
4 – No setor naval, a ingerência política lulista pariu uma gigantesca banheira de aço batizada de João Cândido, que foi entregue com um atraso de um ano e oito meses, e que custou 495 milhões de dólares, 195 milhões a mais do que o orçamento previsto, de 300 milhões;
5- No setor aéreo, além dos desastres anunciados que chocaram o país, absolutamente nada mais aconteceu, salvo recentes investimentos voltados para a realização da próxima copa do mundo.
6 – Ainda com relação à Copa do mundo, praticamente todos os imensos investimentos logísticos restarão inócuos e deficitários: praticamente nenhum estádio jamais pagar-se-á por bilhetagem; as obras de mobilidade são específicas para o trânsito dos que irão assistir ao jogos, e serão muito pouco ou quase nada aproveitáveis para uso futuro pelo setor produtivo.
Sem excluir o que se olvidou de citar aqui, por economia de espaço, pode-se ter uma ideia bastante convincente do extremo descaso da gestão petista para com o desenvolvimento do país. Investimentos públicos sempre tendem a ser mais ineficientes dos que os privados, mas no caso da administração lulo-dilmista, nem sequer são comparáveis, por absoluta inexistência dos primeiros. Foram apenas desperdícios pródigos realizados vistas à obtenção de lucros políticos, com muita incompetência e corrupção.
A partir do exposto, o que se pode prever quanto aos 8,4 bilhões de antecipação de gastos estatais anunciada recentemente pelo governo? Respondo: a depender da visão e capacidade de organização e coordenação dos sumos sábios da presidenta Dilma, o que se verá serão mais dos caríssimos equipamentos hospitalares empacotados em soturnos depósitos, sem que jamais venham a ter uso, bem como, da mesma forma, ambulâncias e ônibus escolares “0 km” abandonados em terrenos baldios, e daí por diante! Lançadores de mísseis? O que eles irão fazer? Abrir clareiras para a construção de estradas?
Note-se do exposto como absolutamente nem sequer um dos bichinhos que compõem o elenco dos notáveis em nossas cédulas (e eu que pensava que um dia seria a vez da Xuxa, da Angélica e da Mara Maravilha?) terão a honra de se verem associados a alguma ordenação que de fato propicie uma alavancagem da produção nacional: são tudo despesas que se consumirão de vez pelas respectivas notas de empenho, ou pior ainda, que demandarão ainda mais gastos para serem postas em funcionamento! E tudo, vale lembrar, com dinheiro confiscado da iniciativa privada, que poderia realmente aplicar tamanha soma de recursos em inversões mais urgentes, necessárias e úteis, com geração de bens, serviços, tecnologia, empregos e tributos!
Por fim, vamos à gloriosa decisão do governo de privilegiar os produtos nacionais com até 25% de sobrepreço. Pensemos: o que seria de nossa economia se cada e todo cidadão e cada e toda empresa buscasse fazer suas compras com preferência pelos bens e serviços oferecidos aos preços mais caros, ao invés dos mais baratos? Certamente, você vai responder: “- bom, então estes cidadãos irão empobrecer, e as empresas, tenderão a falir.” Ora, meu amigo, for God's sake, por que você há de imaginar que se o governo assim agir, o resultado será diferente?
Ao comprar com sobrepreço, o governo estimula a incompetência da (má) indústria nacional, e desperdiça recursos com os quais poderia adquirir mais bens e serviços úteis ao desempenho de suas funções (ou, em sentido inverso, poderia revertê-los para a população na forma da desoneração tributária, proporcionando assim a prosperidade da poupança e dos investimentos produtivos privados.).
Protecionismos não geram crescimento econômico, mas apenas enclausuram a economia em uma redoma, isolando-a do mercado mundial. Os governos não lançam mão de medidas protecionistas para proteger a indústria e a economia nacional, segundo alegam, mas para manter a atual carga tributária e burocrática, impraticável em um sistema economicamente competitivo.
Concluindo: o governo está a pretender apagar o fogo com gasolina, como diz o velho mas acertadíssimo clichê. Aguardemos os nobres analistas econômicos da grande imprensa repetirem como papagaios o que estamos afirmando aqui...

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