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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Quando se subestimam as ideias

Consagrado ao liberalismo da tradição clássica e Escola Austríaca de Economia. Editor e Redator: Ivan Lima – Janeiro de 2014 – Belém – PA.

“Todo ordenamento social existente é o produto de ideologias previamente pensadas. Numa sociedade, novas ideologias podem surgir e suplantar as antigas e assim transformar o sistema social. A ação é sempre dirigida pelas idéias; realiza o que foi antes pensado”. Ludwig von Mises, Cap. IX, O Papel das Idéias, Ação Humana – vol. 1, pag.263. (Ordem Livre/Instituto Liberal)
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Quando se subestimam as idéias

O que acaba de ocorrer no Chile, com a vitória nas urnas da candidata socialista Michele Bachelet, com um programa mais radical do que quando foi eleita a primeira vez presidente, diz bem do que pode ser uma grave falha dos liberais, no comando de nações, ou fora dele: subestimar o poder das idéias, não dando a elas uma atenção muito mais específica, disciplinada e consistente na batalha ideológica. O problema não é novo, basta lembrar que quando dominava o cenário político no mundo no século XIX, ¹tendo o apoio das massas, dos intelectuais, e trazendo juntamente com o capitalismo e o padrão ouro uma era sem precedentes em qualidade de vida, paz e liberdade para a história humana, que tem conseqüências benéficas até hoje, os liberais, achando que a humanidade não ia mais recuar, acomodaram-se quanto à importância do papel das idéias.


E, paralelamente, já no final do aludido século, havia gente, pouca, que se reunia em alguns salões e cafés europeus, para discutir uma nova/antiga idéia: o coletivismo, agora com a denominação de socialismo, e o auto-status de “científico”. E, logo desde o nascedouro daquela ideologia, os liberais não deram importância a elas, não lhes dando combate no campo das idéias mostrando sua inconsistência e esterilidade ante a questão, por exemplo, da produção humana e o problema da escassez, e confrontando-as com a lógica e as bandeiras do liberalismo como o princípio de igualdade perante a lei, autodeterminação dos povos, governo representativo, liberdade econômica, etc. Lá estavam Karl Marx, e outros “filósofos” propondo para os  intelectuais e estes levando ás massas, uma “nova ideologia” para a humanidade: o nascimento de uma era de eterna felicidade, fundamentalmente baseada na expropriação de quem mais tinha para distribuição entre os proletários, (ação Hobbyn Hood, roubar dos ricos para dar aos pobres...) e coletivização dos meios de produção visando o fim da “injustiça social”... 

Com a teoria socialista de que as massas empobreceriam cada vez mais e sempre com a exploração capitalista, - afirmação de Karl Marx com arrogância profética desmistificada pela história na ação dos indivíduos na troca de bens e serviços - sendo muito bem trabalhada pelos intelectuais junto ás massas; e não tendo havido o adequado combate, pelos liberais, no único campo em que o mesmo deve ser travado, o das idéias, o socialismo triunfou, não tanto só por seus méritos de trabalhar bem a inveja, o recalque, o moralismo, e a messiânica mensagem de um futuro dourado que nunca se realizará, mas também por essa que pode ter sido uma grave falha dos liberais em não dar combate com idéias ás idéias utópicas do coletivismo, longamente   tentadas,  com inúmeras frustrações, desde o filosofo Platão na Grécia Clássica. 

Aos liberais, falhou, por exemplo, o persistente combate com as suas idéias de sociedade de paz, prosperidade e liberdade, que proporciona a cooperação social pacífica e voluntária baseada na divisão do trabalho, cujos indivíduos na ação humana labutam por seu bem estar e conforto o que conseqüentemente leva á riqueza da sociedade; logo, esses interesses são evidentemente harmônicos, lógica confrontada com a idéia socialista de que os indivíduos, na sociedade, possuem interesses antagônicos e irreconciliáveis, e que para fazê-los cessar, só quando uma classe social dizimar a outra na revolução e ditadura do proletariado... Os resultados, como conseqüência das idéias, liberais e socialistas, podem-se evocar do testemunho da história: um século de liberdade, paz, e prosperidade, sob o liberalismo, (XIX) precedido de um século de genocídios, guerras, e tiranias, (XX) sob o socialismo e seus derivativos mais ou menos diets – nacionalismo e intervencionismo.

