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terça-feira, 21 de agosto de 2012

A guerra cultural nos EUA e as eleições presidenciais norte-americanas


Os meses de julho e agosto manifestaram as fortes tensões entre cosmovisões no país.


Pelo Pastor Silas Daniel

Os Estados Unidos estão vivendo uma intensa guerra cultural, cujo clima perpassa as próprias eleições presidenciais de novembro. O resultado disso é que o país está literalmente dividido.

Em resposta ao presidente mais esquerdista da história dos EUA (que, além de ter adotado uma política econômica de esquerda, aumentando consideravelmente os gastos públicos, decretou o financiamento de ONGs abortistas com dinheiro dos contribuintes, autorizou a destruição de embriões para produção de células-tronco, transformou o mês de junho no “mês gay” dos EUA, é o primeiro presidente a fazer campanha em favor do “casamento” gay no seu país etc), surgiu, em 2009, o Movimento Tea Party, que pressionou alguns setores do Partido Republicano a abandonarem seu discurso parcialmente conservador para voltar a um discurso genuinamente conservador, que tenha realmente a ver com os valores sobre os quais o país foi fundado. Em contrapartida, o Partido Democrata, que já havia sido dominado pelos sociais liberais, marginalizou de vez seus liberais moderados para aderir a um discurso liberal mais agressivo. Ao apoio aberto de Obama ao “casamento” gay, se seguiu a decisão do Partido Democrata de incluir o “casamento” gay como plataforma oficial de governo do Partido e a perseguição a membros do Partido que sejam contrários a essa decisão.

Em uma demonstração pública de que o Partido Democrata não está disposto a aceitar em seus quadros candidatos que demonstrem ser socialmente conservadores, o PD anunciou em 3 de agosto que retirará de seu candidato oficial ao Senado no Estado do Tennessee, o advogado Mark Clayton, de 35 anos, o direito de concorrer, apesar de ele ter recebido o dobro dos votos do seu rival mais próximo nas primárias do PD naquele Estado, ganhando o direito de desafiar o senador republicano Bob Corker nas eleições de novembro. Qual o motivo para essa decisão? É que, para tristeza do “clã” de Al Gore (ex-vice-presidente no governo Clinton e que é quem manda no Partido Democrata no Tennessee), o vencedor Mark Clayton, que não era o preferido do “clã”, é um cristão que opõe-se publicamente ao “casamento” homossexual e ao aborto.

Entretanto, os maiores emblemas dessa guerra cultural que toma conta do país foram vistos no caso da Chick-Fil-A e do atentado ao Family Research Council na semana passada.

Os cristãos nos Estados Unidos deram uma demonstração de força no dia 1 de agosto. Tudo começou quando foi noticiado que o presidente da rede de fast-food Chick-Fil-A, o evangélico Dan Cathy, afirmara em julho que “o casamento, segundo a Bíblia, é apenas entre um homem e uma mulher”. A declaração foi considerada “absurda” e “homofóbica” pelas militâncias gays e progressistas nos Estados Unidos, que incitaram protestos em todo o país contra a Chick-Fil-A, que mantém mais de 1,6 mil unidades em todos os Estados Unidos. Porém, o tiro saiu pela culatra.

Os prefeitos democratas de Boston, Chicago, São Francisco e Washington DC ameaçaram fechar as unidades da Chick-Fil-A nessas cidades. Porém, em poderosa contrapartida, o pastor batista licenciado Mike Huckabee, ex-governador de Arkansas, fez uma apelo a todos os cristãos nos Estados Unidos que apoiavam o posicionamento de Cathy que dessem uma demonstração de apoio, tornando a quarta-feira, 1 de agosto, o “Dia de Valorização”, no qual as unidades da Chick-Fil-A em todo o país ficariam repletas de cristãos para comprar os seus produtos. “O objetivo é simples: vamos apoiar uma empresa que age segundo princípios cristãos e cujos executivos estão dispostos a tomar uma posição a favor dos valores divinos, nos quais cremos”, explicou Huckabee. Horas depois, o pastor batista Billy Graham declarou seu endosso à campanha de Huckabee.

