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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Eu não quero um Brasil melhor… Ainda!

28-07-2014-11-17-54
Uma conjugação recente de fatores – a saber: as atitudes desastrosas do atual governo, a ação de grupos e movimentos sociais para produzir manifestações de rua, a iniciativa de alguns indivíduos que de fato introduziram um discurso legitimamente de oposição no cenário nacional – fez com que “política” se tornasse um tópico muito mais comum nos debates dos brasileiros, nas ruas ou nas redes sociais. Muitos querem se manifestar, muitos querem se informar, o que passava longe de ser regra até bem pouco tempo. Isso é ótimo, é claro. No entanto, muitos argumentos bastante corriqueiros nessas discussões seguem dignos de lamentação. Algumas pessoas insistem em matraquear alegações genéricas e vazias e, percebendo ou não, auxiliam a cartilha dos opositores da liberdade que nos conduzem os rumos atuais.
A começar por aqueles que acreditam que fazer críticas ao petismo significa que você necessariamente é tucano. Esse raciocínio simplificador já foi suficientemente refutado por diversas vezes, estando mais do que demonstrada a pobreza de percepção de quem acredita que o universo de concepções políticas no mundo se limita ao socialismo de articulação bolivariana e populista do petismo e à social democracia – com tendências mais liberais, é verdade – dos tucanos, e que a adesão a qualquer outra corrente seria impossível para o brasileiro. Tão perigosa quanto, porém, é a concepção de que são todos – tucanos, petistas, democratas, peemedebistas – absolutamente iguais, e de que nada mudaria eleger o “menos ruim” – entendendo-se não ser nenhuma das alternativas claramente postas a ideal. Compreende-se que queiramos soluções profundas e imediatas, mas é preciso saber ter paciência para criar as condições. Do contrário, podemos, boicotando as opções concretas, abortar qualquer possibilidade de uma melhoria legítima no futuro.
Por que dizemos isso? Porque, diante dos absurdos cometidos no governo de Dilma Rousseff, começou a ser aventada a ideia de instalar um processo de impeachment. A insatisfação com a corrupção institucionalizada e a aviltante incompetência já atinge vultosos segmentos da massa do nosso povo; a Operação Lava Jato segue a todo vapor e a perspectiva de que esse mecanismo legal, que nada tem de caráter golpista, possa ser utilizado, se torna assunto palpável nessas rodas de discussão. O burburinho já cria eco. Alguns, diante de todo esse barulho, sem propriamente serem partidários do governo, dizem que em hipótese alguma um impeachment deveria ser cogitado. Têm o direito à sua opinião, mas, se o movimento em prol de um impeachment deveria incluir, em tese, uma pressão popular, esses acabam podendo criar obstáculo a que isso se dê, fazendo o jogo do governante inapto.
“É um absurdo”, dizem eles, “pois vejam: se acontecesse um impeachment, o vice-presidente assumiria. Michel Temer!” E então surgem as expressões de estupefação. “TEMER! Vocês querem o Temer? Isso seria um desastre! Continuaria a mesma desgraça, na melhor das hipóteses, ou seria muito pior! Um impeachment não mudaria nada. Deixem como está, aguardem novas eleições em quatro anos e vamos atacar pontos superficiais, como saúde e educação.”
Em primeiro lugar, devo deixar claro: não há processo de impeachment ainda em curso avançado, isso não está acontecendo.  Não estou colocando carros à frente de bois. Entendo apenas que é importante desmontar esse discurso, por ele demonstrar que as pessoas, mesmo algumas que sinceramente estão se esforçando, ainda não apreenderam a magnitude do problema com que lidamos. Por “purismo” afobado – compreensível, diante dos múltiplos motivos de indignação com que temos sido forçados a conviver -, elas não aceitam a ideia de, estabelecendo-se as condições para tal, trocar uma situação terrível por uma apenas ruim. Nesse sentido, argumento aqui na intenção de sustentar qual acredito deva ser nossa posição, uma vez que a situação política caminhe nessa direção definitiva em relação ao mandato de Dilma – o que não é exercício de imaginação; analistas e juristas como Ives Gandra Martins já apontam para isso, bem como há manifestações de rua marcadas para 15 de março com esse viés.
