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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Entenda o pensamento distorcido de Celso Ming sobre deflação


A Coluna de Celso Ming no Estadão do dia 19 de novembro de 2013, intitulada “Entenda a Deflação”, leva-me a indagar se a obstinação pela doutrina keynesianista constitui um caso de ignorância dolosa, que aflige primeiro o agente para que este em seguida saia por aí proclamando suas falácias acreditando piamente no que fala. 

Por Klauber Cristofen Pires


Em seguida, vou comentar os principais parágrafos do seu artigo:

Muita gente no Brasil acha que deflação é uma queda geral de preços apenas episódica que não dura mais que dois meses. Isso não é deflação, é inflação negativa. A deflação acontece quando os preços caem de maneira constante durante um período relativamente longo.”.
O parágrafo não explica qual a diferença essencial entre o que chama de inflação negativa e o que tem propriamente por deflação. Etimologicamente, ao menos, observa-se uma contradição em termos: imagine uma pessoa que tenha emagrecido, mas que, dado que isto se deu em um período relativamente curto de tempo, haveríamos de afirmar que ela “engordou negativamente”, ou ainda, pensemos em um pneu murchando que alguém avise: “- este pneu está inflando negativamente!”. É de doer, não é?
Os efeitos da deflação são tão ou mais perniciosos do que os produzidos pela inflação. E é mais fácil compreender a deflação pelos seus efeitos do que pelo seu conceito.
Aqui o autor deveria explicar por que no século XIX houve uma deflação continuada por mais de cinqüenta anos em países como os EUA e a Alemanha sem que tenha havido nada de pernicioso, pois as pessoas tiveram aumentado seu poder de compra incrivelmente, sem que tenha havido endividamento público ou privado. Isto eu explicarei mais à frente.
Uma deflação é uma tragédia para grandes devedores, porque os compromissos permanecem os mesmos enquanto preços e renda caem. Ou seja, na prática, a dívida fica mais alta. Quem, por exemplo, comprou uma casa e tem muitos anos para pagar prestações mais ou menos fixas, em caso de deflação acabará pagando mais do que vale a casa - se sobreviver financeiramente até lá. Por aí já se vê que, em tempo de deflação, a regra geral é evitar levantamento de empréstimos e a atividade bancária é prejudicada.
No caso de dívidas de longo prazo com prestações fixas, muitas pessoas podem tentar renegociá-las, sendo que os credores terão interesse em aceder, tendo conhecimento que é melhor oferecer algum desconto do que ter suas hipotecas simplesmente abandonadas. Vale também lembrar que estas mesmas pessoas vão lucrar com bens e serviços mais baratos, tendo, pois, à sua disposição mais capital disponível para pagar suas dívidas.
Da mesma forma que os indivíduos antecipam-se perante expectativas de inflação, assim o fazem também em tempos de deflação. Os empresários operam com previsões de custo e lucro, de modo que renegociarão com seus fornecedores os preços dos seus produtos.
Dizer que em tempos de deflação a regra geral é evitar o levantamento de empréstimos e que a atividade bancária é prejudicada requer uma explicação mais minuciosa: desde Bretton Woods, vivemos em um regime monetário caracterizado pelo papel-moeda de curso forçado, isto é, sem absolutamente nenhum lastro e que circula as mais das vezes por força de leis que obrigam a sua aceitação em regime de monopólio contra moedas de outros países, ou contra moedas em metal valioso. A este fenômeno, por sua vez, surgiu o sistema bancário de reservas fracionárias, que consiste basicamente no fato de que os bancos podem emprestar o mesmo dinheiro aos clientes A, B, C..., isto é, praticamente sem solução de continuidade. Se você, leitor, comparou isto a um ato de estelionato, tenha certeza: é isto mesmo!
Portanto, tanto os governos, por meio de emissão desmedida de moeda sem a correspondente geração de riqueza, quanto os bancos, ao emprestar dinheiro que não existe, dão margem ao crédito fácil, confundindo o mercado o mercado, que por sua vez investe largamente em atividades não produtivas e de menor urgência para as pessoas em geral.
