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terça-feira, 26 de maio de 2015

Sociologia e Filosofia no Ensino Médio ou Manual do revolucionário e conversa de mesa de bar

lobotomiaTemos insistido, em alguns de nossos artigos, na abordagem de um problema grave do nosso país: a educação. A educação dos jovens de Ensino Médio é de má-qualidade. Se fosse apenas isso, seria menos grave. O problema é que, além de ruim, ela é perversa, ou seja, não se limita a deixar uma enorme lacuna intelectual e cultural nos adolescentes, mas tenta insistentemente preencher essa lacuna com doutrinação. A coisa funciona, grosso modo, assim: apresenta-se a visão de mundo marxista (nem sempre de forma explícita) na forma de uma leitura crítica da realidade. O adolescente, então, fica muito satisfeito ao sentir-se capaz de enxergar o mundo de uma maneira “não alienada”. Ele “percebe” o que está escondido por trás dos fatos históricos e, agora, ele já sabe, por exemplo, que a riqueza é gerada pelo acúmulo de mais valia  apropriado pelo patrão,  que o petróleo era o único interesse dos Estados Unidos em todas as guerras nas quais se envolveu, que aquilo em que acreditava no ano passado eram apenas ideias das classes dominantes, etc.

O fato é que, tendo trabalhado esse ano com material escolar de sociologia e filosofia para jovens estudantes, cheguei a uma triste conclusão: a lei que tornou obrigatório o ensino dessas duas disciplinas no Ensino Médio ofereceu uma ferramenta a mais para a estupidificação dos nossos filhos. A questão é gravíssima. Se, na filosofia, ficássemos apenas com o livro didático da Marilena Chauí, aquela que deu o seu “grito primal” contra a classe média e que afirma que o mundo se ilumina quando Lula fala, teríamos um problema de menor dimensão, já que o seu ranço ideológico se encontra dissolvido em meio à história da filosofia e não é muito fácil descobrir a “luta de classes”, por exemplo, no debate entre empiristas e racionalistas ou na querela medieval em torno dos “universais”.

Ocorre que atualmente há os chamados Sistemas Educacionais que funcionam como editora e fornecem material didático para diversas escolas credenciadas. O material tem a forma de apostila e tudo é exposto de modo muito sumário e resumido. Como não há, nas disciplinas citadas, um consenso acerca do conteúdo a ser abordado, fala-se de tudo um pouco: a sociologia torna-se um manual do revolucionário e a filosofia uma conversa de mesa de bar. Não raro as disciplinas confundem-se, bastando para isso que o ilustre que escreveu o material de filosofia tenha estudado mais Ética e Filosofia Política na universidade que os outros ramos mais abstratos da grade curricular.

Quando lembro que o Ministério da Educação passou das mãos de alguém totalmente alheio ao problema educacional para as mãos de alguém engajado em conquistar mentes e corações, tudo fica pior. A minha esperança, então, se deposita na ousadia intelectual de alguns indivíduos, no espírito insubmisso de alguns jovens que tentarão, a despeito de tudo, pensar por si mesmos. E, claro, no bom e velho capitalismo que, tendo tornado possível essa coisa verdadeiramente revolucionária que é a Internet, deixa a porta aberta para aquele estudante inquieto que certamente buscará de maneira exaustiva uma leitura mais lúcida da realidade. Mas se esse jovem é usuário das redes sociais, precisará vencer mais um obstáculo: não se deixar “humanizar”.


Sobre o autor

Catarina Rochamonte
Doutoranda em Filosofia pela UFSCar
Catarina Rochamonte é graduada em Filosofia pela UECE (Universidade Estadual do Ceará), mestre em Filosofia pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), doutoranda em Filosofia pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos); é escritora e jornalista independente.
Fonte: Instituto Liberal

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