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quarta-feira, 15 de abril de 2015

Qual será o “golpe de misericórdia” no PT?

dueloConta-se que a famosa expressão “golpe de misericórdia”, do francês “coup de gracê”, tem origem na Idade Média, no tempo dos duelos de cavaleiros. Quando caía ferido um guerreiro, sem qualquer chance de recuperação, alguém – um amigo, ou o próprio adversário – aplicava um ataque de punhal que liquidava de imediato, evitando que seu sofrimento se prolongasse. O guerreiro em questão, portanto, já agonizava, em total desespero, sem chances de escapatória, antes de receber o ferimento derradeiro. Embora sem a altivez e a nobreza típicas da imagem dos antigos guerreiros medievais, o governo Dilma Rousseff vive situação semelhante. Também agoniza, também titubeia, também se mostra perdido e sem chances de remissão. Há, porém, outra diferença: não cessa de levar golpes atrás de golpes, pancadas atrás de pancadas, mas ainda não morreu. Depois das manifestações históricas de 15 de março, das também expressivas – sim, senhor – manifestações deste último 12 de abril, depois dos desdobramentos ainda em curso da Operação Lava Jato,  a sucessão de pancadas ganhou, há pouco, novos e dolorosos capítulos.

Uma dessas pancadas já parece ter sido há algum tempo. E, na verdade, foi pancada de CABIDE. Segundo o colunista de O Globo, Ricardo Noblat, Dilma se irritou com a ex-criada Jane, no Palácio do Planalto, por não ter gostado da arrumação de seus vestidos e, encolerizada, jogou cabides nela. Tomou de volta, e depois a demitiu. Nas palavras de Noblat, o episódio, “conhecido nos bastidores do governo como a ‘guerra dos cabides’, custou o emprego de Jane”. O silêncio da empregada teria sido comprado. Antes esse hilário e destrambelhado episódio fosse tudo.

Mais do que uma “pancada”, a Folha de São Paulo publicou hoje uma verdadeira “bomba”. O ex-diretor da empresa holandesa SBM Offshore, Jonathan David Taylor, afirmou que a Controladoria Geral da União já possuía informações sobre o pagamento de propinas por parte de sua ex-empregadora para a Petrobras, mas só abriu processo em novembro, logo após a lamentável reeleição de Dilma. A empresa holandesa é investigada no Brasil e na África, a partir de documentos vazados que indicam que ela pagou US$ 139 milhões – isso mesmo – ao lobista brasileiro Julio Faerman para obter contratos  com o “orgulho nacional” brasileiro que é a nossa querida empresa petroleira. Depois das investigações abertas nos EUA, os contornos internacionais de todo esse escândalo chegam com um capítulo delicadíssimo para o governo atual, que mais uma vez está acuado, agora pela acusação de ter postergado o desvendar de uma verdade inconveniente, em meio a toda a teia de mentiras de sua campanha. Taylor assegura ter sido sua a iniciativa de agir junto à CGU, a quem teria passado “o relatório de uma auditoria interna da SBM, mensagens eletrônicas, contratos com o lobista, extratos de depósitos em paraísos fiscais, a gravação de uma reunião da empresa e uma lista com nomes da Petrobras”. O que alega a CGU? Que abriu de fato o processo apenas em novembro, pois só então encontrou “indícios mínimos de autoria e materialidade sobre o caso”. Aham. Não podem estar os dois lados falando a verdade. É hora de convocar Taylor para depor! E ele declarou estar totalmente disposto. A oposição deve agir, e notícias dão contas de que já se articula nesse sentido. Extrair detalhes pode abalar ainda mais – talvez decisivamente – as bases do governo Rousseff.
No mesmo dia, o Fundo Monetário Internacional traduziu o desastre econômico. Segundo relatório do FMI, a América Latina registrará o quinto ano seguido de desaceleração econômica, e o Brasil – exatamente, o Brasil; não a Europa, não as “potências imperialistas”, não a “terrível crise de desemprego na Alemanha”, mas o BRASIL DO PT – é o PRINCIPAL responsável por isso. Bradarão os paranoicos que o FMI representa os interesses dos malditos capitalistas, das multinacionais e… Todo o restante daquele papo estúpido e, como diria Luiz Felipe Pondé, brega, muito brega! Nada disso mudará a realidade.

Mais uma pancada – não sabemos mais dizer se é a quarta, quinta, sexta ou milésima, e não nos atreveremos a tentar contar – veio com a notícia de que o PSDB aparentemente foi acordado pelos gritos do povo – FINALMENTE! – e encomendou de Miguel Reale a elaboração de uma ação penal contra Dilma Rousseff em razão da malandragem com a lei de responsabilidade fiscal, que gerou todo o imbróglio no fim do ano passado. Em artigo escrito em conjunto com os prezados amigos e ousados advogados Pedro Henrique Ferreira e Diogo Ferreira, já havíamos comentado, à época, a fundamentação levantada para seguir por essa via, que pode levar também à queda da presidente via impeachment.

Como qualquer cidadão minimamente antenado pode perceber, o cerco cada vez mais se fecha. Todo o edifício de incompetência e podridão construído ao longo de doze anos em escalas dificilmente igualáveis vai sendo demolido, com cada pedaço do cimento sendo desnudada e retirada. O cavaleiro vermelho agoniza na batalha. Agoniza, entretanto, de pé, mesmo que o sangue escorra, porque ainda quer se fazer de vitorioso, ainda quer ostentar uma glória que não possui e jamais possuiu. Quando, enfim, lhe será aplicado o golpe de misericórdia? Qual será? Por qual das vias? Eis a resposta que aguardamos, em compasso de espera. Alguns manifestarão sua revolta seletiva, argumentando que isso é “discurso de ódio”, com a mesma canalhice com que assim quiseram entender as metafóricas palavras de Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre, quando disse que precisávamos “dar um tiro no PT”. Tiro ou punhal, o fato é que esse governo vergonhoso e esse partido corrupto e autoritário precisam mesmo ser derrubados. E como o nome diz, isso não é ódio; é até “misericórdia”. Embora sem qualquer movimento de sua parte, é até por empatia e humanidade que desejamos pôr fim ao vaguear confuso e patético da mulher que hoje figura na presidência; se ela não percebe a tristeza do caminho que vai trilhando, nós percebemos.




Sobre o autor

Lucas Berlanza
Acadêmico de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, na UFRJ, e colunista do Instituto Liberal. Estagiou por dois anos na assessoria de imprensa da AGETRANSP-RJ. Sambista, escreveu sobre o Carnaval carioca para uma revista de cultura e entretenimento. Participante convidado ocasional de programas na Rádio Rio de Janeiro.
Fonte: Instituto Liberal 

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