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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

No Brasil, o passado é cada vez mais incerto

    
Félix Maier

Eu achava que apenas o futuro era incerto, e que o passado – pelo menos o passado mais recente – fosse um fato consumado, sem muitas incertezas, dado o grande número de provas irrefutáveis que facilmente podem ser conferidas mediante a simples consulta de jornais antigos. Eu tinha certeza de que os fatos históricos recentes que eu tomei conhecimento em meu País seriam de domínio geral, não só meus e de uns poucos. Puro engano.

Cada dia que passa, o passado recente do Brasil vai-se modificando por conta de um revisionismo esquerdista inconsequente, que tenta explicar nossa História unicamente sob a ótica marxista. Pode-se ter dúvidas quanto a um passado remoto, como a Idade Média, ou muito distante, como o Big Bang, que é ainda apenas uma especulação científica. Mas, fatos que ocorreram há poucas décadas, como os dos governos militares pós-1964, deveriam ser contados como realmente ocorreram, sem maniqueísmos pueris, de modo a haver apenas o compromisso com a verdade.
Antonio Giusti Tavares afirma em seu livro Totalitarismo Tardio - o caso do PT“Juízos de valor acerca de condutas do passado devem ser feitos não a partir de parâmetros éticos do presente, mas da contextualização da conduta na sua própria época, e nela, por comparação com condutas diferentes. Os historiadores e os cientistas sociais devem cumprir pelo menos dois requisitos básicos da epistemologia e da ética das ciências humanas: 1) evitar tanto quanto possível qualquer restrição ou seleção dos fatos brutos e 2) ao apresentá-los, distinguir sempre, tanto quanto possível, entre fatos e interpretações” (pg. 194). (1)
Como exemplos de revisionismo, temos:
- revisionismo soviético (em que antigos heróis, caídos em desgraça, eram riscados de enciclopédias, ou que tinham suas imagens “apagadas” em fotos oficiais);

- revisionismo do Holocausto (em que escritores colocam em dúvida o número de vítimas do Holocausto judeu promovido pelos nazistas - a exemplo de S. E. Castan em seu livro Holocausto Judeu ou Alemão?, pelo qual foi condenado pelo STF);

- revisionismo atual da esquerda brasileira: a história recente do Brasil, especialmente o Movimento militar de 1964, é descrita sob a ótica da dialética comunista, em que não há nenhum estudo sério sobre o assunto, apenas panfletagem e proselitismo socialista.

Outro tipo de revisionismo - na verdade, propaganda da desinformação e da difamação - liga o Papa Pio XII aos nazistas. Por exemplo, o livro de John Cornwell, “O Papa de Hitler”: “A capa do livro de John Cornwell mostra o arcebispo Pacelli saindo de um edifício do governo alemão, escoltado por dois soldados. Essa visita oficial do então Núncio Apostólico na Alemanha, teve lugar em 1929, quatro anos antes que Hitler chegasse ao poder (em 30/1/1933). Como Pacelli saiu da Alemanha em 1929 e nunca mais voltou, é enganoso e tendencioso o uso dessa fotografia” (Texto do jesuíta Peter Gumpel, historiador convidado pelo Vaticano para coordenar o processo de beatificação do Papa Pio XII, in Pio XII, Hitler e os judeus, publicado em PODER - Revista Brasileira de Questões Estratégicas, Ano I, nº 05, pg. 58, Brasília, Maio/Junho 2000).

No último livro de Leandro Narloch (2), lê-se que “‘o Saladino que os muçulmanos elevariam a um status quase messiânico no século 20 tinha uma semelhança muito maior com o imaginário popular europeu do século 19 do que com qualquer personagem histórico’, diz o historiador Abdul Rahman Azzam. Eis um ótimo exemplo de como, dependendo do ânimo e dos ressentimentos de uma época, o passado muda, ganha personagens, enredos e novas razões para as pessoas se sentirem magoadas com a história” (pg. 54).

