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terça-feira, 21 de abril de 2015

Dez lições de economia para iniciantes - Oitava lição: o papel da competição

 

competicao.jpgImagine que você queira comprar um tênis e que entre em uma sapataria em umshopping.  Com certeza você vai ficar um bom tempo escolhendo o modelo que vai comprar, tamanha a variedade e diversidade com que vai se deparar. Imagine agora que outra pessoa, com a sua idade e exatamente os mesmos gostos (supondo que isso seja possível) queira também comprar um tênis, mas viva na Coreia do Norte, um país comunista. Certamente, ela vai se deparar com um único modelo, quase certamente muito feio e, se estiver mesmo precisando de um tênis novo, vai ter que comprar esse modelo, não importa se tenha ou não gostado dele, desde que, obviamente, a loja disponha do número que calça em estoque, o que, por sinal, não costuma acontecer sempre.

Qual dos dois teve maior satisfação, você ou o consumidor coreano do Norte? Esse exemplo simples, mas que corresponde exatamente ao que acontece no mundo real ilustra com perfeição as vantagens da competição entre os produtores de um determinado produto. Obviamente, o que escrevemos para tênis é válido para qualquer outro produto.

Onde existe competição, onde diferentes empresas tenham que concorrer para ver quem agrada mais aos consumidores, seja pela qualidade, seja pelo preço ou por ambos, quem sai sempre ganhando são os consumidores e, logicamente, as empresas que mais lhes conseguem agradar.
A isto se costuma chamar de soberania do consumidor, que é uma das características principais das economias de mercado, em que vigore a liberdade para empreender e produzir, sem as amarras do governo. A soberania do consumidor, então, é uma consequência exclusiva da economia de mercado. Ou seja, se não existir economia de mercado, isto é, se o governo interfere na economia, quem sai sempre perdendo é o consumidor, que se vê, como o pobre norte-coreano, limitado em suas escolhas. Infelizmente, nós não vivemos em livre mercado atualmente em nenhum país do mundo, porque as intervenções e coerções dos governos são contínuas e implacáveis.  
Jeffrey Tucker, no artigo O comércio, a bênção da civilização, citado nas sugestões de leitura no final desta aula, coloca da seguinte maneira essa questão:
Como seria se tivéssemos o seguinte sistema econômico?
Este sistema inundaria o globo com bens gratuitos diuturnamente, não pedindo nada em troca e dando praticamente tudo para todos.  A maior parte de tudo aquilo que ele gerasse consistiria de bens gratuitos, e todos os seres humanos vivos teriam acesso a eles.
Qualquer indivíduo que acumulasse lucros privados o faria unicamente porque serviu com excelência aos outros seres humanos, e tal sistema inevitavelmente faria com que esta pessoa revelasse suas ideias e truques: todas as pessoas do planeta saberiam os motivos do sucesso de alguém.
Este sistema, desta forma, serviria a todas as raças e classes.  Ele serviria farta e servilmente ao homem comum e derrubaria as elites quando estas se tornassem soberbas e arrogantes.  Ele faria com que fosse benéfico e proveitoso para todos incluir cada vez mais pessoas em seu potencial produtivo e dar a todas elas uma participação nos resultados.
Tal sistema tem um nome.  Ele se chama livre mercado.  Embora ele tenha se tornado bem mais óbvio na atual era digital, o fato é que a proliferação de bens gratuitos sempre foi uma das principais características do capitalismo.  O problema é que as pessoas raramente pensam e falam sobre isso.
No mesmo artigo, Tucker, uma pessoa que mostra em tudo o que faz estar de bem com a vida, para mostrar que, embora o mundo hoje viva longe do que poderíamos chamar de economia de mercado, revela que ainda há alguns sinais desse tipo de economia, ao contar a história verídica de uma barbearia que conheceu em seu país, os Estados Unidos. Quem trabalha naquele salão corta o cabelo e faz a barba dos clientes, evidentemente. Mas, além disso, a casa oferece gratuitamente, para uso de quem lá entrar, sem que seja obrigatório cortar o cabelo ou fazer a barba, mesas de pingue-pongue, alvos para se atirar dardos, mesas de sinuca e, também de graça, cerveja que se pode beber em um balcão.
Algo assim é tudo o que os consumidores sempre desejaram. O que se deve esperar vir a acontecer em uma economia de livre mercado? Bem, um primeiro ponto é que essa barbearia deverá ser um sucesso e estar sempre lotada. Com esse sucesso, novas barbearias oferecendo os mesmos serviços e as mesmas comodidades e mesmo comodidades adicionais, vão aparecer para disputar as preferências dos consumidores. Estes, agora, estão em situação ainda melhor do que antes, porque seu campo de escolhas aumentou.

