Páginas

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Boris e o supermercado

Comentário de V. Camorim á matéria "Quando Boris Yeltsin foi fazer compras nos Estados Unidos.

 Num pequeno artigo do portal Libertarianismo, aqui publicado, Boris Yeltsin fica de queixo caído ao se deparar com a fartura exposta nas gôndolas de um supermercado no interior dos EUA. Era de se esperar que isso acontecesse no pais do socialismo, conforme afirmava Marx e Engles e não nos países do capitalismo. No capitalismo, diziam, os pobres ficam cada vez mais pobres e só no socialismo reinará a abundância. Boris que foi educado neste credo, estava crente em sua verdade. Tamanha foi a sua surpresa ao constatar que tudo que acreditava não passava de uma fábula. Alguma coisa de errado. Mas o que e porque?

Nos idos de 1989 Boris fora visitar um centro espacial nos EUA no qual nada ali lhe pareceu surpreendente exceto quando esteve no supermercado. Era um monumento à fartura impensável na sua velha URSS. Porque isto não foi possível na união soviética, teria comentado. Não sei se alguém tenha dado a resposta a ele. Creio que ele tenha morrido sem saber a real causa do porque o socialismo não funcionou como também jamais funcionará. Pessoas assim são por demais ocupadas, envolvidas em mil ninharias do cotidiano que quase não tem tempo para a analise mais acurada dos porquês, alem do que sua assessoria invariavelmente tergiversa sobre o assunto ou dão outra interpretação. O artigo da revista também não explica o fato complexo, só o expõe para os leitores. Creio que acreditam ser o fato autoexplicativo. Mas vale trazer algumas palavras explicativas deste fato escritas por Yuri Maltsev no prefácio da obra de Ludwig von Mises, O Calculo Econômico sob o Socialismo, só com o intuito de ajudar o leitor a compreender melhor este fenômeno. 
Ele diz que .

"...(O) socialismo ...sendo um esquema ...utópico, ... ilógico ...antieconômico...(é) impraticável em sua essência. Ele
é “impossível” e destinado ao fracasso porque é desprovido da fundamentação
lógica da economia; o socialismo não fornece meio algum
para se fazer qualquer cálculo econômico objetivo — o que, por conseguinte,
impede que os recursos sejam alocados em suas aplicações mais
produtivas."


Embora a ex- URSS  fosse potencialmente rica em recursos estes não chegavam às prateleiras dos supermercados e a população vivia em um estado de extrema pobreza e insatisfação o que levou ao seu desmoronamento. Não se traduziam por bens da melhor qualidade nem na qualidade requerida. Os recursos eram esbanjados em uma escala alucinante. Sem noção da racionalidade terminaram secando um lago - Mar de Aral - que é mais do que um símbolo ao grande desastre que foi este experimento.

"O socialismo tentou substituir bilhões de
decisões individuais feitas por consumidores soberanos no mercado
por um “planejamento econômico racional” feito por uma comissão
de iluminados investida do poder de determinar tudo o que seria produzido
e consumido, e quando, como e por quem se daria a produção
e o consumo. Isso gerou escassez generalizada, fome e frustração em
massa."


O mercado não é algo esotérico, é real, humano, feito por gente mesmo. É simplesmente a interações de indivíduos comprando e vendendo bens e serviço. Neste sentido ele é inescapável. Ele é o exercício do direito de propriedade que seu dono põe a serviço de seu semelhante, se quer aumentar o seu grau de satisfação. É seu egoísmo que o torna generoso. A fricção desta interação, as trocas, faz surgir a moeda, o dinheiro, tornando-se o elemento fundamental do calculo econômico, o elemento que conduz todos os passos da ação humana, o que torna toda atividade humana racional. Se se anular a propriedade privada, toda as suas consequências são igualmente anuladas. Toda a sociedade tende a cair em um estado de decadência geral por perder o referencial que lhe empresta a racionalidade de suas ações. Ninguém sabe o que fazer, que meios são os mais adequados para atingir os fins propostos, se o que fazem atendem as expectativas dos consumidores pela melhor maneira, pelo menor preço na quantidade desejada. Tudo é apagado e o caos se estabelece. A miséria e a escassez vêm em seguida.

Quando Lênin decretou a transferência de toda a propriedade para a esfera do governo deu início a este processo que Boris acreditava até encontrar num simples supermercado.
Tem-se que insistir sempre e sempre neste ponto porque de outro modo a interpretação deste estado de decadência generalizado, a sua impossibilidade, será sempre atribuído à sabotagem de um inimigo, o boicote de uma superpotência, o bloqueio de um pais imperialista, a falha do líder máximo em não interpretar corretamente os dogmas da doutrina, ou mesmo porque uma parcela da população não compreende os nobres propósitos do grande líder, e como não quer se ajustar a seus planos perde o direito à vida, e devem ser eliminados para que então se alcance o supremo objetivo. 

Podem aventar todo tipo de desculpas, mas nunca à impossibilidade do cálculo econômico no ambiente socialista. 

V.Camorim, 66, é liberal e autodidata.
Camorim é articulista e ensaísta de LIBERTATUM 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá! Seja benvindo! Se você deseja comunicar-se, use o formulário de contato, no alto do blog. Não seja mal-educado.