O objetivo do revisionismo da esquerda brasileira é um só: solapar os fundamentos morais do país, alicerçados na herança judaico-cristã, e a rica história das Forças Armadas, que livraram o Brasil do jugo comunista (ou de uma guerra civil), ao mesmo tempo em que tenta enaltecer terroristas, como a presidente Dilma Rousseff, que integrou a sangrenta VAR-Palmares. Assim, não causa estranheza que o Dia da Pátria seja substituído pelo “dia dos excluídos” e pelo vandalismo dos Black Blocs, que Lamarca seja apresentado como herói e o Duque de Caxias seja revisto como genocida dos paraguaios.

Professores marxistas infiltrados nas escolas brasileiras afirmam que o Brasil e a Argentina estiveram a serviço do imperialismo inglês, invadindo o Paraguai e esmagando o país mais “progressista” da América do Sul. Uma estrondosa mentira, pois o Brasil havia rompido relações diplomáticas com a Grã-Bretanha devido à Questão Christie. O livro Nova História Crítica, para a 7ª. série, de Mário Schmidt, afirma que os ingleses foram contra a escravidão, não por questões humanitárias, mas por interesses econômicos. Na verdade, “o movimento abolicionista inglês teve uma origem muito mais ideológica que econômica. Organizado em 1787 por 22 religiosos ingleses, foi um dos primeiros movimentos populares bem-sucedidos da história moderna, um molde para as lutas sociais do século 19” (NARLOCH, 2009: 104). (3) Segundo Schmidt, “a princesa Isabel é uma mulher feia como a peste e estúpida como uma leguminosa” (idem, pg. 104). Para o linguista de pau, bonito talvez seja Zumbi dos Palmares, que tinha uma penca de escravos.

O historiador Francisco Fernando Monteoliva Doratioto, em seu livro O Conflito com o Paraguai - A guerra do Brasil, contesta tais revisionistas e afirma que “a formação dos Estados nacionais da região foi a causa do sangrento conflito” (Jornal de Brasília, 12/7/1999). Os cambás (pretos, em guarani) foram decisivos para a vitória brasileira: “Muitas vezes as deserções eram tantas que batalhões inteiros dissolviam-se quando em marcha para o front. Na verdade, como temos notícia em cartas de Osório a Caxias, muitos brancos rio-grandenses também desertavam. Porém, negros da Corte ou de todo o vasto Império lutavam bravamente e eram raríssimos os casos de deserção. O bom, forte e sacrificado sangue africano foi decisivo e insubstituível nas conquistas da guerra e, portanto, para o seu desfecho, com a vitória triunfal do Império” (PERNIDJI, 2010: 55-6). (4)

Vale lembrar que Caxias levou uma novidade ao campo de batalha: o balão aerostático, para reconhecimento do número de canhões do inimigo. Para tanto, trouxe o polonês-americano Chodasiewicz, perito no assunto. “Dizem que os paraguaios, quando viram o balão subir, caíram de joelhos e rezaram à Virgem e a Tupã, dizendo que o marquês tinha parte com o demônio e que, com os negros, levaria todos os homens para trabalhar nos saladeiros no Rio Grande, enquanto as mulheres, como escravas, iriam para a luxúria dos soldados, todos dentro do balão” (PERNIDJI, 2010: 94-5).

Enfoques revisionistas marxistas têm o mesmo valor histórico de “O Quinto dos Infernos”, minissérie da TV Globo que trata com desrespeito a História de D. João VI e D. Pedro I, com baixaria de toda ordem. Ou da novela chapa-branca do SBT, Amor e Revolução, apresentada em 2012, que serviu para achincalhar o Exército Brasileiro - uma cortesia de Sílvio Santos ao governo do PT, pela ajuda financeira ao imbroglio PanAmericano. Nesse mesmo ano, o SBT promoveu a votação de O maior brasileiro de todos os tempos. Para tristeza de muitos, Lula ficou pelo caminho, sendo vencedor o espírita Chico Xavier.