Em 1920, provando irrefutavelmente porque o socialismo não funcionava e nunca funcionaria – pela ausência de cálculo econômico – Ludwig von Mises publicou estudo detalhado e avassalador alertando o mundo sobre tal impraticabilidade: O Cálculo Econômico Sob o Socialismo. Mas já era tarde demais, pois as pessoas estavam inebriadas por aquelas idéias coletivistas, apreendidas dos filósofos pelos intelectuais e destes, repassadas com releitura popular ás massas. Socialismo sendo fé é cem por cento emoção, fundamentalismo doutrinário que prega a destruição, e refuta a razão. Mas, baseado em uma teoria, idéia, ainda que espúria, é uma questão intelectual, portanto é só por aí que pode ser vencido na batalha das idéias, confrontando-o com idéias que lhes sejam opostas, mostrando á luz da razão à inconsistência da sua teoria, das suas idéias. Ao não se efetivar o aludido combate e na explícita forma que a mesma requer como foi o caso do histórico liberal, certamente a curto, médio ou longo prazo a batalha será perdida. Pode-se citar, a título de ilustração do exposto, outro exemplo histórico, de como é fatal se subestimar o papel das idéias, e ele é bem conhecido de nós, brasileiros: os militares, no ciclo histórico de 64, venceram belicamente a guerrilha socialista, rural e urbana. Mas subestimaram o embate no campo das idéias, - além de agigantarem ainda mais o Estado ao invés de diminuí-lo, fechando o país ao mercado ao invés de abri-lo totalmente, - não só à tecnologia e a todo comércio, mas, sobretudo à previdência, saúde, e educação, especialmente com a universidade. Nesta, a sua falha crucial na aludida abstração das idéias, quando deixando Marx e todos os filósofos socialistas nas universidades não se permitiu entrar na grade curricular das mesmas, a sua contrapartida em idéias: a obra dos mestres da economia subjetiva como Carl Menger, Bohm-Bawerk, Jean Batiste Say e todo o extraordinário legado científico da Escola Austríaca de Economia e suas descobertas, incluindo a ciência criada pelo gênio de Mises, a praxeologia, ou ciência da Ação Humana, esta já considerada até por não liberais como a obra acadêmica do futuro. O resultado dessa tremenda falha dos militares em subestimarem as idéias? O trágico pensamento hegemônico de hoje, no cenário de ensino que vai do fundamental à universidade; nos meios de comunicação; na intelligentsia, na cultura, instituições e opinião pública, seguido de contínua criação (baseada na “Constituição Cidadã”) de ações de “justiça e direitos sociais” que viciam e corrompem as massas, criando ²privilégios e conflitos na sociedade; queimando imensos recursos e poupança dos indivíduos; manipulando a moeda e causando inflação; ferindo o principio de igualdade em face da lei; e, conseqüentemente, toda essa desenvoltura da ideologia dominante anteriormente subestimada, levando cada vez mais a nação para o caminho da miséria e do totalitarismo socialista.

No Chile, - já bastante aprisionado pelo império da escassez, do caos socialista e do poder paramilitar do desgoverno Allende – as Forças Armadas e sociedade promoveram mudanças e avanços significativos rumo ao mercado, abrindo, por exemplo, o país à previdência privada, desregulando leis trabalhistas, fazendo privatizações, etc. ³Os chilenos enriqueceram. Passado o período de exceção institucional, redemocratizou-se o país. Graças às mudanças capitalistas na economia o Chile é primeiro mundo em grandeza econômica per capta. Mas dormiu-se nos louros das privatizações, da parcial abertura do mercado, certamente achando que só isso bastaria, pois com essas medidas estaria definitivamente afastada a grave ameaça de se vir a tentar novamente empobrecer a sociedade com a esterilidade das idéias “econômicas” socialistas tentando moldar a natureza humana a elas, seguindo a ideologia da luta de classes. Fatalmente se subestimou o fundamental papel das idéias – não se dando, com as idéias liberais combate ás idéias marxistas – ou outras de cunho socialista - de modo muito mais consistente e adequado do que eventualmente possa ter ocorrido. Sim, fizeram-se reformas pela liberdade econômica: veio à modernidade, ambiente de prosperidade.   

Mas os militares chilenos tanto quantos os militares brasileiros parecem não entenderem – e não só eles - que a única função do Estado deva ser a de eficaz segurança do cidadão contra o crime interno e ameaça de opressão estrangeira, - administração da justiça e da paz, preservação da propriedade e garantia do funcionamento do mercado naturalmente inseridos nessa função - e que a arma mais eficaz para derrotar o inimigo de qualquer tendência socialista são as idéias liberais; o que necessariamente implica economia separada do Estado. 