Considerando o caso em comento pelo autor, isto é, da última tendência deflacionária enxergada nos países europeus, o que se vê aí não é uma deflação virtuosa como se viu nos EUA do Século XIX, causada pelo aumento da poupança e aprimoramento dos meios de produção, mas ao contrário, trata-se de um refluxo conseqüente a um período prévio de abusados gastos públicos e de empréstimos a perder de vista. Não deixa, porém, de constituir-se num momento saneador, embora doloroso.
“Numa situação de deflação, empresas e consumidores adiam compras, porque apostam em que, mais à frente, serão beneficiados pela rebaixa de preços. Menos compras e menos investimentos tendem a puxar para baixo a atividade econômica e a contratação de pessoal. É também o que vai derrubar os salários e as rendas e, por sua vez, contrair ainda mais o consumo. Em países cuja população está mais insegura em relação ao futuro, o consumo cai por uma razão adicional: pelo aumento da poupança. As pessoas economizam mais porque imaginam que, lá na frente, vão precisar de mais dinheiro. Esse é, por exemplo, um fenômeno particularmente grave no Japão.”
Aqui o economista Celso Ming exala o odor keynesianista por todos os seus poros; com todas as letras, louva o consumo desmesurado como indutor da economia, lastreado em dívida, que sacrifica o futuro em benefício do presente, e não na poupança, que gera riqueza para a posteridade. O caso do Japão é um acumulado de erros, pois sua economia é fortemente protegida, sendo antes este o fator de baixo crescimento do que de poupança propriamente. Em qualquer caso, o Japão tem se saído muito melhor do que a Europa, e que se diga: mil vezes a crise japonesa do que a brasileira.
Ademais, não passa de um mito afirmar que as pessoas vão segurar seu dinheiro pra sempre. Basta verificarmos o caso dos computadores e das tv’s de tela fina (Plasma, LCD e LED), cujos preços vêm baixando e que continuam vendendo muito bem, ou dos celulares do tipo Smartphone, que são um sucesso de vendas, embora venham baixando significativamente de preço. O que passa a existir, sim é um fenômeno saneador das atitudes dos consumidores e dos investidores. Sem dinheiro para pessoas que não produzem, que são as primeiras a recebê-lo em tempos de inflação, e sem crédito ilimitado, as pessoas passam a estimar suas prioridades de consumo com mais juízo e comedimento, e o dinheiro passa a fluir menos para o consumo imediato e mais para os investimentos, que gerarão maior poder de compra no futuro.
“Como a arrecadação do setor público está quase inteiramente baseada nos preços e nos valores, uma queda persistente dos preços tende a derrubar a arrecadação. O efeito seguinte é menos despesa pública, mais recessão, mais vida dura.”
De novo, o apelo keynesianista ao endividamento público como motor da economia. Eu aposto que o leitor intuitivamente já discorda deste princípio. O genial economista Ludwig von Mises afirmava que os economistas que ele mais admirava eram as donas de casa. Dou-lhe inteira razão. Não há nada na condução da economia de um país que, guardadas as proporções, diferencie-se do cuidado com o orçamento doméstico. Então, se você se endivida hoje, amanhã, inexoravelmente, o dinheiro à sua disposição irá diminuir, e você empobrecerá.
Além disso, há sim uma diferença crucial: o pai ou mãe de família aplica o seu próprio dinheiro no que acredita ser mais urgente e necessário, sob pena de sofrer diretamente com as decisões erradas que tomar. Já os governos gastam prodigamente o dinheiro dos outros, e dado que sua renda provém de impostos, são os cidadãos, e não ele próprio, que sofre por sua incúria.
Então, devemos lamentar que o governo deva passar a gastar menos, ou louvar tal mudança de rumo na administração dos recursos públicos?
O risco de deflação foi o principal fator que levou e continua levando grandes bancos centrais a emitir trilhões em moeda nacional. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) inventou o quantitative easing, que é a recompra de títulos no mercado à proporção de US$ 85 bilhões por mês que despeja dólares no mercado. O Banco Central Europeu (zona do euro) adotou o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM) para socorrer os bancos e acaba de derrubar os juros básicos para 0,25% ao ano. O Banco do Japão, orientado pelo primeiro-ministro Shinzo Abe, também está emitindo moeda, experiência que hoje está sendo chamada Abenomics.
