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domingo, 22 de março de 2015

O neoliberalismo petista

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Em meados dos anos 1990, quando eu fazia graduação em economia, conheci uma garota do curso de letras. Um certo dia, começamos a falar sobre economia. Falei para ela sobre algumas ideias que eu acreditava. Ela não gostou nenhum pouco. Fechou a cara e me disse bem brava: “isso é neoliberalismo”. Essa foi a primeira de várias situações muito parecidas que viriam a ocorrer. Eu perdi a conta de quantas vezes fui chamado de neoliberal. Depois de um tempo, concluí que, para preservar as amizades, muitas vezes, era melhor evitar falar sobre política ou economia. Contudo, acho que nós, liberais, temos algo a comemorar. O pensamento anti-liberal já estava desacreditado há tempos, mas o fracasso do governo Dilma 1 foi a pá de cal que faltava para sepultá-lo de vez.
Vamos recordar como isso aconteceu. Quando Lula foi eleito em 2002, todos imaginavam que ele iria colocar em prática ideias heterodoxas e anti-liberais de algum economista de terceira classe. Quem seria o Ministro da Fazenda de Lula? Talvez a professora emérita da UFRJ, Maria da Conceição Tavares. Ou quem sabe, o guru dos desenvolvimentistas brasileiros, Luiz Gonzaga Beluzzo. Mas Lula, que não é bobo, – para quem não sabe, os petistas se dividem em dois grupos, os bobos e os cínicos – percebeu que nomear um desses economistas embusteiros seria a ruína de seu governo. Lula, entre tantos economistas desenvolvimentistas-keynesianos-heterodoxos, preferiu nomear para Ministro da Fazenda um quase desconhecido médico de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, chamado Antônio Palocci. Tão esperto quanto Lula, ou mais, Palocci deu o seguinte recado para o mercado. Fiquem tranquilos, nós vamos dar continuidade às boas políticas ortodoxas de FHC, mas não podemos dizer isso abertamente. Temos de continuar malhando o Judas. Temos de continuar falando mal do neoliberalismo. Mas essa fala é de mentirinha, é puro marketing eleitoral, serve somente para enganar os petistas bobos. E foi dessa forma que o PT se transformou aparentemente em um partido neoliberal.
De fato, parecia que o pensamento anti-liberal do PT tinha morrido ali, mas tudo mudou com a eleição da atual presidente. Dilma, juntamente com Guido Mantega e Aloízio Mercadante, fazem parte do outro grupo, o dos petistas bobos, aqueles mesmos que Lula e Palocci levaram no bico. Diante de uma desaceleração da economia mundial, eles resolveram – em vez de manter a ortodoxia econômica, que vinha funcionando até então – ressuscitar o moribundo nacional desenvolvimentismo, lá do período do general Ernesto Geisel. O resultado dessa brincadeira irresponsável, todos sabemos bem: estagnação da economia, endividamento público e inflação.
A situação atual do governo Dilma é crítica. Além da crise econômica, há uma crise política, perda de apoio popular e denúncias de corrupção. Mas, em meio a tantas notícias ruins, creio que há uma luz no fim do túnel. O Brasil que vai emergir findo o atual governo será um Brasil melhor. Seja qual for o partido que venha governar o país, dificilmente irá por tudo a perder flertando com políticas heterodoxas ou desenvolvimentistas como fez a nossa atual presidente e sua trupe de saltimbancos. Inconscientemente, Dilma deu uma contribuição e tanto a toda a nação. Deu uma lição de como não se deve governar. E todos os políticos com um mínimo de inteligência devem ter aprendido como provocar uma crise econômica sem ganhar nada em troca.
Na verdade, eu estava bem mais pessimista em relação ao futuro do país que agora. Quando Dilma venceu as eleições de 2014, pensei que um desastre estava por vir. Achei que a presidente iria dar continuidade à sua política econômica desastrosa e lançar o Brasil precipício abaixo. Mas a presidente me surpreendeu e mostrou que existe um pouco de capacidade cognitiva dentro de sua cabeça avantajada. Ao nomear Joaquim Levy como novo Ministro da Fazenda, ela reconheceu que o Brasil estava no caminho errado e que precisava de um economista ortodoxo para colocar o país de novo no rumo certo. Levy tem uma tarefa difícil pela frente: implementar medidas recessivas em uma economia estagnada. Nada pode ser mais antipopular que isso. Se Aécio tivesse vencido as eleições, ele estaria pondo em prática a mesma política de austeridade fiscal. Petistas iriam dizer: esses tucanos só sabem arrochar salários. De certa forma, foi bom que Dilma tenha ganhado as eleições. Os petistas estão sentindo o gosto do seu próprio veneno. Nada mais justo. Afinal de contas, quem comeu a carne, que roa os ossos.
O PT, se sobreviver à tsunami que está se formando – crise econômica, crise política e corrupção – provavelmente irá se transformar. Perante esse cenário tão adverso, alguns ratos já estão abandonando o navio, como a senadora Marta Suplicy que está ainda indecisa para qual partido deve ir. Para mim, tanto faz. Um rato a menos ou um rato a mais não muda nada. O que fica de positivo após tudo isso? Acredito que uma nação mais madura e menos hostil à economia de mercado. Espero que o país dê um passo à frente e o discurso contra o liberalismo seja finalmente abandonado. Mas talvez isso não aconteça. Infelizmente, nunca devemos subestimar a falta de inteligência humana.

Sobre o autor

Ivan Dauchas
Ivan Dauchas é economista formado pela Universidade de São Paulo e professor de Economia Política e História Econômica.
Matéria extraída do website do Instituto Liberal

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