Mas, do ponto de vista da primeira barbearia, a pioneira, que possuía vantagens competitivas exatamente por ser a primeira, o que vai acontecer agora? Ela está sob uma ameaça, porque vai ter que enfrentar a concorrência de novas barbearias que estão copiando e, possivelmente, aperfeiçoando a sua ideia. Qualquer um poderá copiar sua ideia original, desde que o governo não proíba a abertura de novas barbearias com aquelas características. Para manter os seus consumidores, a primeira barbearia será obrigada a buscar inovações que aumentem sua satisfação.
A competição, portanto, é sempre benéfica para os consumidores, ao mesmo tempo em que obriga os produtores a um permanente esforço para melhor atenderem os seus clientes. Voltemos às palavras de Tucker:
Mas este é o meu ponto: é impossível ser bem-sucedido no mercado e não revelar a "receita secreta" para o sucesso. Se você é bem-sucedido, todos os concorrentes acabarão sabendo qual foi a fórmula adotada e irão copiá-la.  Felizmente, não há patentes ou direitos autorais sobre coisas como colocar uma mesa de pingue-pongue em uma barbearia; logo, o governo não pode impedir que o conhecimento e a aprendizagem da concorrência ocorram.  E é assim que as coisas funcionariam em um mercado puramente livre, em todos os setores.  Ser bem sucedido significa fornecer coisas — fornecer bens e serviços para seus clientes (esta é a chave para a lucratividade) e, como consequência, revelar para todos os concorrentes o método que o tornou bem-sucedido (ou que resultou em seu fracasso).  O próprio ato de empreender — que sempre tende a ser uma tarefa livremente copiável — por si só já transforma seus métodos em objeto de estudo. 
Patentes e direitos autorais, portanto, tendem a reduzir a competição e a prejudicar os consumidores. No plano da economia internacional, um dos maiores obstáculos à competição e, portanto, à soberania do consumidor, é o protecionismo que, sob o argumento de que "é preciso proteger a produção nacional", arruína, explora e impõe severas perdas tanto aos consumidores estrangeiros como, principalmente, aos nacionais. Quem ganha com o protecionismo não é a economia do país, pelo contrário, ela perde em termos de eficiência e satisfação dos consumidores; quem ganha são alguns empresários (que não podem ser chamados de empreendedores) privilegiados (geralmente amigos dos políticos que estão no poder), incompetentes, ou seja — como a própria palavra indica —, que não estão aptos para competir. Esses beneficiados, com certeza, não conseguiriam manter-se em atividade se o mercado fosse totalmente livre.

O papel da competição, portanto, é múltiplo. Primeiro, ela revela, mediante o processo de mercado em que há permanentes descobertas, quais atividades e quais produtos o consumidor prefere. Segundo, ela elimina as empresas que não forem eficientes no sentido de atenderem bem aos consumidores. Terceiro, ela é moralmente superior aos mercados em que vigora o protecionismo, porque, contrariamente ao que acontece nesses mercados, ela premia o mérito, a capacidade de atender bem ao consumidor. E quarto, obviamente, é que ela beneficia o consumidor, contrariamente ao que muitos pensam. De fato, muitas pessoas se dizem contrárias ao livre mercado, mas se você fizer algumas poucas perguntas a essas pessoas, verá que elas não entenderam como funciona uma economia de mercado, que elas apenas repetem o que ouviram de pessoas também sem fundamentação.

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O professor Ubiratan Iorio irá inaugurar a sessão de cursos on-line do Instituto Mises Brasil no dia 7 de novembro com a palestra "Por que estudar a Escola Austríaca". Não fique de fora, inscreva-se já.
Se você entendeu o exemplo simples da barbearia inovadora, entenderá também que foi a competição e a imitação em mercados livres que gerou prosperidade contínua nas economias em que existiu. Como a competição e a imitação são características exclusivas das economias de mercado, você entenderá que, quanto mais próximos estivermos das economias de mercado, maior será nosso progresso e maior o nosso bem-estar!

Sugerimos fortemente a leitura do artigo A petição dos fabricantes de velasde Frédéric Bastiat, um economista francês da primeira metade do século XIX, em que os fabricantes de velas, candeias, lâmpadas, candelabros, lanternas, corta-pavios, apagadores de velas, e dos produtores de sebo, óleo, resina, álcool, e em geral de tudo relativo à iluminação redigem uma petição à Câmara dos Deputados, pedindo uma lei que "ordene o fechamento de todas as janelas, claraboias, frestas, gelosias, portadas, cortinas, persianas, postigos e olhos-de-boi, porque não querem a concorrência de um competidor temível: o sol.

Sugestões de leitura:
Rothbard, Murray, Protecionismo.
Hazlitt, Henry, Economia numa única lição.
Frédéric Bastiat, coleção de textos.

Sugestões para reflexão e debate:
1. Pesquise as diferenças entre "competição" e "concorrência perfeita".
2. Qual a importância da imitação no que se refere à competição e a atender melhor aos consumidores?
3. Liste os malefícios das políticas protecionistas.
4. Por que a competição é uma característica exclusiva das economias com mercados livres?
5. Imagine que você fosse falar para um público leigo sobre o papel da competição. O que você diria?
Ubiratan Jorge Iorio é economista, Diretor Acadêmico do IMB e Professor Associado de Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).  Visite seu website.
Fonte: Instituto Ludwig von Mises Brasil Inicialmente publicado no referido website em 22/10/12

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