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quinta-feira, 9 de abril de 2015

O que você fez durante a “Hora do Planeta”?



hora_planeta_2.jpgSendo uma pessoa racional, abomino essa tal Hora do Planeta, que diz que as pessoas devem ficar 60 minutos com todas as luzes apagadas, sem utilizar nenhum aparelho elétrico, como forma de manifestar concordância com o mito climático reinante.

E meus motivos passam longe de ser uma mera birra contra a religião do "aquecimento global" (desculpe, "mudanças climáticas", igual aquelas que ocorrem quando vamos do outono para o inverno).  Minhas motivações são outras.
Eletricidade abundante e barata foi a maior fonte de libertação do ser humano no século XX.  Todos os avanços materiais e sociais ocorridos no século XX dependeram da proliferação de eletricidade confiável e acessível. 

Por exemplo, as mulheres só conquistaram a liberdade de poder trabalhar fora de casa porque a disponibilidade de eletricidade permitiu a massificação do uso de aparelhos domésticos eletroeletrônicos, os quais reduziram enormemente o tempo dedicado às tarefas da casa, bem como o fardo físico exigido por tais tarefas.

As crianças só puderam parar de fazer trabalhos pesados, e passar a frequentar escolas, porque a disponibilidade de eletricidade permitiu um aumento na produtividade da mão-de-obra (uma serra elétrica é mais produtiva que um serrote), uma diminuição no número de pessoas necessárias para realizar uma mesma função, e uma redução da carga de trabalho muscular necessária para a realização de várias tarefas.  Adicionalmente, foi a eletricidade que permitiu que elas pudessem ler e estudar da maneira segura dentro de ambientes fechados.

O desenvolvimento e a oferta de serviços modernos de saúde são absolutamente impossíveis sem eletricidade.  A expansão da oferta de alimentos e a promoção de hábitos de higiene e de nutrição só ocorreram porque nos tornamos capazes de irrigar campos, refrigerar e cozinhar alimentos, e ter um contínuo fluxo de água quente em nossas casas. 

As populações mais pobres do mundo ainda sofrem brutais condições ambientais dentro de suas casas por causa de necessidade de cozinhar alimentos e de iluminar suas casas fazendo fogo com galhos e estrume.  Essa ausência de eletricidade, além de causar desmatamento local, ainda causa a proliferação de doenças pulmonares. 

Qualquer pessoa que realmente queira melhorar as condições de vida do terceiro mundo deveria deixar a ideologia de lado e se dar conta da importância de ter acesso à eletricidade barata gerada pela queima de combustíveis fosseis em estações geradoras.  Afinal, foi assim que o Ocidente se desenvolveu.

A mentalidade em torno da Hora do Planeta é uma mentalidade que demoniza a 
eletricidade.  Já eu celebro a eletricidade por tudo aquilo que ela propiciou à humanidade.  A Hora do Planeta celebra a ignorância, a pobreza e o atraso.  Ao repudiar o maior propulsor da libertação humana, a Hora do Planeta se transforma em uma hora dedicada ao anti-humanismo e ao obscurantismo.  Os adeptos da Hora do Planeta fazem o gesto hipócrita de desligar aparelhos elétricos triviais, durante um período de tempo trivial, em deferência a uma abstração mal definida chamada "o Planeta", ao mesmo tempo em que têm a segurança de que continuarão se beneficiando de uma oferta de eletricidade contínua e segura.  Apenas pessoas acostumados a todos os confortos fornecidos pela eletricidade podem se dar ao luxo desse gesto farisaico.

Pessoas que veem virtude em ficar sem eletricidade deveriam, por coerência, desligar suas geladeiras, fogões, fornos microondas, computadores, ar-condicionado, chuveiro elétrico, lâmpadas, televisões e todos os outros aparelhos elétricos por um mês, e não por apenas uma hora.  E deveriam ir a todas as unidades cardíacas dos hospitais e desligar a eletricidade de lá também.

Já eu não quero voltar a um estado brutal da natureza.  Vá a uma região atingida por terremotos, enchentes e furacões, e você verá o que é retroceder ao estado natural do ser humano.  Para seres humanos, viver em condições "naturais" significaria uma vida extremamente curta marcada pela violência, pela doença e pela ignorância.  Apenas ignorantes, embora muitos possam ser genuinamente bem-intencionados, podem querer isso.  A maioria dos ambientalistas atuais é formada por tipos de classe alta, gente chique que mora em regiões abastadas, rodeadas de todos os confortos que apenas o capitalismo pode dar.  Ambientalistas não moram no meio de árvores e madeiras, sem nenhuma eletricidade.  Quem mora, não tem nenhuma ilusão quanto à bondade da deusa Gaia.  

Estes sabem que a própria existência da humanidade depende da subjugação da natureza, a qual deve ser constantemente domesticada e adaptada aos nossos conformes.  Se algum dia pararmos de fazer isso, as selvas irão reivindicar e retomar nossas cidades.
É por isso que aquelas pessoas que genuinamente querem ver o fim da pobreza e uma redução drástica das doenças estão, na realidade, lutando contra essa condição "natural" da vida na terra.  Espero que essas sempre deixem suas luzes acessas.
Aqui em Ontário, onde moro, por meio do uso de tecnologias de controle de poluição e de engenharia avançada, a qualidade do nosso ar melhorou dramaticamente desde a década de 1960, não obstante a grande expansão da indústria e da oferta de energias elétrica, mineral e derivada de combustíveis fósseis. 

Se, após tudo isso, formos aceitar a ideia de que as emissões remanescentes são maiores do que todos os benefícios da eletricidade, e que por isso temos de nos envergonhar e nos punirmos ficando uma hora no escuro, como crianças de castigo por terem feito estripulias, então estaremos dizendo que a natureza imaculada é um ideal absoluto e transcendental, que está muito acima de todas as outras obrigações éticas e humanas. 
Não, obrigado.  Gosto de visitar a natureza e observá-la, mas não quero viver no meio dela.  E me recuso a aceitar a ideia de que a civilização, não obstante todos os seus defeitos, é algo de que devemos nos envergonhar.
Ah, sim, o que eu fiz durante a Hora do Planeta?  Enquanto os obscurantistas exigiam escuridão, fiz questão de acender absolutamente todas as luzes da minha casa, dentro e fora, para celebrar a civilização humana.

Ross McKitrick é professor de economia  na Universidade de Guelph, Ontário, Canadá.

Matéria extraída do website do Instituto Ludwig von Mises

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