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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O projeto de Poder


“Continuo tão rebelde e sonhador como na juventude”
José Dirceu

“Ser comunista na juventude eu entendo, mas na velhice é burrice” 
Luís Inácio Lula da Silva
  
Gustavo Miquelin Fernandes
  
Marx está morto.
Mas, Antonio Gramsci não.
Coisa mais comum e, portanto, natural que há, é um esquerdista entoar loas ao regime democrático.
Realmente é espantoso e figura isso, a primeiro golpe de vista, um verdadeiro nonsense, contudo, não podemos olvidar que a palavra surrada, desgastada e banalizada “democracia” pode camuflar importantes desvios terminológicos.
Ela não raro redunda na simplicidade de uma aceitação popular passiva; uma chancela quase automática de programas governamentais geralmente de fundo paternalistas; e na aprovação de figuras políticas sacrossantas; um verdadeiro rapapé democrático, fantasioso e burlesco.
Nada que surpreende muito. Esse ato de confirmação e chancela popular são devidamente garantidos por uma hegemonia cultural, muito bem estruturada, longo-prazista, sutil e fecunda, em níveis tão profundos que configura dificuldade muito grande trazer à tona essas percepções.
Assim, posta essa premissa conceitual, que problematiza o próprio termo “democracia” e sua utilização rasteira, fica facilitada a tarefa de operar esse meu argumento.
Ademais, é fácil perceber que comumente os ditos “amantes da democracia” o são apenas quando do momento da aquisição desse poder, resumindo de forma pragmatica: quando ganham eleições. E jamais a amam loucamente no momento de exercê-la, inclusive com a repartição do poder e sujeitando-se a controle legítimo e prestação de contas.
Democrático, ma non troppo.
A capacidade eleitoral e discernimento político da sociedade hodierna, e qualquer um que se aprofunde no tema pode registrar, está devidamente viciada. Ocorre aqui o fenômeno da democracia numérica, de chancela, de urna; que jamais pode ser a real e legitima.  
Fato é que esse adesionismo dos cidadãos que compõe a comunidade política é sumamente necessário e jamais dispensável.
A comunidade não é inerte a totalitarismos abertos e ostensivos. Existem potencialmente revoltas. O patrocínio da comunidade é fundamental para a tomada, a conquista e a manutenção, a perder de vista, do poderio estatal.
Esse arrebatamento das massas, essa adesão formal e incondicional é fruto da hegemonia cultural, pouco a pouco disseminada por intelectuais (dito orgânicos) e agentes micro e macro de uma estrutura grande e ousada que deseja sempre mais poder.
Não há como uma classe, manu militari, ou forçadamente, com mão armada, subjugue a outra. Isso ocasionaria mais revoltas, danos sociais grandes e guerras. A insegurança social seria sintomática e desestabilizaria o processo seguinte.
O ideal, e isso foi bem percebido e praticado por algumas dezenas de anos é uma revolução tranquila, sutil, quase que espiritual, para implantar a semente da inocência e complacência no seio da sociedade, arrebatando e convocando todos para participar de um grande projeto de mudança social.
O discurso se dá neste nível. Assim opera a hegemonia cultural.
O Estado é e tem que ser deles, inexoravelmente. Necessário um convencimento robusto acerca disso, através de todos meios de comunicações, do Estado e dos entes privados. O bem-estar coletivo necessita de um projeto grande e convergente – e todos podem e devem participar dessa mudança social.
Assim, a efetiva revolução se dá no nível espiritual, ou, melhor cultural. A revolta armada, a tomada compulsória, a guerrilha civil, são elementos instabilizadores, que contam com tempo diminuto de vida. Fracassam, hora menos hora.
O processo verdadeiro para desmonte do sistema capitalista, do mercado opressor, do poderio da classe burguesa, da mudança das superestruturas, constituem-se em processo demorado e de longo-prazo; eis que a disseminação, a implantação ideológica, e a percepção dos resultados é de obtenção postergada, consumindo gerações. Mas traz consigo a afetividade e, muita vez, a irreversibilidade.
Não é mister a existência da lucidez ou clarividência políticas ou de uma  análise poderosa da situação. É possível vislumbrar detalhadamente esse processo.
O projeto de poder ou assalto ao Estado, em curso, é estratégia de prazo longo, ora adormecida, ora posta em mais franca atividade. Sob Governos anteriores ditos de “centro esquerda” ou “neoliberais”, o projeto estava um pouco mais latente, dado que comprova isso é a atitude sóbria, reconheçamos, do ex-presidente Fernando Henrique em comparação com a ridiculamente ativista (no pior sentido da palavra) de Luís Inácio, que comanda um diretória à parte dentro do Governo atual. Nada mais anti-republicano e vergonhoso.
A arregimentação de tantos quantos forem necessários em qualquer instância social e a extinção da oposição parlamentar já fazem parte de uma realidade nua a crua, observável macroscopicamente, a olho nu, sem necessidade de muita teoria.
O cardápio de ação é amplo: tentativas, sempre presentes, de reescrever a História, personalismos messiânicos (há um corrupto com nível de aprovação elevadíssimo), gasto social elevado, sem maiores contrapartidas e uma técnica semiótica e discursiva excelentemente elaborada. 
