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domingo, 11 de janeiro de 2015

O Foro, o PT e a ameaça continental.

 

 Por V. Camorim
  
Novamente se fala que uma ameaça comunista ronda o Brasil e desta vez da parte do Foro de São Paulo tendo o PT no comando. Nossa história tem alguns episódios dando conta deste tipo de ameaça.  O que parece, no fim das contas, é que comunismo se tornou um bom motivo para se fazer coisas que resultou em coisa pior ou tanto quanto. 

Com o objetivo de combater o que se considera ser um flagelo, a ditadura do proletariado, o Brasil entrou sempre na verdade em outro tipo de ditadura que não difere em muita coisa das prometidas pelos comunistas. Ditadura do proletariado ou não, dá tudo no mesmo.

Na década de sessenta do século passado, outra ameaça. Pediram ajuda dos milicos que prontamente veio salvar a mocinha das garras do bandido e o resultado foi outra ditadura. Desta vez ficaram vinte e um anos. Dizem também que o Tio Sam deu sua ajuda. Outros negam, mas o certo é que o combate desta ameaça comunista resultou em outra ditadura. 

As pessoas divergem se foi ou não implantado um outro tipo de comunismo disfarçado. O certo é que o país ficou cada vez mais com cara de comunista. O programa que era dos comunistas, os milicos puseram em pratica, pelo menos parte dele. O que estava estatizado deixaram e estatizaram ainda mais. Tem gente que discorda, dizem até que foi um período de muito progresso e democracia. Parece que cada um tem na cabeça um tipo particular de comunismo, mesmo os que se dizem não comunista, de forma que as vezes o reconhece como governo democrático. 

Depois de muito tempo o nosso comunismo de tipo castrense ou espartano, nacional ou democrata, como queiram, caiu de podre. Foi uma festa! Todo mundo saudou a chegada da nova era. O perigo tinha se afastado e agora era a normalidade democrática.  Na verdade foi só uma trégua. Pois eis que novamente se anuncia uma outra ameaça.

Parece que a coisa é repetitiva, não tem fim, como um vinil arranhado.  Dizem que a coisa agora é séria, seríssima, pois que se trata de uma organização como nunca antes se viu neste Brasil tendo todo tipo de gente, desde sequestradores, terroristas até narcotraficantes. Diante de tal perigo é muito natural que alguns se apressem em ir buscar ajuda. Uns correm novamente com o Tio Sam, representado agora pelo Obama, com uma modesta petição para que faça algo quanto a esta insidiosa expansão vermelha agora com outro nome, bolivariana.  

Outros, mui timidamente, pedem os milicos de volta. Há também os que querem o povo na rua e posam como seus lideres carismáticos. Mas as coisas parecem que não estão funcionando bem. Obama tem respondido de outra maneira que não tem agradado aos peticionários inclusive parabeniza a eleita e se mostra disposto a colaborar com seu governo escolhido democraticamente, diz. Os milicos, coitados, não estão mais com essa coca-cola toda. Tem se limitado a pequenas notas e nada mais. A multidão, o povo, está apática. É capaz de sair às ruas por vinte centavos, mas não tem a mesma disposição de se levantar contra o governo. Mais da metade está na sua folha de pagamento e pensa duas vezes antes de entrar nesta aventura. Prefere coisas menores e mais certas. E agora, como sair desta enrascada?

II

Pelo exposto temos que ver que a coisa não é tão nova assim. Já até experimentamos um pouco do seu gosto. Passamos pela experiência de mais de uma ditadura. Se contarmos a partir do golpe que derrubou o Imperador D. Pedro II  parece até que nunca saímos dela, tanto a sua freqüência. 

Talvez seja por isso que não se tem dado muita trela para o perigo do FSP que Olavo de Carvalho tem nos alertado desde sua fundação. Tenho até impressão que as pessoas já se acostumaram com o ambiente de eterna conspiração próprio dos comunistas. Os ingleses nunca se incomodaram com Marx e suas conjurações. Nem também com Lênin e seus seguidores. Eles acreditavam que no ambiente democrático todos tem liberdade de expressão. E se é verdade que temos uma democracia, ela está sendo testada, então porque o medo? O que vale para um lado vale para um lado outro também. Se eles estão querendo levar a população para o socialismo porque então o outro lado não convence a mesma população que o capitalismo é melhor e o tenta levar para o seu lado? Então qual é o problema? 

