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domingo, 30 de dezembro de 2012

Brasília, um saco de gatos



A começar da sua concepção e desrespeito às sementes que lhe deram vida, trouxeram beleza e fama pelo projeto urbanístico e edifícios de linhas arrojadas, diversas das formas tradicionais marcadas pelas colunas cilíndricas e capitéis.

Por Ernesto Caruso


         Algumas dessas contribuições são anteriores à determinação do seu construtor, Juscelino Kubitschek, e ao trabalho dos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, muito lembrados pela imprensa nos cinquenta anos em 2010 e agora com o falecimento de Niemeyer.

         Há quem considere a mudança da capital para o ermo do interior afastado dos grandes centros como a matriz de todos os males e vermes nascidos da corrupção, do apadrinhamento e do enriquecimento ilícito, infelizmente presente em qualquer rincão. Ao contrário, nossos antepassados sonharam em proteger a capital em melhores condições do que no litoral. Estrategistas dos melhores que pontilharam o território com fortalezas muito bem localizadas, de onde emergiram as povoações, vilas e cidades.

Assim, não se pode omitir a participação de alguns militares desde a inserção do registro constitucional de 1891, no seu Art. 3º, ao disciplinar “Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital federal.”, emenda apresentada pelo engenheiro militar Lauro Müller.

 Fato marcante se deve ao Marechal Floriano Peixoto ter nomeado a comissão presidida por Luiz Cruls que a demarcou, bem como a criação da Comissão de Localização da Nova Capital Federal por Getúlio Vargas, presidida pelo Gen Agnaldo Caiado de Castro, que posteriormente é substituído pelo Marechal José Pessoa, já sob a presidência da República de Café Filho.

Digno de referência, José Pessoa produziu rico e minucioso estudo, antes de Lúcio Costa ganhar o concurso, com sugestão de nome e esboço com as formas que lá estão edificadas no concreto, nas vias e nas super-quadras. As minúcias engrandecem a obra, e o destacam como “precursor do planejamento de Brasília”, inspirador do projeto vencedor, posto em prática, e esquecido como genial autor.

O abastecimento das águas advindas do Rio S. Bartolomeu, rede de esgoto, da energia gerada a partir do Rio Corumbá, loteamento, quadras, “tesourinhas”, orçamentos, o eixão, o lago, hoje Paranoá, requinte de beleza, aprimoramento da natureza, moldura de mansões, cenário de pinturas e fotos, presença humana, praia, banho de sol, em uma cidade, que será (?), não lhe devota um monumento, uma placa, um nome.

Inconformado com a pressa, pediu demissão ao presidente JK, onde deixa escrito na carta: “Como posso pensar, por exemplo, na venda de lotes, se ainda não foi aprovado o projeto urbanístico?” Um particular que pretendesse fazer igual, não poderia; aprovar um loteamento não é fácil, consome muito tempo e custa caro. Perspicaz, o experiente marechal, a enxergar longe, pulou fora. Problemas vários, culminando pela ocupação desordenada do solo presente na capital, ainda hoje.

A registrar o comentário do professor da UNB, arquiteto Claudio Queiroz, em entrevista ao jornalista Alexandre Garcia (YouTube): “O marechal José Pessoa é uma das pessoas que, sem ele, talvez o processo tivesse sido cortado e postergado a outro momento, porque ele desempenhou um período fundamental da implantação da nova capital e da perspectiva de realização efetiva, quero dizer, de tornar real.”

A construção de Brasília é a consolidação do desbravamento dos Bandeirantes, da pertinaz ocupação militar da fronteira e litoral e da marcha para o oeste, a coincidir o centro do poder ao centro geográfico do território brasileiro.

Reviver a História é se precaver quanto ao futuro. Assim, das lições de consolidação do território, há que se ocupar com expressivos efetivos militares a faixa de fronteira na linha norte das imensas Reservas Indígenas Yanomami e Raposa Serra do Sol, o “calcanhar” da Amazônia. Enfatizar as condições proferidas pelo ministro do STF, Menezes Direito, no seu voto, atenuando a desastrada decisão daquela corte, quando acatou a reserva de forma continua, extensa e na fronteira.

Gatos confusos, gatos espertos, gatos servis, gatos manhosos, gatos inocentes, gatos ladrões, gatos raivosos... tem de tudo.

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