O mesmo maniqueísmo é visto na atual Comissão Nacional da Verdade - o Pravda tupiniquim - que tenta reescrever a recente história do Brasil dentro da ótica dos antigos terroristas de esquerda. Além de assassinar a História, de modo que prevaleça a versão da esquerda, o objetivo do governo revanchista de Dilma Rousseff é desviar a atenção de problemas complexos, que são jogados nos porões do esquecimento. Por exemplo, a Secretaria de Direitos Humanos, fazendo eco ao embuste esquerdista, lamenta os cerca de 400 “desaparecidos políticos” do governo militar, porém Maria “La Pecosa” do Rosário (5) não mostra nenhuma emoção, nem revolta, pelos cerca de 50.000 brasileiros que desaparecem todos os anos no Brasil, como noticiou o Jornal Nacional do dia 24/5/2012. Só no pequeno Distrito Federal, mais de 3 pessoas desaparecem todos os dias. Em 10 anos de governo do PT, houve um verdadeiro holocausto brasileiro, desconhecido pela grande mídia. Não me refiro aolivro de Daniela Arbex, mas aos cerca de 1.200.000 brasileiros violentamente mortos nos últimos 10 anos – anualmente, morrem cerca de 60.000 brasileiros em acidentes rodoviários e outro tanto são assassinados.

Recentemente, as Organizações Globo criaram um site, para apresentar a Memória do conglomerado empresarial. No dia 2 de setembro de 2013, requentando um texto publicado pelo jornal O Globo, o apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, lamentou que O Globo tenha publicado em 1984 umEditorial, em que Roberto Marinho fazia um balanço positivo do governo dos militares. Bonner disse que o “apoio ao golpe de 1964 foi um erro” - na verdade, houve um contragolpe, pois desde 1961 oscomunistas brasileiros planejavam tomar o poder, com a participação de cubanos, e em janeiro de 1964 o traidor Luiz Carlos Prestes foi prestar contas a seus chefes, no Komintern, em Moscou, dizendo que “os comunistas já estão no governo, só falta tomar o poder”.

É vergonhoso a Globo, hoje, tentar modificar a História, repudiando o Movimento militar de 1964, que foi exigido por toda a sociedade, como se pode comprovar lendo os noticiários da época, quando a quase totalidade dos jornais inicialmente exigiram e depois apoiaram a derrubada de João Goulart. O mesmo pode ser conferido na edição extra da revista O Cruzeiro.
O capitão do Exército José G. Pimentel, em seu site, afirma o seguinte: “Em 1 de abril de 1964 o jornal O Globo não circulou, uma vez que fuzileiros navais, comandados pelo Almirante Aragão, a soldo de Jango, ocuparam as instalações do jornal. No dia seguinte, libertos, publicaram o editorial intitulado Ressurge a Democracia. Amanhã, caso os black blocs e os movimentos sociais, sabe-se lá a soldo de quem, impedirem a circulação do jornal, a quem a direção de O Globo irá recorrer?” Na verdade, tenho certeza de que O Globo não chegará a essa situação difícil, pois os novos donos já fizeram sua opção preferencial pelo apoio à esquerda bolivariana de Lula-Dilma junto com seus parceiros ideológicos Maduro-Correa-Cristina-Evo-Ortega - com a supervisão dos manos Castro, de Cuba. Desde que a verba bilionária proveniente da publicidade governamental continue a cair no cofrinho dasOrganizações Globo, os descendentes de Roberto Marinho não terão nenhuma vergonha de transformar seu jornal num Granma brasileiro.