Assim, é que apesar de toda a evidente e dinâmica realidade proporcionada pelo capitalismo aos indivíduos chilenos, - inclusive aos socialistas - faltou muito mais consistência de idéias liberais dando-lhes base para que fosse ocorrendo mudança de mentalidade ao longo do tempo, criando-se assim efetivo e duradouro ambiente para a mesma. Com base individual consciente em termos ideológicos liberais, esse ambiente proporcionado pelo individualismo metodológico, antepondo-se ás idéias socialistas e ganhando cada vez mais terreno na batalha das idéias com os intelectuais coletivistas, conseqüentemente ganharia, com o tempo, o domínio da opinião pública. Não foi mostrado, sobretudo ás novas gerações, que as idéias socialistas de igualitarismo na realidade não resistem nem mesmo ao suave sopro de uma brisa, pois são inconsistentes, irrealizáveis, ineficazes, utópicas, por fundamentalmente não possuírem o cálculo econômico, e ignorarem as inexoráveis leis econômicas; paralela e conseqüentemente, as idéias socialistas criam trágica escassez, - como fartamente a história demonstrou - porque também proíbe a livre produtividade humana coexistindo na cooperação social voluntária da troca de bens e serviços baseada na divisão do trabalho. Seria de fundamental importância também, - não só naquele histórico cenário chileno – mas a qualquer época e país que se abrisse no ensino de todos os níveis, ampla grade curricular ás idéias do subjetivismo econômico da Escola Austríaca de Economia, para que os jovens estudantes soubessem, com liberdade, que existe uma realidade, uma alternativa, outra perspectiva e visão em que está inserido o indivíduo na ação humana e que ela sendo racional, conjuga rico legado de conhecimento, antigo e moderno, com prosperidade e liberdade. 

Paralelamente, também em qualquer época e lugar, sempre se fará necessário a promoção do debate, e a  defesa das idéias do subjetivismo econômico em todas as instancias sociais, sobretudo com a intelectualidade e formadores de opinião, medida, repito, fundamental para o adequado embate das idéias e vitória da liberdade sobre a ideologia da miséria e da tirania. Sim, mudança de mentalidade é lenta, demorada, sobretudo quando estão arraigadas há gerações no seio social, cativo de idéias inexeqüíveis, utópicas, e sempre com farta alimentação financeira estatal e suas leis intervencionistas, como as trabalhistas. Idéias, já se disse, têm conseqüências. E a ausência de importância que sé dá a elas num cenário em que o inimigo não dá tréguas com as suas no combate ás oponentes só pode parecer incompreensível para quem ignora o papel das idéias. Se uma estrutura social não estiver solidamente alicerçada em idéias outra idéia, por mais esdrúxula e ilógica que possa parecer, pode vir a suplantá-la. E a curto, médio e longo prazo, poderá ser desastroso para a prosperidade, a paz, e a liberdade dos indivíduos.  E se pode ter mesmo no curto prazo histórico, resultado como esse: o eleitorado chileno, não tendo mudado pelo menos parcial, mas convictamente de mentalidade, continua inebriado com as idéias da doutrina socialista de antagonismo, exploração, e conflitos de interesses irreconciliáveis, sempre continuamente trabalhadas pelos intelectuais, artistas e políticos em toda a sociedade, mostrando, que essas idéias sim, no acerto final da luta de classes é que redimirão, definitivamente, todos os males chilenos e da humanidade; em vista disso, o eleitorado chileno – também viciado e corrompido pelas nefandas políticas de proventos sociais do Estado - novamente desautorizou nas urnas, o mercado, o capitalismo, e o demônio que o marxismo lhes pintou como sendo o liberalismo. 

Tentou-se, no Chile, ao longo dos últimos anos mostrarem-se com as idéias, por exemplo, por que o socialismo é inconsistente e não só que ele é abjeto? Por que ele é irrealizável, e não só que é destrutivo? Por que ele peremptoriamente ignora as inexoráveis leis da economia e não só que traz miséria e tirania? Mostrou-se, com insistência, em debates e exposições de idéias, dentre as muitas falácias e contradições marxistas, a que ele próprio, Marx, por exemplo, estabelece em O Capital e que relaciona o valor ao custo de produção (terra, tempo, e capital para a produção de um bem – volume III) contradizendo sua própria concepção de que só o trabalho é o único fator de produção que cria valor, conforme afirma no volume I da aludida obra? (... ”pois a natureza é passiva”, diz Marx...)