O resultado foi impressionante: quase um milhão de pessoas manifestou apoio à campanha na internet e, quando chegou o dia, filas se formaram em frente às filiais da Chick-Fil-A em todo o país, que anunciou um dia depois, na manhã de quinta-feira, 2 de agosto, que os cristãos que acorreram ao restaurante para o “Dia de Valorização” levaram a empresa “a um dia sem precedentes, com recorde de vendas em sua história”. Segundo Cathy, os funcionários mal puderam atender à clientela cristã, que em algumas cidades chegou a esgotar os produtos da Chick-Fil-A.

Como desdobramento desse acontecimento, na manhã do dia 15 de agosto, um rapaz de 28 anos invadiu a sede da organização cristã conservadora Family Research Council (FRC), em Washington DC, para atirar contra os membros dessa instituição. Segundo testemunhas, o rapaz se fez passar por um estagiário e, após conseguir entrar na FRC, mostrou às pessoas uma embalagem com 15 sanduíches da rede de restaurantes Chick-Fil-A, anunciando, em seguida, em alta voz, que não concordava com os posicionamentos políticos da FRC. Na sequência, sacou uma arma para atirar, mas o policial Lea Johnson tomou rapidamente a frente do rapaz, que, mesmo acertando um tiro no braço do guarda, ainda foi imobilizado após lutar com o policial no chão. Acionado, o FBI chegou rapidamente ao local. Segundo o FBI, o atirador, que se chama Floyd Lee Corkins II, é um funcionário voluntário de um centro comunitário para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Leia toda essa história AQUI AQUI.

Curiosamente, a CNN e o New York Times publicaram uma pequena notinha sobre o ocorrido. Aqui, no Brasil, nem falaram disso. A razão é simples: os senhores do New York Times e da CNN fazem parte da rede nacional de apoio ao ativismo homossexual, e divulgar esse tipo de notícia pega muito mal à causa que defendem. A verdade é que, como bem disse Tony Perkins, presidente da Family Research Council, esse ataque é um dos resultados dessa campanha vergonhosa de rotulagem de grupos pró-casamento tradicional como se fossem “grupos de ódio”.

Mas, o clima está tão tenso que até mesmo o filme The Dark Knight Rises, do diretor Christopher Nolan, que encerra a sua trilogia sobre o personagem dos quadrinhos Batman, foi alvo de alguns progressistas norte-americanos por ser... Direitista demais! Detalhe: Nolan é eleitor do Partido Democrata e, ao que parece, acabou involuntariamente fazendo um filme cuja mensagem ataca, entre outras coisas, os movimentos Ocuppy Wall Street e revolucionários de forma geral, além do movimento pró-energia verde etc.
 
“Hit to the Road, Barack!”
 
Depois de um período de desconfiança em relação a Mitt Romney devido ao seu mormonismo e ao seu passado de conservador “meia-boca”, os conservadores nos EUA estão finalmente começando a endossar Romney, tudo para se verem livres do radical Obama. Mesmo que Romney não seja o sonho de candidato dos conservadores, ele é, obviamente, a melhor alternativa a Obama no momento, e isso é o que interessa. Santorum e James Dobson já manifestaram seu apoio a Romney, por exemplo. Ademais, o candidato republicano teve a feliz ideia de escolher como seu vice o parlamentar Paul Ryan, um social conservador de verdade e um dos mais brilhantes políticos economistas de sua geração. Ryan era cotadíssimo a ser o ministro da Economia dos EUA caso Romney ganhasse. Seu talento é reconhecido e admirado até pela maioria dos seus oponentes, que, por amor a Obama, começaram a atacar Ryan nem tanto por seus posicionamentos econômicos, mas por seu conservadorismo social. Os articulistas Maureen Dowd, do New York Times (sobre o artigo, leia AQUI), e Michelle Goldberg, da Newsweek(AQUI), chegaram a escrever artigos chamando Ryan de “radical” simplesmente porque ele é contra coisas como o aborto – que Ryan sonha em um dia voltar a ser crime – e contra o “casamento” homossexual etc.

