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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014




ESPAÇO CULTURAL LIBERTATUM.
 
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 Bruno Tolentino







Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino (Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1940 — São Paulo, 27 de junho de 2007) foi um poeta brasileiro. Nascido numa tradicional e rica família carioca, conviveu desde criança com intelectuais e escritores, entre eles Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Foi ensinado a falar francês e inglês antes mesmo de se alfabetizar no português. 

Seu avô foi conselheiro do Império e fundador da Caixa Econômica Federal. Saiu do Brasil em 1964, mudando-se para a Europa, onde viveu por mais de 30 anos, tendo trabalhado com o poeta inglês W. H. Auden, e convivido com os escritores Giuseppe Ungaretti, Elizabeth Bishop e Samuel Beckett. Foi professor nas universidades de Oxford, Essex e Bristol, publicando obras em Paris e Oxford durante a década de 1970. Em 1987, é condenado à prisão de 11 anos, sob a acusação de tráfico de drogas. Cumpriu 22 meses da pena em Dartmoor.

Tolentino retornou ao Brasil em 1993, publicando, em 1994, o livro "As Horas de Katarina", pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura. Bruno também recebeu o prêmio em 2003, com o livro "O Mundo como Idéia", o qual escreveu ao longo de 40 anos.

No Brasil, o poeta teve um histórico de aparições na mídia devido a polêmicas. Numa entrevista a Revista Veja, em 1996, criticou Caetano Veloso, Chico Buarque e os irmãos concretistas Haroldo de Campos e Augusto de Campos. Teve também desavenças com críticos literários e professores de filosofia da Universidade de São Paulo.

Tolentino, que tinha Aids e já havia superado um câncer, esteve internado durante um mês na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, onde veio a falecer, aos 66 anos de idade, vitimado por uma falência múltipla de órgãos, em 27 de junho de 2007.

Nota de Libertatum. 

Bruno Tolentino foi um poeta extraordinário. Para mim, sem dúvida, um dos cinco maiores poetas da língua portuguesa, e o maior poeta contemporâneo do Brasil. Bruno não era um artista engajado, um falastrão politicamente correto. Antes pelo contrário. Atirava acido sulfúrico e napalm transvestidos nas muitas verdades que dizia na cara dos intelectuais esquerdistas e showzeiros intelectualóides incensados como gênios pelos acadêmicos bocós. Por isso era detestado pela mídia socialista, e ainda hoje, sua obra é ausente dos templos marxistas brasileiros, as universidades.Quem perdeu e segue perdendo? O Brasil, que oPTou por Zeca Tatu e Marilena Chaui... 

Felizmente, o território livre - ainda - da internet possui muitas referências sobre a vida e a obra de Bruno Tolentino disponibilizadas a quem se interessar por ele e sua vida de artista singular. Dentre as homenagens prestadas a Bruno Tolentino e disponibilizadas na internet encontra-se a do Filósofo Olavo de Carvalho em seu site Sapietiam Autem Non Vincit Malicia.

Bruno Tolentino lapidava com esmero de grande artista a poesia clássica, tinha imensa formação cultural, lecionou literatura no exterior, e foi muito admirado e elogiado por grandes nomes da literatura internacional, sobretudo grandes poetas. 

Ao perder uma namorada que morreu ao cair acidentalmente no fosso de um elevador, Bruno escreveu um poema em que, transtornado pela dor, chega a duvidar da onisciência divina. "O Divino Assassino", escrito em Terza Rima, é o nome dessa obra prima de Bruno Tolentino. 

Bruno Tolentino era um católico fervoroso, místico. Na estreia de Espaço Cultural Libertatum pulicamos, abaixo, em sintonia com a data natalina, o seu poema O Anjo Anunciador.  

Ivan Lima.


 — Ouve, Maria, a nossa 
(não, não te assustes!) é uma luminosa 
tarefa: retecer 
o pequeno clarão que abandonaram, 
o lume que anda oculto pela treva! 
Porque irás conceber! 
Porque a mão, desejosa 
e tosca, que O tentara 
reter, ainda que leve, 
desfez-se ao toque, assim como uma vez 
tocado o sopro se desfaz a avara, 
a dura contração do peito ansiado... 
Mas a haste, o jasmim despetalado, 
é tudo o que ainda resta 
dos canteiros do céu aqui na terra, 
que um seco vento cresta 
e uma longa agonia dilacera. 
No entanto a morte há de morrer se tu quiseres, 
ó gota concebida 
bendita entre as mulheres 
para que houvesse vida 
outra vez, e nascesse desse fundo 
obscuro do mundo, 
o ninho incompreensível do teu ventre. 

Não, não toques ainda 
nem a fímbria do manto nem o centro 
do mistério que anima a tua túnica: 
aguarda, ó muito séria, a ave mansa 
e recebe em teu corpo de criança 
a Verônica única, 
a enxurrada de pétalas te abrindo. 

Em tumulto reunidas, 
as cores da perdida Primavera 
vão retornar, virão 
numa enchente de asas, aluvião, 
púrpura, sempre-viva, nascitura 
estranheza do amor da criatura, 
constelação descendo ao rosto teu: 
é Ele, é O que reúne o coração 
e o grande anel da esfera, 
o fogo, a língua ardendo, o incêndio vivo, 
a coluna de luz, o capitel que se perdeu... 
Que eu 

venho anunciar apenas a um esquivo, 
humílimo veludo, a frágil chama 
que há de crescer em ti, que hás de ser cama 
ao parto do Perfeito, e hás de ser cântaro 
e fonte e ânfora e água, 
hás de ser lago 
em que as sombras se afogam, que naufragam 
no imenso, ó jovem branca como um lenço; 
hás de conter a lágrima 
do Infinito, o Seu vulto 
e os tumultos da luz na travessia 
entre a dádiva, a perda e a renúncia: 
quando de um certo dia 
cheio de luz amarga 

em que serás enfim a sombra esguia 
que O deu à luz e que O assistiu morrer... 
Atravessa, ó Maria, 
os abismos do ser, 
ouve este estranho anúncio 
e deixa-te invadir para colher, 
mais fundo que a razão 
e o corpo, o sopro cálido, o prenúncio 
da mais viva alegria: 
entreabre-te ao clarão 
da visita suave, 
mas terrível, terrível, deixa a ave 
do imenso sacrifício te ofender. 

Ó pétala intocada, 
hás de sofrer 
intensa madrugada 
e num lago de luz como afogada 
hás de durar suspensa 
entre a graça imortal e a dor imensa. 

Mas canta, canta agora 
como a fonte borbulha, como a agulha 
atravessa o bordado, 
canta como essa luz pousa ao teu lado 
e te penetra e tece a nova aurora, 
a nova Primavera e a tessitura 
do ramo que obedece e se oferece 
para o mistério e pela criatura. 

Canta a alucinação, 
o toque enfim possível dessa mão 
que há de colher para perder e ter 
o infinito que nasce do deserto 
e a semente que morre se socorre 
tudo o que no estertor tentava ser. 

Canta a canção do lírio e do alecrim, 
essa canção que és e que na treva, 
na escuridão da carne, andava perto 
da imensidade que te invade. E assim 
como o imenso te ampara, 
ó voz tão clara 
que consolas e elevas, 
vem, desperta, 
matriz da eternidade e d'O sem-fim, 
ó mãe de Deus, canta e roga por mim

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