Sim, outra vitória socialista no Chile pode parecer desalentadora em face do infinito diferencial estabelecido entre os sistemas coletivista e individual. Mas é compreensível sob a ótica do papel das idéias, quando elas são subestimadas – sim, se podem argumentar fatores de componentes residuais menores, como forte cultura marxista de emigrantes europeus, além, claro, do fator alternância no poder ser próprio do governo representativo, possibilidade vedada numa efetiva tirania socialista. Trata-se de se fazer as correções necessárias ao longo do tempo. Mas muito longe de achar que está tudo perdido. Os avanços proporcionados por apenas 4duzentos anos de liberalismo e capitalismo foram tão significativos para o ser humano – e continuam sendo, mesmo num mundo de mentalidade socialista que até os próprios socialistas de hoje – pelo menos os que estão no poder, no mundo dito democrático, já não falam em destruição do mercado, como Lênin efetivava e teve que recuar -“a Rússia está á beira do abismo”, ouviu de Trotsky - criando a 5N. E.P; pois destruição do mercado equivale a destruir a sociedade. Evaporado o socialismo real com a União Soviética e o Leste Europeu, os socialistas agora afagam o mercado, mesmo com a corrente da coleira em uma das mãos e o chicote das regulações intervencionistas na outra. Mas a liberdade virá. Para a garantia da civilização, lutemos no campo das idéias, como é próprio dos liberais, mas de modo muito mais consistente e adequado; e certamente não um nem dois, mas muitos séculos de paz, prosperidade e liberdade estarão assegurados para o avanço da civilização com outra era liberal. 
Ivan Lima
Ivan Lima, 63, é publicitário. Fundador do boletim Ordem Liberal.
E-mail: ivanlima8@hotmail.com - Ordem Liberal também é publicado em LIBERTATUM. (search Google, visite)

Governo Limitado - Propriedade - Liberdade – Paz 

l ...é digno de registro no histórico do papel das idéias e não somente concernente ao liberalismo clássico, o avassalador sucesso mundial de “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, (obra de oitocentas e tantas paginas) derrotando toda a profusão panfletária do mercantilismo, vindo a suplantá-lo em seu domínio mundial e instaurando com as idéias liberais um novo tempo para a compreensão, o progresso e a liberdade do homem. ²”no imperativo kantiano, uma norma para ser justa, deve ser geral e aplicável à cada única pessoa da mesma forma. A norma não pode especificar direitos ou obrigações diferentes para categoria diversas de pessoas (uma para os cabeças – vermelhas, e uma para os outros, ou uma para as mulheres e outra diferente para os homens), porque uma tal norma “particularista”, naturalmente, jamais poderia, nem mesmo em princípio, ser aceita como justa por todos”. Uma Teoria sobre Socialismo e Capitalismo, Capitulo 1 pagina 07, – de Hans Hermann Hope – tradução do amigo Klauber Pires – LIBRTATUM – (search Google, visite). 3na vitória de Bachelet, quanto ao Chile de hoje, a imprensa argumentou o de sempre sob a degradada ótica socialista: “a riqueza ficou nas mãos de poucos...” Como o igualitarismo é impossível, se denigre os extraordinários avanços para o progresso humano como o efetivado pelo capitalismo no país. 4o liberalismo é jovem, legado do esforço da mente humana por bem estar e evolução desde a origem dos tempos, do estudo de homens como o filósofo Aristóteles, - que há milênios já intuía a importância da divisão do trabalho para o progresso humano; vindo com essa evolução através dos tempos e mentes brilhantes até se chegar ao século XVII com os Fisiocratas; citem-se também os filósofos escolásticos, e estudiosos como os franceses Cantillon e Turgot; até se chegar aos economistas clássicos como Smith e Ricardo; - sim, apesar do equívoco de ambos quanto ao valor trabalho, posteriormente corrigido por Carl Menger com o subjetivismo do valor, já com a sua Escola Austríaca de Economia. E, claro, toda a obra de Ludwig von Mies e a criação por ele da praxeologia, de certa forma completando assim de modo brilhante um longuíssimo ciclo para a compreensão da ação humana. Apesar de tudo, no cenário mundial, as bandeiras liberais estão mais vivas que nunca; e inserido no seu ideário, também vivíssima a economia de mercado, ou capitalismo. Ela é  evidente, dinâmica e expansiva (o mercado já é mundial, todos o adotam, embora ainda muito parcialmente, inclusive inimigos como a China, Vietnam) como a própria ação humana que o origina. No campo das idéias, o liberalismo opera no mundo uma revolução silenciosa através de institutos, sobretudo no extraordinário meio de difusão das idéias que é a internet – criação, juntamente com o computador, do ambiente de liberdade só proporcionado pelo capitalismo - e onde, o nosso boletim Ordem Liberal dá sua modesta contribuição á causa da liberdade. 5 a N. E. P, - Nova Política Econômica - de certa forma, veio a se tornar uma das mais importantes inspirações e implementos institucionais, juntamente com as leis trabalhistas alemãs de 1.820, e, mais aqui, com as idéias econômicas estapafúrdias de Lord John Maynard Keynes, do intervencionismo estatal na economia, em todo mundo.  

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