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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Charlie Hebdo e a liberdade de opinião

Por V. Camorim

Os tiros na redação do Charlie Hebdo repercutiram no mundo todo e levantou uma onda de protesto em favor da liberdade de imprensa. Em Paris mais de quatro milhões de pessoas que se misturavam aos 40 chefes de estado que foram prestigiar o evento estavam crentes que se tratava de um atentado contra a liberdade de imprensa.  Desta vez todos pareciam unidos. Nestes momentos todos querem aparecer e pousar de mocinho e faturar politicamente.

Acho que tem muito de hipocrisia nisto tudo. Sobretudo falar de imprensa livre na França onde não se pode falar tudo que se pensar sem sofrer uma ameaça de prisão ou de multa pesada, ou os dois juntos. O próprio Charlie Hebdo não é um exemplo para a liberdade de expressão. A revista tinha despedido um cartunista só porque este tirou sarro com o filho de Sarkozy que se casara com uma rica herdeira judia. Nenhum daqueles chefes de estado que aparecem na foto puxando a multidão pode falar de liberdade de opinião. Acho que este teria sido o motivo da ausência de Obama, ele que é campeão nesta luta contra a imprensa.

Como tem sido posto a liberdade de imprensa é entendida como um assunto esotérico. Para outros é um assunto sagrado. Mas não é nada disso. É um assunto humano. A liberdade de imprensa é um conceito liberal, nasce com o capitalismo e só funciona nele. Fora do capitalismo a liberdade de imprensa é um arremedo onde prevalece o desejo de calar o adversário na força ou como faz o Charlie Hebdo, achincalhando seus desafetos. As pessoas não gostam deste subproduto da falta de liberdade de imprensa. Porem identificam-na como uma licenciosidade própria da liberdade de imprensa, um defeitos que se deve limitar.

O liberalismo parte de pressuposto que são as idéias que governam o mundo e que a liberdade de opinião trás o debate respeitoso porque  visa unicamente a razão, o entendimento lógicos dos problemas da sociedade que requer solução da melhor forma. O liberal não se importa com os defeitos pessoais. É diferente dos socialistas que querem aproveitar toda oportunidade para “acirrar as contradições” porque entendem que assim se aproximam da solução dos problemas.
O resultado final da luta entre o liberalismo e o totalitarismo de todo tipo será decidido pelas idéias e não pela força. Esta opinião não e aceita pelos totalitários que usam de todo artifício para neutralizá-la. Como se pode observar neste ato em paris, é visível o empenho de se limiar a imprensa falando em sua liberdade. Mas logo se contradizem pois quem tomar posição contraria a do governo neste momento conturbado tem sido alvo de agressão e até de prisão.

Charlie Hebdo é um pasquim da esquerda festiva que vive da polemica e da provocação, sobretudo dos muçulmanos. Para os seguidores do islã o simples fato de retratar Maomé já se constitui uma ofensa, por isso a revista de humor inconsequente era vista com certa antipatia, mas não passava disso, embora haja uma minoria que achava e ainda acha ser parte de uma guerra onde eles são constantemente desprezados.

 Os muçulmanos que já são cerca de dez por cento da população da França são considerados pessoas de ultima categoria. São marginalizados e não tem perspectiva de futuro. Por isso vivem em estado de constante revolta em verdadeiros guetos. Apesar disso e até recentemente, para eles, a religião ficava em um segundo plano, era coisa dos seus avos em que a lembrança da terra natal estava fresca. De certa forma, nascer como também viver na França por muito tempo onde há liberdade de religião, fez o islã perder força para estes novos franceses. Mas tudo mudou com a devastação do Iraque, Líbia e Síria. A ação devastadora da potencias ocidentais liderada principalmente pelos americanos e franceses fez surgir sentimentos que se pensava enterrados.

Cada bomba que explodia na terra de seus ancestrais liberava ondas de fanatismo e anarquia que repercutia nos guetos muçulmanos na França. Estarrecidos estes franceses descendentes de árabes se desgostam de ver a França assumir um papel de um dos países mais agressivo do mundo árabe. Nem bem o cheiro da pólvora do atentado ao Charlie se esvaecia no ar de Paris a Assembleia Nacional entregava plenos poderes para Hollande  ampliar as  ações militares no Mali, Burkina Faso, Somália, Camarões, Republica da África Central, Africa Oriental, Abu Dhabi, Iraque, Afeganistão, Síria e Líbano como represália a morte dos esquerdistas provocadores. Os dois irmãos terroristas eram argelinos nascidos e criados na França. O policial que mataram também era argelino nascido e criado na França.