Mas, por mais que os progressistas batam nos republicanos e conservadores de forma geral, o que está dando audiência mesmo, pelo jeito, são as críticas contudentes ao governo Obama. Em quase quatro anos de mandato, pelo menos dez obras contra as políticas do presidente se tornaram best-sellers no mercado editorial norte-americano. O mais recente é Fool me twice (“Engane-me duas vezes”), dos autores best-sellers Aaron Klein e Brenda J. Elliott. Os demais são Conduct Unbecoming, de Robert Buzz Patterson; Culture of Corruption, de Michelle Malkin;Ameritopia, de Mark R. Levin; Courting Disaster, de Marc A. Thiessen; Sexy Brilliance and Other Political Lies, de Kevin Jackson; Obama: The Great Destroyer, de David Limbaugh; A Slobbering Love Affair, de Bernard Goldberg; Mugged – Racial Demagoguery From the Seventies To Obama, de Ann Coulter; e The Amateur – Barack Obama in the White House, de Edward Klein. Todas essas obras venderam juntas quase 20 milhões de exemplares em todos os EUA, um sucesso total de venda.

De acordo com o Gallup, cerca de 50% da população desaprova o governo Obama e, segundo pesquisa divulgada hoje, 56% dos americanos dizem que suas vidas pioraram financeiramente desde que ele assumiu o governo. E os índices de desemprego continuam acima dos 8%. Entretanto, o dado mais incrível é o que se segue: incríveis 52% da população dos EUA dependem de alguma ajuda financeira do governo para sobreviver!

Não é à toa que Niall Ferguson, escocês professor de História em Harvard e eleitor de Obama em 2008, escreveu um artigo de capa na mais nova edição da Newsweek, afirmando “Já para rua, Barack!” e ressaltando que “precisamos de um novo presidente”, e que ilustra este artigo (Leia o artigo completo AQUI). Ele é também pequisador das Universidades de Oxford e Stanford, e do Instituto Hoover, e considerado um dos maiores especialistas do mundo em História Internacional e História da Economia, especialmente nas áreas de hiperinflação e mercado de títulos. Em 2004, Ferguson foi considerado pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Desde 2011, ele é colaborador do canal econômico Bloomberg e da Newsweek. Em seu artigo, ele lista todas as promessas que Obama fez e não cumpriu, e como suas decisões na área econômica foram um completo desastre para o país. Paul Krugman tentou rebatê-lo, coitado, e apanhou (veja AQUI).

Bem, o resultado disso é que, nas duas mais recentes pesquisas, Romney está à frente, embora com pequena diferença de 1% e 2% respectivamente pelos institutos Rasmussen Tracking (44% a 43%) e Gallup (47% a 45%). E se a eleição fosse hoje, segundo as pesquisas mais recentes, Obama teria 237 colégios eleitorais contra 191 para Romney, sendo que 110 colégios eleitorais ainda estão indecisos. Boa vantagem, você dirá, até porque são necessários 270 colégios eleitorais para ganhar a eleição. Só que, até pouco mais de um mês, Obama tinha mais de 300 colégios eleitorais com ele. Ou seja, a queda é crescente. E em termos de Estados, Romney venceria hoje em 23 e Obama, em 19. Em oito Estados, nada está definido ainda.

Sim, ainda há muita água para rolar debaixo da ponte, mas, a menos de três meses da eleição, pelo menos uma coisa podemos dizer: o clima está muito quente. Será, sem dúvida, uma das eleições mais disputadas de todos os tempos. E o meu desejo, claro, é que ganhe o melhor (isto é, o menos mal) – e isso quer dizer, obviamente, Mitt Romney.

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