Essa convergência deve ser a mais ampla possível a fim de que a hegemonia se autocomplete. Veja-se que o M.S.T. foi um agrupamento que se beneficiou muito da estratégia, e que vez ou outra, pinça uma divergência tosca, muito da mentirosa, para ludibriar e assim inculcar uma insatisfação com o Governo que o banca paternalmente, ao mesmo tempo que o movimento recebe generosas verbas para danificar propriedades privadas.
O palco universitário foi devidamente tomado, e as escolas particulares já permitem esse tipo de contaminação ideológica. A oposição congressual foi sufocada em nome de um pragmatismo esquizofrênico, de “todos pelo Brasil” ou idiotices análogas. Não há sequer um freio. A não ser poucos intelectuais brasileiros que se dedicam gratuitamente e o fazem com honestidade.
Os monopólios da comunicação já se dobraram de há muito, de maneira desavergonhada.
O “Grande Irmão”, no estilo orwelliano, não pode se mostrar tão grande assim, mostra-se necessário, eficiente, social, popular, que luta por melhorias sociais e repele qualquer tentativa do tipo “conservadora” ou “neoliberal” (dica: cada vez que ler esse termo sem aspas, feche o escrito – é puro charlatanismo intelectual).
Maciça presença de controle burocrático e sempre a criação de mais órgãos, secretarias e ministérios. É o Governo popular, que olha para o pobre, que luta por mais direitos.  
A divulgação permanente do Governo do povo tem que ser mais ampla possível; quanto mais ONGs e sociedades de interesse público (alguns interesses não tão públicos assim) melhor para o establisment.
A mentalidade revolucionária pretende fazer a tomada e repartida do butim, sem pressa, mas com grande concretude e efetividade.  E o meio não é hostil para recepção dessa mentalidade. Somos um país primário, com uma democracia jovem, subconstitucionalizado, com abertura política e econômica recente, de baixíssimo nível cultural, com uma classe política populista e analfabeta. O vento sopra muito a favor, e o barco revolucionário prossegue em velocidade de cruzeiro, sem maior intercorrências.
Falácias oportunistas são comemoradas, movimentos populares são tipos como manifestações de uma democracia madura que se insurge contra abusos ou ilegitimidades.
Um analfabetismo do tipo econômico choca os mais leigos, que somente podem por a conta disso nessa estratégia sutil de feitio gramsciano.
Intra muros, a maior prova empírica do trabalho em busca do controle estatal perene está descrita na Ação Penal 470, no STF, o chamado “mensalão”. Em debates jurídicos duradouros e, com boas premissas e discussões profundas, pudemos ter ideia do pragmatismo e modus operandi dos agentes governistas. Como se deu, e, em meu entender, ainda se dá, o jogo do poder. Foi didático e um grande alerta para a sociedade.
Extra muros, a sociedade sendo bestializada e os últimos resquícios de uma pulsão de cidadania  estão sendo arremetidos para o lóbus do inconsciente, gerando “zumbis políticos”, de espectro esquerdista, demandistas, pseudo- democrático.
Os conformados e adesistas são peças de extrema utilidade e, portanto, indispensáveis.
Como vimos, o esquema de poder não prescinde daquele adesionismo (consciente, evidentemente). Assim não há que se negar qualquer tipo de apoio, por pior que sejam. Lembram-se daquela foto de um corrupto paulista, abraçado com um corrupto nacional em um jardim de uma residência? Foi um case muito didático.
Não há projeto de Governo, há projeto de poder - coisas escandalosamente diferentes.
A jurisprudência formada no bojo de um Estado, o esquecimento do Governo, a estadolatria e a partidolatria, que são seitismos de caráter fascista
A força desse Estado pode ser vista em algumas medidas totalitárias recentemente tomadas, e que desvirtuaram forças produtivas do Brasil e incrementaram a crise interna, promovendo desemprego, pessimismo e debandada de investimentos. Essas medidas tiveram intensa propaganda, e por isso, um apoio popular enorme, estando assim, democraticamente respaldadas e legitimadas.
O desmonte de todos os pilares que sustentavam nossa estabilidade política, econômica e social estão sendo efetivados por essa corja burocrática que sentou o rabo em cima do Poder e de lá não desejam bater a retirada.
Esses pilares sofreram e sofrem diuturnamente ataques perversos. A liberdade imprensa, a alternância do poder, a estabilidade econômica, a ética na coisa pública (mensalão e escândalos governistas diários).
O caso da PEC que submetia qualquer julgamento do STF ao Congresso foi escandaloso e inolvidável. Uma tentativa maquiavélica de desmonte da nossa Tripartição de Poderes.
A impunidade dos agentes desse movimento em curso chegou a ser cogitada, por meio da PEC 37 , que subtraia poderes investigatórios do Ministério Público.
A neutralidade da comunicação – com dinheiro maciço saindo do bolso do contribuinte e indo para blogs e sites propagandearem falsamente grandes feitos do Governo e tripudiar com reputação de opositores do “Grande Regime”. A situação vai além do absurdo.

É a destituição de um Estado para a formação de um Governo hegemônico, revolucionário e fruto de um consenso amplo e de uma democracia farsesca e pseudo-legitimada por contaminados com ideologias, disseminadas essas por todos os órgãos de difusão de conhecimento, informação cultura e Saber. 

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