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sexta-feira, 21 de março de 2014

Guerrilha do Araguaia: uma resposta a Dona Taís

Um site na Internet, www.guerrilhadoaraguaia.com.br, agora, 40 anos após os fatos, destina-se especificamente a glorificar de forma despropositada os guerrilheiros do Araguaia.


Em um dos artigos ali contidos – “A Guerrilha do Araguaia sob outro Prisma” -, a jornalista e uma das responsáveis pelo site, Taís Morais, que por coincidência é também jornalista do Correio Braziliense, jornal que num “furo de reportagem”, publicou algumas fotos de um padre, dando-o como sendo Vladimir Herzog, inventa uma pequena historinha dizendo ser “a verdade sobre a Guerrilha do Araguaia”.

Inicia o artigo referindo-se à “tão sofrida, tão abandonada e tão torturada” (sic) população “da região do Bico do Papagaio”. Prossegue, escrevendo que “é claro que os sobreviventes da Guerrilha do Araguaia são heróisAssim como os assassinados depois de presos. Os abatidos em porões da ditadura ou cruelmente assassinados nas ruas das metrópoles também têm seu valor. Quanto aos guerrilheiros mortos em combate, uma salva de palmas para eles (...) A juventude do PC do B, impulsionada pela flama da paixão patriota, deve ter se orgulhado de tombar na luta pela melhoria de vida da população ...”

Prossegue a dona Taís: “Numa luta armada com armas velhas e munição insuficiente para enfrentar um Exército que em vez de compreender as aspirações de liberdade (sic),executava a sangue frio o pequeno contingente disposto a brigar”.

Ao final, uma ode aos civis e militares que lutaram e morreram no Araguaia. “Homens que não escolheram ir para o Araguaia. Decidiram por eles”.

O que a dona Taís como jornalista não poderia deixar de saber e, sabendo, a ética profissional deveria tê-la impedido de enganar seus leitores:

Que não foi o Exército quem inventou a Guerrilha do Araguaia.

Que na década de 60 e início da de 70, a tática utilizada pelo modelo cubano de revolução em toda a América Latina consistia em utilizar um pequeno grupo de revolucionários dispostos ao sacrifício. Esses revolucionários obtinham armas, montavam um razoável sistema de abastecimento, de propaganda, sabotagem e recrutamento nas cidades e transformavam-se em um foco militar e político, um foco guerrilheiro, que deveria catalisar todas as rebeldias e ir crescendo de forma inexorável, até transformar-se em um exército popular, ganhar a população, derrotar o inimigo e empolgar o Poder. Ora, os fatos comprovam que essa tática revelou-se uma utopia e causou uma montanha de mortos.

Que o esquema chinês, que o Partido Comunista do Brasil tentou transferir para as selvas do Araguaia, consistia no cerco das cidades pelo campo através de uma guerra popular prolongada. Foi esse o modelo importado pelo PC do B, após mandar um grupo de militantes receberem treinamento armado na Academia Militar de Pequim, ainda no governo João Goulart quando não existia nenhuma ditadura e nenhum governo militar. Esse grupo saiu do Brasil em 29 de março de 1964!

Que ao contrário do que escreveu a dona Taís, os guerrilheiros do Araguaia nunca conseguiram um real e efetivo apoio da rarefeita população da área em que se instalaram, constituída, em sua quase totalidade, por camponeses oriundos do Norte e do Nordeste do país, com quase nenhum grau de instrução, sem condições intelectuais, portanto, de absorver a sofisticada ideologia científica. Nesse sentido, em abril de 1972, 6 anos após a chegada dos primeiros guerrilheiros, egressos de Pequim à área estratégica, ainda não se sentiam seguros para iniciar o trabalho de cooptação ideológica dos moradores locais. Procuravam apenas buscar o reconhecimento da sofrida população através de precários atendimentos médicos e farmacêuticos.

A dona Taís deveria saber, e se sabe e não escreveu foi por absoluta ausência de ética, que em 1966, quando o núcleo da guerrilha chegou ao Araguaia ainda não haviam eclodido os distúrbios estudantis – que tiveram seu ápice no Maio francês e no Brasil em 1968 – e a guerrilha urbana estava ainda em seu estágio inicial, marcada pela bomba explodida no Aeroporto dos Guararapes, em 25 de julho de 1966.

Deveria saber que, na verdade, o senhor João Amazonas, dirigente máximo do PC do B desde que ele foi constituído e a senhora Elza Monerat, integrante do Comitê Central do partido, responsável pela tarefa de conduzir de São Paulo para o Araguaia os jovens militantes recrutados nas cidades – ambos já falecidos –, é que deveriam ter sido responsabilizados pelos familiares dos mortos na louca empreitada por eles imaginada, abandonados, pela direção do partido, à própria sorte, sem as mínimas condições de sobrevivência e de luta. Ambos desertaram em abril de 1972, no início da luta, refugiando-se em São Paulo e não mais voltando ao Araguaia.

