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sábado, 2 de maio de 2015

Impeachment é bala de prata

por DR.PAULO MOURA*
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Indignados com a bateção de cabeça entre as lideranças tucanas sobre a oportunidade de entrar com pedido de impeachment no Congresso, os brasileiros que não suportam mais continuar pagando a conta da incompetência e da roubalheira dos governos petistas, passaram a criticar o PSDB abertamente nas mídias sociais. Reagindo às pressões, deputados do partido na Câmara passaram a defender a pressa na apresentação do pedido de impeachment. Se fosse necessária prova maior, essa confusão que desgasta a imagem dos tucanos perante os eleitores de Aécio em 2014 demostra claramente que ainda não é chegada a hora de dar o tiro.
Em artigo publicado em 17/04 passado, defendemos a tese de que a decisão de cassar o mandato de um presidente precisa ser precedida de um consenso entre as elites políticas, econômicas e sociais do país sobre a impossibilidade de a nação continuar sendo governada por um partido que adota a corrupção como estratégia de perpetuação no poder e por uma presidente incompetente e sem apoio social; combinação perversa que ameaça nossa democracia.
Aliás, não é só dentro do PSDB que esse consenso ainda não se constituiu. Recentemente o cientista político tucano Eduardo Graeff, publicou no Facebook um “placar” da eventual votação do impeachment se o processo fosse levado à votação na semana em curso. Segundo Graeff:
“As provas e argumentos jurídicos são importantes, mas o que decide o impeachment, você sabe, são os votos dos deputados e senadores.
Para a Câmara abrir o processo, precisa de 2/3 ou 342 votos dos deputados.
Admitindo que PSDB, DEM, Solidariedade e PPS fechem a favor, seriam 102 votos. Faltam 240.
PT, PCdoB e PSOL devem fechar contra; são 82 votos.
Os demais partidos, nominalmente governistas, somam 329 votos. O maior deles, PMDB, tem 67 votos.
Na hora do vamos ver, é normal que os partidos rachem (exceto o PRTB e PSL, que têm só um deputado cada). Se for para valer, então, a contagem tem que ser voto a voto, deputado por deputado.
Fiz esse exercício sei lá quantas vezes, acompanhando a votação das propostas de emenda constitucional do governo FHC. Dá arrepio na nuca só de lembrar.
Se alguém mais jovem e disposto quiser tentar, pode partir desta planilha que eu montei só com os votos das bancadas:https://dl.dropboxusercontent.com/u/5311226/Placar.xls
Confirmando essa análise, o deputado Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara a quem cabe acatar ou não a abertura de um processo de impeachment, afirmou ao jornal Estadão hoje, que “o PSDB terá que construir maioria para levar adiante o processo de impeachment”. Há dezenas de processos de impeachment protocolados por advogados de todo o país dormindo nas gavetas de Cunha. Sua declaração ao Estadão sugere que ele não se opõe ao impeachment, mas não está disposto a errar o tiro, correndo o risco de fazer o processo ser votado para ser derrotado.
O desafio dos defensores do impeachment dentro do PSDB começa, portanto, pela construção do consenso dentro de casa. Tudo indica que por trás dessa divergência entre Aécio e os senadores paulistas está a disputa pela vaga de candidato a presidente da legenda em 2018. Aécio perdeu o governo de MG e só tem como patrimônio a garantir-lhe força, o resultado eleitoral de 2014. Se queimar o filme com esses eleitores, que votaram nele por antipetismo e não por tucanismo, Aécio perde força na disputa com os tucanos paulistas. Ou seja, os tucanos estão botando seus interesses pessoais acima dos interesses nacionais. O caso de FHC é diferente; parece de natureza psicopolítica, isto é, o tucano mor parece nutrir sentimentos de paternidade pelo PT tal como sugerem as facilidades que criou na transição do seu governo para o primeiro mandato de Lula.
Tucanos à parte, o site O Antagonista acaba de denunciar o uso de notas frias emitidas por uma gráfica inexistente e lançadas na prestação de contas da campanha de Dilma em 2014, cujo tesoureiro foi alçado ao cargo de ministro da SECOM, responsável pela gestão de um orçamento de mais de R$ 200 milhões em verbas publicitárias (incluindo-se as verbas das estatais).
O Antagonista anuncia para breve a denúncia de mais uma série de expedientes dessa natureza que, se comprovados, jogam a reeleição da chapa Dilma/Temer na ilegalidade e seu atual mandato na ilegitimidade. Ou seja, Dilma e Temer podem ter o mandato cassado pela Justiça Eleitoral, sem que seja necessária a abertura de um processo de impeachment. Se isso acontecer, teremos nova eleição.
Mas, nada impede que essas denúncias somem-se, também, e de forma mais consistente, eficiente e insuspeita do que a as pedaladas fiscais, aos argumentos já existentes para convencer os tucanos renitentes e para justificar a abertura do processo de impeachment de Dilma perante outros segmentos da sociedade.
Ao nomear Temer articulador político do governo e ceder espaços no ministério a Renan Calheiros e Eduardo Cunha, Dilma conseguiu botar a cabeça para fora d’água e puxar uma lufada de oxigênio antes de afundar novamente.
Os fatos evoluem rapidamente. As novidades que brotam da lava jato possuem alto poder corrosivo sobre o poder de inciativa do Planalto. José Dirceu deve ser preso novamente a qualquer momento. Denúncias em profusão emergem nas páginas dos jornalistas independentes na internet. A crise econômica se aprofunda. As projeções já apontam para inflação de 9%. O desemprego tende a crescer. Trabalhadores cujo seguro desemprego termina no meio do ano encontrarão as portas do emprego fechadas. Arma-se para a próxima primavera a chamada tempestade perfeita na qual se encontrarão conjugados os ingredientes de uma crise econômica, política e institucional.
O impeachment é como uma bala de prata. Para matar o lobisomem sem risco, só se deve atirar na hora certa e na certeza de não errar. O ápice da crise deve ser no segundo semestre. É preciso expor as fraquezas do lobisomem à luz minguante e, como um sniper (atirador de elite), é hora de os defensores do impeachment relaxarem, conterem a ansiedade, controlarem a respiração e observarem a velocidade e a direção do vento à espera do momento certo de puxar o gatilho.
*DR. PAULO MOURA é cientista político e consultor em Comunicação & Planejamento Estratégico.

Sobre o autor

Instituto Liberal
Instituição sem fins lucrativos
O Instituto Liberal é uma instituição sem fins lucrativos voltada para a pesquisa, produção e divulgação de idéias, teorias e conceitos que revelam as vantagens de uma sociedade organizada com base em uma ordem liberal.
Fonte: Instituto Liberal

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