O Imposto de Renda
Por V. Camorim
Se você quer uma medida de sua liberdade, de o quanto você é
livre, olhe na direção da obrigatoriedade da declaração do que se costuma
chamar de imposto de renda. A liberdade individual não é um conceito esotérico,
algo que paire nas nuvens, eterno e absoluto. É fruto da relação humana e só
existe em sociedade. Mesmo é preciso ser dito que ninguém é livre, propriamente
dito, pois estamos limitados ora pela própria natureza de nosso corpo e força,
ora pelo meio ambiente onde vivemos, ora porque dependemos uns dos outros já
que vivemos em estado de cooperação. A liberdade é um conceito que só existe
sociedade e se mede na proporção que o governo pega ou não no teu pé. O governo
é um mero instrumento que o homem concebeu para manter-se seguro e assim cuidar
melhor de sua vida. Neste caso faz sentido pagar como quem paga a um serviço do
guarda noturno. Mas este não é a melhor maneira, quando o guarda noturno passa
a ser o patrão e dá as ordem a seu dono. O problema que este modo de entender não
é corrente, muito pelo contrário, as pessoas de modo geral atribuem ao governo uma
existência independente e dotada de vida e vontade própria a quem deve se
submeter sem questionar. Se ele resolve cobrar por qualquer coisa, as pessoas
resmungam, mas não questionam a legitimidade da cobrança, tão somente o tamanho
da carga.
Eis que mais uma vez é dada a largada da caça ao pato, ou
seja, ao cidadão contribuinte. A conversa mole é tida como o exercício da
cidadania. Os repórteres da mídia subserviente são incansáveis em bradarem aos
quatro cantos que o cidadão deve fazer este esforço, prestar atenção aos
detalhes do programa da declaração que de ano a ano traz mais e mais novidades
que dizem, é para facilitar a vida do cidadão contribuinte. Os economistas dão
conselhos e os contadores oferecem os seus serviços. Ao declarar, avisam, a
espada de Dâmocles estará pronto para decapitar aquele que for infiel em suas
declarações.
O individuo é instado a declarar nos mínimos detalhes o que
fez com o dinheiro que ganhou, e o governo declara ser renda, da mesma maneira
que ele deveria fazer para com o cidadão, declarando e dando conta nos detalhes
do que fez com o dinheiro que tirou sob denominação de imposto. É uma inversão
de papeis. O governo deveria se comportar como servo, servidor, e ele, o
cidadão, o seu mestre.
Mas tudo esta errado desde o começo.
Seria tão somente uma invasão de privacidade se limitasse apenas
em saber o que o cidadão fez com o dinheiro que ganhou se na pratica não fosse o
exercício de um rígido controle sobre ele e de suas ações. O recado é claro: dinheiro
que o cidadão ganhou não é dele, é do governo. Foi mera concessão que recebera
e que no fim do exercício deve prestar conta. É algo mais eficiente do que a “libreta”
do Fidel. Empresta uma aparência de modernidade. O individuo se sente mais
livre. Pode ele mesmo se haver. Não existe o incômodo das filas. Mas a
escravidão é a mesma. Quando quiser, o governo pode, com posse destes dados,
colocar o cidadão de joelhos. Se for inimigo político, nem se fala. É uma arma
poderosa nas mãos do governo que dependendo dos seus princípios éticos pode
destruir qualquer um.
As pessoas gostam de olhar a grama do vizinho como a mais
verde. Da mesma maneira apontam para os países vizinhos e dizem: o Brasil não
se tornará uma Cuba nem muito menos uma Venezuela. Mas em que medida, cara
pálida?
Mas claro que o Brasil, é diferente, mas só nos detalhes, na
essência estamos na mesma.
O socialismo não é homogêneo. Há uma variedade enorme deles,
assim como muitos caminhos e instrumentos para alcançá-lo.
V.Camorim é articulista independente. Escrito para LIBERTATUM. É livre a reprodução desde que mantida citação da autoria
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