A inflação é um roubo, causado pela expansão monetária. É como se o governo diluísse o leite diário do café da manhã de cada cidadão com um pouco de água, ficando com a respectiva parte para si para gastar. A inflação é também um crime de estelionato criado pelo sistema bancário de reservas fracionárias, pois o dinheiro do depositante permanece-lhe disponível, em concorrência com os tomadores de empréstimos, resultando que ambos vão disputar os mesmos bens e insumos disponíveis no mercado, gerando a alta de preços pelo aumento anormal da demanda e assim confundindo todo o planejamento dos empreendedores. Em uma sociedade cujo regime é o padrão-ouro, o dinheiro dos depositantes torna-se indisponível até o fim do contrato, quando então são remunerados pelo dinheiro que alimentaram o sistema de captação bancário. Isto entendido, compreende-se que o que o autor cita acima não passa de uma tentativa de os governos mancomunados com os bancos de manterem o atual estado de usurpação de riqueza produtiva, cujo resultado será o de provocar uma crise de ainda maior gravidade em um futuro qualquer.
“Também é a principal razão pela qual, nos países em que vigora o regime de metas, os bancos centrais nunca perseguem uma inflação inferior a 2,0% ao ano. Se errassem para menos, poderiam atolar a economia na deflação, de saída difícil.”
Se uma deflação é algo ruim, então o seu antídoto deve ser, logicamente, a inflação. Agora, baseado em tal premissa, em que uma baixa inflação pode ser aceitável e uma inflação alta, não? Uma inflação de 2% ao ano resulta em diminuir o poder de compra em 50% em cerca de trinta anos! Isto é ou não um considerável confisco de renda?
Um movimento de deflação pode sim gerar alguns inconvenientes, mas no geral, se estamos falando de uma sociedade pautada pela poupança e pelo dinheiro com lastro, é até bastante benéfica, no tanto que os salários são beneficiados cada vez mais por bens e serviços mais baratos.
Citando Frank Hollenbeck, “What’s so scary about deflation?(O que é tão amendrontador na deflação[i]?”
É verdade que a Grande Depressão e a deflação andaram juntas em alguns países; mas, nós temos de ser muito cuidadosos ao distinguir entre associação e causalidade, e então corretamente encontrar a direção da causa. Um recente estudo por Atkson e Kehoe por sobre um período de 180 anos em 17 países não encontrou nenhuma relação entre deflação e depressões. Na verdade, o estudo encontrou um número maior de episódios de depressão com inflação do que com deflação. Sobre este pe´riodo, 65 dos 73 episódios de deflação não estavam acompanhados de depressão, e 21 de 29 depressões não tinham deflação.
Concluindo, Celso Ming está examinando um período de deflação que vem acontecendo na Europa em decorrência de um prolongado período de expansão monetária e crédito fácil e ilimitado, quando os governos sacrificaram a atividade produtiva de seus respectivos países com suas políticas de Welfare State, e confunde a febre do paciente, que revela o seu estado de recuperação, com a própria doença que o acometeu. Daí a receitar mais açúcar para o diabético, para ficarmos numa expressão que já se tornou clichê, mas que funciona por sua gritante clareza.
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[i] It is true that the Great Depression and deflation went hand in hand in some countries; but, we must be careful to distinguish between association and causation, and to correctly assess the direction of causation. A recent study by Atkeson and Kehoe spanning a period of 180 years for 17 countres found no relationship between deflation and depressions. The study actually found a greater number of episodes of depression with inflation than with deflation. Over this period, 65 out of 73 deflation episodes had no depression, and 21 out of 29 depressions had no deflation.

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