Se, como disse o Jô Soares, o Brasil está se socializando democraticamente, então porque o Brasil não pode também democraticamente escolher o capitalismo.  Podem não concordar, mas a escolha tem sido a partir das urnas, portanto é democrática. Se partir pra pancada, para as armas aí o caráter muda para mudança violenta e a democracia foi enterrada. Se atentarmos para o lema “vence quem convence” e o campo democrático perceber que tem perdido para os comunistas então os democratas têm que pensar seriamente o que estão fazendo ou deixaram de fazer  para estar perdendo esta disputa que parece tão fácil. Não tem que ficar como uma barata tonta e ficar a escolher a esmo. A resposta tem que estar em algum lugar.

Mises já alertou no passado que o socialismo avança não porque os socialistas tem razão, não porque tem a historia a seu favor, como dizem os marxistas, mas porque é mal combatido. Não se presta atenção que este processo se trava no campo das idéias. Freqüente e invariavelmente se combate o socialista e não o socialismo, a sua doutrina. Há um relaxamento quanto ao estudo da filosofia e da economia. 

Também, em grande parte, os que estão no campo democrático não conseguiram ainda se afastar da influencia dos dogmas do socialismo o que compromete a eficácia de sua luta. Os debates que tem ocorrido e se tem observado descem quase sempre para o plano pessoal e degenera para o bate boca e não se arranha sequer a questão da impossibilidade do socialismo devido a ausência do cálculo econômico que permanece ignorado. 

O publico alvo deste debate fica ao largo e o combate das idéias perde a oportunidade de ouro, visto os abundantes exemplos do fracasso do experimento socialista que não são auto-explicativos e só com raciocínio lógico e econômico pode ser explodido. O publico alvo são os formadores de opinião, os intelectuais, os ideólogos. São eles que trocam em miúdo o conteúdo das doutrinas que dão direção ao movimento das massas.

Os últimos acontecimentos em torno da Petrobras, por exemplo, já pode dar uma idéia desta falha.  Muitas são as vozes que tem se levantado condenando este esquema de compra de apoio político e pedem o fim da corrupção. Indignados a massa de intelectuais e formadores de opinião não vão além da sua condenação e no máximo emitem uma tímida sugestão de pedido do afastamento do chefe do governo pelo seu envolvimento mais que óbvio. Porém não se vai mais que isto. 

Não demonstram ter uma compreensão que tudo isto é a conseqüência inevitável do intervencionismo, que não se pode combater a corrupção sem que se combata o intervencionismo, que o intervencionismo não é nenhum sistema de governo, mas um mero método de se levar a sociedade ao socialismo. Não tem a compreensão que o intervencionismo deposita nas mãos do governante um poder fabuloso com que ele subverte a tudo e a todos, que ele “pode fazer o diabo”, inclusive aparelhar a justiça, comprar o legislativo e que só para quando a opinião pública range os dentes insatisfeita com o seu despotismo.

Como uma gota d’água que reflete o oceano, a falta deste fio de pensamento já demonstra existir no meio intelectual do campo democrático a ausência de uma sólida idéia de onde estão e quanto a direção de para onde seguir. Esta falha se torna numa condescendência com o próprio socialismo, uma das causas da sua fraqueza, do porque ainda o socialismo não foi vencido.

Com uma debilidade desta não é pra menos o temor de que o perigo vermelho é iminente e ronde o continente.

O traço característico de nossa época é a disputa entre o socialismo e o capitalismo. Quem esquecer este detalhe mostra que anda perdido no tempo.  

O socialismo só será vencido com as idéias do capitalismo. Não há meio termo. 

V. Camorim é articulista independente, e colaborador de LIBERTATUM.
  
Nota: O socialismo (comunismo é só sinônimo) tinha por ideal a aldeia, a vila, um pequeno território em que pudessem viver isolado de todos vivendo com seus próprios recursos. Os seus seguidores, que eram poucos e esparsos se confundiam com as muitas seitas religiosas obscuras. Mas com o surgimento do liberalismo mostrando as vantagens da divisão internacional do trabalho estes pequenos grupos foram mudando o modo de pensar e agir. Passaram a expandir suas idéias para um ambiente nacional e até internacional deixando pra trás a idéia da aldeia original. O capitalismo, independente de tudo, avançava e toda humanidade experimentava ganhos materiais assim como os imateriais. Mas estes ganhos não são só auto-evidentes, depende de como são interpretados, depende da teoria. O homem age e depois reflete sobre seus atos. Percebe o que não está a vista só muito tempo depois que se convence que o que vê não lhe é satisfatório. É neste vácuo que se aproveita o socialista que modela a sua doutrina. Aproveita o tempo perdido e aprende a viver as suas custas. Tem sido assim até hoje. Que diga os seus lideres e seus epígonos. 

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