Mas infelizmente não se trata de um atentado a liberdade de imprensa. Pode parecer, mas não é. É mais que isso. E para entender o cidadão interessado terá que dar um breve passeio na historia deste conflito.

Primeiro consideremos o seguinte: Havia uma tendência do pensamento em reconhecer que há harmonia de interesses entre nações e indivíduos, e que todos têm o mesmo objetivo. Uma tendência que vinha desde muito tempo e no século XIX era quase universalmente aceita e tem o nome de liberalismo. Esta tendência foi quebrada ainda nas três ultimas décadas deste mesmo século.  O liberalismo foi lentamente perdendo força para varias doutrinas totalitárias que primeiro se estabeleceram na Alemanha e se espalhou pelo mundo como uma epidemia.

A unificação da Alemanha representou esta virada, o inicio do fim do capitalismo e o inicio da era do socialismo. Esta doutrina, diferente do liberalismo, afirmava que os indivíduos se confrontam em uma arena de conflitos irreconciliáveis porque seus interesses são antagônicos. Esta filosofia passa a permear todas as políticas que foram adotadas como padrão para o mundo todo e que terminou levando a uma guerra sem precedente até então. Era a primeira guerra mundial

Por esta ocasião os árabes estavam sob o domínio dos turcos e os turcos apoiavam a Alemanha. Os aliados em seu combate contra a Alemanha incluíam, por conseguinte, os turcos. Os árabes entram neste jogo com a promessa de independência mas só se apoiassem as forças aliadas contra os turcos. A idéia era isolar a Alemanha e vence-la como de fato aconteceu. No final da guerra esta promessa foi quebrada e os árabes engoliram esta traição a seco. Não bastasse viram impotentes suas terras loteadas entre ingleses, franceses. A América tinha ficado fora desta partilha e se limitara a ajuda humanitária o que lhe valeu muitos elogios. Mas logo veio a segunda grande guerra e com ela a questão judaica. Compreendia a questão judaica a reconstrução de seu Estado que desapareceu da face da terra, como muitos outros, por um processo conturbado do período imperial romano.

Reviver a gloria do passado por qualquer razão pode ser romântico, mas não deixa de ser utópica. Era uma idéia absurda revive-la nos dias de hoje, mas nada é impossível no mundo do socialismo. Era uma questão de apenas onde deveria se erguer esta nova maravilha da engenharia política. Listou-se uma serie de países para o propósito. A palestina foi escolhida porque lá existira o antigo Estado de Israel. O governo FDR tinha prometido aos árabes não fazer nada nas suas terras sem antes consulta-los. Mas esta promessa foi ignorada por Herry Truman. Este, de olho nas eleições e no apóio dos judeus americanos para sua campanha não pensou duas vezes. As nações unidas tomaram a frente na criação do estado de Israel nas terras da Palestina como se ali tivesse apenas formiga.

Foi como tirasse a roupa de um santo para vestir outro que está nu. Foi com certeza uma atitude nada sábia, própria da mentalidade socialista. No final não agradou as duas partes que desde então vivem feito cão e gato. Para os judeus, se as coisas estavam ruins, agora só iriam piorar. Para os árabes, um novo pesadelo. Ao restante do mundo sobrou assistir o desenrolar desta contenda ansioso para saber quem tem razão nesta disputa, na esperança de uma vitória em que ambos possam ganhar como fosse uma partida de futebol. O que viu e se vê é uma sucessão de guerras que longe de por fim a contenda mais a tem acirrado sem perspectiva de solução.

Muitas têm sido as tentativas de por paz naquelas terras. E quanto mais esforços fazem mais frustrações resultam. Não é culpa de ninguém. É tudo resultado de um modo de pensar.                                                       

V.Camorim

V.Camorim é autodidata, e articulista de LIBERTATUM

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