Em seu novo Editorial, o “esquadrão de reescritores” orwelliano que hoje comandam o principal conglomerado brasileiro de comunicação, “magoados com a história”, finalizam dizendo pomposamente que “a democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma”. Se os atuais revisionistas das Oganizações Globo têm tanto apreço pela democracia, por que não se posicionam firmemente contra a entrada de milhares de espiões cubanos, fantasiados com jalecos brancos, os quais, de acordo com o objetivo final do Foro de São Paulo, têm como missão primordial ajudar o governo petista e aliados a dinamitar a democracia e instalar um regime comunista no Brasil, como o que já existe na Venezuela? Por que não denunciam a remessa de cerca de R$ 1,3 bilhão à ditadura cubana, que será feita em 3 anos, à custa do trabalho escravo dos “médicos” cubanos?

Será que algum dia os “reescritores” globais irão também fazer um mea culpa a respeito da farsesca edição que a TV Globo fez do debate ocorrido entre Lula e Collor, na campanha presidencial de 1989, em proveito deste último? Com certeza, os revisionistas globais também repudiam o antigo programaAmaral Neto, o Repórter, que apresentava as pujantes obras do governo militar, ao mesmo tempo que devem aplaudir o de Caco Barcelos, que obteve a façanha de criar uma mentira premiada, que foi desmascarada pelo coronel do Exército José Luis Sávio Costa.

No Brasil, o passado é cada vez mais incerto. Chegará o dia em que os mestres esquerdistas do engodo, dentro do espírito da criação de inúmeros bantustões brasileiros e da anticomemoração dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, irão devolver a Portugal as caravelas de Pedro Álvares Cabral. Quem sobreviver, verá!


     Notas:

   (1) TAVARES, José Giusti (org.); SCHÜLLER, Fernando; BRUM, Ronaldo Moreira; ROHDEN, Valerio.Totalitarismo Tardio - o caso do PT. Editora Mercado Aberto Ltda, 2ª Edição, Porto Alegre, RS, 2000.
 (2) NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da História do mundo. Leya, São Paulo, 2013.
 (3) NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da História do Brasil. Leya, São Paulo, 2009.
 (4) PERNIDJI, Joseph Eskenazi; PERNIDJI, Mauricio Eskenazi. Homens e Mulheres na Guerra do Paraguai. Bibliex, Rio, 2010.
 (5) Durante a Guerra Civil Espanhola, foram inúmeras as atrocidades feitas pelos comunistas contra os católicos, especialmente frades e freiras, muitos deles canonizados pelo Papa João Paulo II. O clero era numeroso: 20.000 monges, 60.000 freiras, 35.000 padres, numa população de 24,5 milhões de pessoas. “Onze bispos, um quinto do total, foram assassinados, 12% dos monges, 13% dos padres também. Os chacinados foram reverenciados no famoso poema de Paul Claudel, ‘Aux martyrs espagnols’: ‘Soeur Espagne, sainte Espagne, tu as choisi! Onze évêques, seize mille prêtres massacrés et pas une apostasie!’. Cerca de 283 freiras foram mortas, algumas estrupradas antes da execução. (...) Na provínvia de Ciudad Real, a mãe de dois jesuítas foi assassinada com um crucifixo empurrado garganta abaixo. O pároco do Torrijos foi açoitado, coroado de espinhos, forçado a beber vinagre; colocaram-lhe um pedaço de madeira amarrado às costas e foi então fuzilado, mas não crucificado. O bispo de Jaén foi assassinado juntamente com sua irmã, na frente de 2.000 pessoas; seu carrasco era uma mulher da milícia, a feroz ‘La Pecosa’ (A Sardenta). Alguns padres foram queimados vivos; alguns tiveram sua orelhas decepadas” (JOHNSON, 1994: 273-4) (6).
 (6) JOHNSON, Paul. Tempos Modernos - O mundo dos anos 20 aos 80. Bibliex e Instituto Liberal, Rio, 1994 (Tradução de Gilda de Brito Mac-Dowell e Sérgio Maranhão da Matta).


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