Apreciando a questão por uma ótica meramente prática, admitimos: sem dúvida, não há nada de realmente admirável no PMDB. Eles estão envolvidos com a situação atual até o pescoço. Não têm concepções realmente liberais, não oferecem um modelo institucional de avanço para o Brasil. No entanto, o golpe duro de um impeachment, mesmo sendo Temer a assumir, certamente exerceria um impacto extensivo ao partido de Temer, agitando a divisão interna que já existe na agremiação. A recente propaganda do partido, lançada hoje (26/02), deixa transparecer um tom claro de afastamento da imagem da presidente e de posição oposta a “pontos chave” do projeto petista que o tornam tão perigoso, como o problema da regulação da mídia. Com o PMDB, não esperamos notáveis melhorias, não esperamos maravilhas. Entendam uma coisa séria: ninguém está querendo um Brasil MELHOR, em letras garrafais e com propriedade. Eu não quereria, com um suposto impeachment, um Brasil realmente MELHOR. Não. Antes que me chamem de louco ou masoquista, explico: não quero, AINDA! O estrago é tão grande que precisaremos de muito trabalho e tempo para elevar, de fato, a estatura de nosso país. Não conseguiremos reformas essenciais com rapidez, nem mesmo com Temer ou o PMDB. Crer nisso seria ilusão. O objetivo imediato não é precisamente esse. Antes de pensar nisso com a completude que essa aspiração merece, é preciso cumprir um requisito fundamental: precisamos de um Brasil SEM PT NO PODER.
Quero um país que não seja governado por uma legenda diretamente mancomunada com a casta bolivariana que domina a América Latina, cúmplice silenciosa – e às vezes nem tão silenciosa – dos desmandos venezuelanos, bolivianos e argentinos. Por uma legenda que sustenta abertamente o controle da mídia. Por um partido autoritário que nos atrasa há doze anos, “glamourizando” a ignorância e aplaudindo a mediocridade; que “nadou” na onda positiva, permitida pela conjuntura internacional e pelas atitudes corretas do governo FHC – o mesmo que tanto atacam, com todos os defeitos que realmente tiver. Um país em que um ex-presidente alucinado não realize um ato circense (sem ofensas aos circos) “em defesa da Petrobrás” contra a “desmoralização”, como se denunciar a imundície na empresa a prejudicasse mais do que a imundície em si. Um país em que Lula da Silva clamar pelo “exército de Stédile nas ruas” seja entendido por todos como a abominação irresponsável que é. É esse o país que quero. Um país em que o processo em curso pelas mãos do PT seja interrompido, e a política externa vexatória seja suspensa, ainda que para entrar em seu lugar, temporariamente, um fisiologismo suspeito e questionável, mas que tem sido um dos grandes responsáveis, ainda que movido por interesses menos felizes, por conter o câncer que se estende sobre nós – e terá que lidar com a pressão de um povo que, então, terá, ao menos em número suficiente, despertado para a vergonha com que convive. Quem entrasse depois, que fosse fiscalizado; cada coisa a seu tempo. Não se pode é, por não ver os louros tão perto, deixar de fazer o que estiver ao alcance.
O impeachment de Dilma Rousseff seria um duro golpe moral em seu partido, e desestabilizar ao máximo o Partido dos Trabalhadores é a melhor coisa que pode acontecer ao Brasil no curto prazo. É preciso destroçar o esquema poderoso que eles construíram. Só depois disso será possível sonhar com conquistas maiores, ainda que distantes. Sem resgatar esse pedacinho de nossa dignidade, nada maior será almejável.

Sobre o autor

Lucas Berlanza
Acadêmico de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, na UFRJ, e colunista do Instituto Liberal. Estagiou por dois anos na assessoria de imprensa da AGETRANSP-RJ. Sambista, escreveu sobre o Carnaval carioca para uma revista de cultura e entretenimento. Participante convidado ocasional de programas na Rádio Rio de Janeiro.
Matéria extraída do website do Instituto Liberal

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