Seguramente a dona Taís, estudiosa do assunto, não desconhece que de acordo com os manuais da doutrina científica o proletariado é que seria o coveiro do capitalismo. No entanto, dos guerrilheiros recrutados para o Araguaia, 44% eram estudantes universitários, 8% secundaristas, 16% profissionais liberais e 12% comerciários, bancários e outros. Ou seja, mais de 70% dos militantes engajados pelo partido na louca empreitada não eram operários, força motriz da revolução. Operários eram apenas 6%. Isso tem um significado: o fraquíssimo enraizamento do partido do proletariado nesse mesmo proletariado, considerada a categoria social básica para o êxito da luta revolucionária. Isso foi reconhecido pelo ex-guerrilheiro Jose Genoíno Neto em uma avaliação tornada pública em 1979 e também deveria ter sido cobrado, pelas famílias dos mortos, ao senhor João Amazonas.

Certamente a dona Taís, como jornalista que é, não desconhece que o senhor João Amazonas, em 16 de maio de 1996, ao prestar depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, distorceu os fatos, alegando que a luta foi desencadeada em “favor dos oprimidos”; que a guerrilha era uma “resposta do povo ao Ato Institucional nº 5(de 13 de dezembro de 1968) (!) e que os militares “atuaram como bárbaros, violando a Convenção de Genebra”. Ao final de seu depoimento, João Amazonas, com desfaçatez, considerou o Araguaia “uma grande experiência”.

Também a dona Taís certamente não deve ignorar que a Convenção de Genebra não se aplica a guerrilhas, bem como que as perguntas formuladas ao senhor João Amazonas, nessa Comissão, foram feitas pelos deputados Inácio Arruda, Socorro Gomes, Haroldo Lima, Aldo Arantes, Jandira Feghali, Aldo Rebelo, Sergio Miranda e Lindberg Farias, TODOS, na época, membros do partido por ele dirigido. Ou seja, foi montado um pequeno circo, tendo faltado apenas a lona!

A dona Taís deve também saber, embora não tenha escrito, que a guerrilha possuía leis próprias, como um “Tribunal Revolucionário”, criado pela “Comissão Militar” que dirigia a guerrilha, e que esse “Tribunal” (eludindo a Convenção de Genebra citada por João Amazonas) “justiçou” pelos menos dois integrantes da própria guerrilha (“Mundico” e “Paulo”) que ousaram pensar com a própria cabeça e imaginaram poder abandonar a guerrilha, bem como três habitantes da região, por suspeita de colaboração com as Forças da Ordem, considerados, portanto, segundo a cartilha imposta pelo senhor João Amazonas, “inimigos do povo”.

O “Regulamento da Justiça Militar Revolucionária" definia as "penas” para as faltas consideradas graves dos guerrilheiros, bem como para os “inimigos do povo” capturados.

Em verdade, os “justiçamentos” são abençoados por Frei Betto, que em um livro de sua autoria “Nos Bastidores do Socialismo”, página 404, escreveu: “Quero deixar claro que admito a pena de morte em uma exceção: no decorrer da guerra de guerrilhas”.

A dona Taís certamente não deve também ignorar que toda uma série de crimes foi praticada pelos que se aventuraram na violência armada, na cidade e no campo. Livros recentemente escritos por militantes que sobreviveram revelam esses crimes. Não deve ignorar também, em suas pesquisas sobre o Araguaia, que o primeiro morto foi um militar.

É sim, verdade que, à vista disso, os militares envolvidos no combate à guerrilha, de moto próprio, seguiram à risca o que os Serviços de Inteligência de Israel fizeram após o massacre de Munique, em 1972, quando então a Primeira-Ministra de Israel, Golda Meir, ordenou “matar os que mataram”.

Finalmente, a jornalista dona Taís talvez não saiba que os promotores da guerrilha, que desde o primeiro momento sabiam da relação dos mortos e desaparecidos na louca empreitada, NUNCA informaram aos familiares desses mortos e desaparecidos o destino de seus filhos e irmãos. Talvez também não saiba que a direção do PC do B, partido que agora integra o governo, NUNCA fez uma autocrítica da Guerrilha do Araguaia, como se nada houvesse acontecido e continua, através de determinada mídia, a atribuir a culpa pelas mortes, prisões e desaparecimentos à “repressão desencadeada pela ditadura militar”.

E mais: em 1982, em seu 6º Congresso, o PC do B, com o partido já depurado dos militantes que o abandonaram, atribuiu, cinicamente, a fragorosa derrota sofrida no Araguaia, a “desacertos e insuficiências de natureza militar”, descartando suas responsabilidades, criticando o maoísmo e apontando a Albânia como o único país que permanecia fiel ao socialismo.

Um comentário:

  1. A história é para essa "gente" (vermes) um instrumento a ser manipulado a seu bel prazer. O jornalismo (idem) não passa de instrumento de ação na ñas mãos e mentes dos agentes revolucionários (psicopatas). Daí então, desinformação, mentira, assassinato de reputações, velamento de informações, destruição de fatos...). O cidadão normal não é uma pessoa, mas apenas uma coisa a ser manipulada, conduzida, dominada, extorquida, desrespeitada e jogada fora.

    Marco Antônio

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