segunda-feira, 6 de abril de 2015

O segredo do progresso

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Aqui, "em se plantando, tudo dá", escreveu Caminha. Ele jamais poderia imaginar que essa frase apologética, com que definiu a terra onde acabara de aportar, aplicar-se-ia tão bem às mentes do povo que viveria por estas bandas, cinco séculos depois.
Plantada pelos semeadores do coletivismo, a semente do anticapitalismo foi uma das que germinaram com mais força na cabecinha dos brasileiros. Tal preconceito é — não tenho dúvida — um dos maiores responsáveis pelo nosso persistente subdesenvolvimento. No Brasil, por conta talvez de uma renitente estrutura de privilégios que aqui vigora desde sempre, todo empresário é visto como ladrão, sonegador ou explorador do trabalho alheio. Os próprios empreendedores, acuados pela má fama, parecem ter vergonha de seus lucros.
Antes de prosseguir, vamos definir o que vem a ser o lucro. De maneira bastante simples, ele é um preço, como os salários, os aluguéis e os juros. Conforme a definição do Professor Walter Williams, o lucro é aquilo que ganham os empresários por desempenhar competentemente o seu papel de assumir riscos, inovar e bem gerir os negócios. O bom empresário está ciente de que, após pagar custos, juros, encargos, impostos e demais despesas pertinentes ao seu negócio, uma parcela das receitas deve restar, para o seu próprio benefício. Tanto maior será esta parcela quanto maior for a sua capacidade de satisfazer os consumidores com produtos ou serviços desejados e de boa qualidade. Além disso, quanto mais eficiente for o uso dos recursos disponíveis, maiores serão as suas chances de lograr bons êxitos.
Por outro lado, se as receitas não forem suficientes para cobrir custos e despesas, algo está errado com a empresa. Ou seus produtos (serviços) estão perdendo a batalha contra a concorrência pela preferência do consumidor, ou há desperdício de recursos.
Muita gente desvaloriza o trabalho dos empreendedores sob o argumento de que eles estão meramente em busca do benefício pessoal. Que os seus objetivos não seriam altruístas, mas egoístas. Esquecem que quase todos nós trabalhamos exclusivamente em proveito próprio. A única diferença é que a compensação pelo trabalho, seja ele de um humilde servente ou de um renomado cientista, é representada pelo salário, enquanto o retorno esperado pelos empresários é o lucro. Aliás, há outra importante diferença: o risco envolvido. Enquanto os assalariados recebem pelo trabalho executado independentemente do resultado alcançado, os empreendedores somente serão recompensados caso os seus investimentos se tornem lucrativos.
No capitalismo (pelo menos no capitalismo de livre mercado), a luta pela sobrevivência (competição) é tão feroz que, na maior parte do tempo, o bom empresário não pode se dar ao luxo de se preocupar com o interesse social, mas unicamente com seus próprios interesses, sob pena de sucumbir ante a concorrência ou a ineficiência. No entanto, essa característica egoísta não impediu que esses homens criassem, ainda que involuntariamente, um mundo muito melhor para todos.
Por mais que isso possa parecer estranho a alguns, foi graças ao autointeresse dos empreendedores que a imensa maioria dos nossos contemporâneos goza hoje de um padrão de vida bem acima do que, há apenas poucas gerações, era impossível até aos mais abastados. Ou alguém duvida que a busca constante pelo lucro foi a grande responsável por quase todas as inovações tecnológicas que, de alguma forma, concorreram para satisfazer boa parte das carências humanas?
Convido o leitor a pensar nas maravilhas tecnológicas já criadas pelo homem. Pense nos automóveis, locomotivas, navios e aviões que facilitaram os deslocamentos humanos, bem como de suas mercadorias. Pense nos eletroeletrônicos que facilitam e entretêm bilhões de pessoas mundo afora: geladeiras, televisores, máquinas de lavar, microondas, condicionadores de ar, computadores, telefones celulares. Pense nos equipamentos médico-hospitalares, que ajudam a tornar a medicina muito mais eficiente e prática, como tomógrafos, centrífugas, aparelhos de ultra-sonografia, de ressonância magnética, microscópios eletrônicos, micro-chips, marca-passos. Pense na indústria farmacêutica, nos avanços e nas descobertas frequentes que ela faz. Pense, por exemplo, que, há apenas vinte e poucos anos, a maior parte dos doentes com úlcera gástrica terminava numa mesa de operações e que hoje essa é uma doença facilmente tratável com medicamentos. Pense na agricultura e nos avanços de produtividade dessa área, que permitem alimentar um contingente humano que cresceu de forma geométrica nos últimos duzentos e poucos anos, contradizendo as previsões catastróficas de Malthus e muitos de seus seguidores.
Pois bem, esses avanços, e toda a fantástica geração de riquezas conseguida pelo homem através dos tempos, foram obtidos graças à divisão e especialização do trabalho e, acima de tudo, ao interesse pessoal dos indivíduos. Sem isso, talvez ainda estivéssemos vivendo nas cavernas, com 99% da população precisando trabalhar de sol a sol, morando sem qualquer conforto, sujeitos a condições extremas de insalubridade e impedidos de qualquer outra atividade na vida que não trabalhar, comer e dormir.
Sem a recompensa pessoal, seja ela fruto da remuneração do trabalho ou do capital (lucro) não há incentivo para que os indivíduos produzam, invistam, pesquisem, desenvolvam novas tecnologias, criem novos produtos. Analisem a relação de ganhadores do Prêmio Nobel (exceto o da Paz). Onde está (ou esteve) domiciliada a imensa maioria deles? Sem dúvida, em países onde há liberdade econômica e, consequentemente, a busca pela recompensa pessoal. Será que isso acontece por mero acaso?
Por outro lado, não se tem notícia de qualquer bem de consumo criado no seio das economias coletivistas (ditas altruístas) que tenha trazido algum benefício permanente para a humanidade. Com exceção das máquinas de guerra, das armas de destruição em massa, nada de relevante eles produziram. Para piorar as coisas, esses mesmos experimentos de planificação econômica, passados e atuais, em que os tiranos a tudo controlam, o processo de marcado é quase inexistente e o lucro individual proibido, redundaram sempre na escassez, no desabastecimento e na distribuição equitativa da pobreza.
* Publicado originalmente em 23/09/2010 no website do Instituto Ordem Livre e agora republicado no mesmo de onde extraímos a matéria

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