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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Interpretações


A interpretação um texto cabe ao leitor, que a fará de acordo com sua educação, nível cultural e suas próprias experiências.

João Bosco Leal 

Trabalhando há anos com política classista, vinha me especializando em direito de propriedade e, sobre esse tema, escrevia alguns raros textos. Em determinada ocasião montei um blog na internet onde postei, durante um mês, o diário e as fotos dos locais por onde passava durante uma viagem de moto que fiz, por quatro países, com quem à época era minha esposa.

Eram minhas únicas experiências como "escritor", mas ao sofrer um acidente moto ciclístico e ficar acamado, imobilizado durante dois anos, comecei a observar tudo e todos à minha volta.

A ausência de pessoas que considerava amigas e a presença constante de outras que não imaginava ser, o noticiário do que estava ocorrendo no mundo, a leitura de novos livros e o tempo totalmente ocioso, faziam minha mente pensar sobre muitas coisas que antes não pensava e pouco a pouco fui colocando no papel o que sentia sobre minhas observações, pensamentos e sentimentos.

Entretanto, sempre tive consciência de não possuir preparo literário suficiente para - que seja razoavelmente -, escrever de forma a ser considerado um escritor. Escrevo simplesmente porque gosto e penso que algum dia algum de meus descendentes pode ter a curiosidade de saber o que seu antepassado pensava sobre determinado assunto, ou como eram os costumes da época.

Atualmente, através dos comentários postados no próprio blog onde os publico, nos jornais, revistas, sites, blogs e outras redes sociais onde os mesmos são republicados, ou mesmo quando me dizem pessoalmente como o entenderam, tenho até me divertido ao perceber como cada pessoa interpreta um texto de modo diferente.

Imaginam que escrevi isso por aquilo e ouvindo várias delas separadamente, fica claro que cada uma imagina que escrevi aquele texto por uma ocorrência específica ou para determinada pessoa. As interpretações dos motivos pelos quais ou para quem escrevi uma frase, um parágrafo ou um texto, são de uma diversidade inimaginável. 

Quando escrevi algo direcionado a alguém - como já ocorreu em algumas oportunidades -, certamente o texto não se tornou público, ou a pessoa para quem foi escrito foi antecipadamente informada da "homenagem" que seria publicada, mas não foi o que ocorreu em relação a alguns textos sobre os quais ouvi esse tipo de interpretação.

A partir de ocorrências como essas podemos imaginar os motivos pelos quais, durante séculos, não se chega a um acordo sobre nenhum parágrafo bíblico. Cada um interpreta de uma forma e uma das consequências disso foi e continua sendo a criação de uma infinidade de igrejas pelo mundo que seguem a mesma Bíblia com interpretações diferentes, inclusive entre os membros de uma mesma igreja, o que normalmente provoca a criação de outra e assim por diante.

Isso torna a escrita uma das mais fascinantes capacidades do ser humano, uma vez que transcende o tempo, documenta a história e as descobertas em todos os aspectos, cria fatos, imaginações, lendas, estórias e, claro, gera cultura.

Há um brocardo latino que define isso com precisão: "Verba volant, scripta manent" ou "Palavras voam, a escrita permanece".

Após ter "parido" um texto, praticamente já nem me lembro dele, passando a observar novas coisas, pessoas, comportamentos e situações, que possam gerar a criação de outro e ao escrever sobre essas minhas interpretações, não penso em como o texto será interpretado por quem o ler.


* Jornalista e empresário

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