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sábado, 20 de junho de 2015

Imperialismo capitalista: mito e realidade

leninÉ muito recorrente entre os teóricos socialistas a crença na ideia de que a riqueza dos países capitalistas desenvolvidos provém da exploração de nações pobres. Isso logicamente não é verdade. Mas pior que uma mentira é uma meia mentira. Portanto, convém entender o que é mito e o que é realidade nessa história toda.
O capitalismo, desde os seus primórdios, no século XVI, – período conhecido também como mercantilismo – sempre operou em escala global: conquista da América, entrada de metais preciosos na Europa etc. No final do século XVIII e início do século XIX, com a Revolução Industrial, esse ímpeto expansionista se abrandou. Porém, no final do século XIX, há um novo período de expansão colonial. O que explica essa mudança?
A Revolução Industrial proporcionou uma grande concentração de riqueza nas potências econômicas da época. Por vezes, as poucas alternativas de investimento dentro do próprio país levavam os capitalistas a buscarem investimento mais lucrativo em outras nações.
Aqui mesmo no Brasil, temos um caso que elucida bem essa questão. Nesse período, o Brasil sofria um dilema. O café era uma atividade econômica altamente rentável. Porém, apesar da grande disponibilidade de terras férteis para plantio, não havia como aumentar a produção devido à ausência de uma infra-estrutura de transportes. Solução: o Brasil fez acordos com capitalistas ingleses para a construção de ferrovias no estado de São Paulo. O transporte sobre trilhos deu grande impulso à economia cafeeira e, posteriormente, contribuiu para a industrialização do país.
Temos nesse exemplo uma situação clara de trocas voluntárias e ganhos mútuos. Mas nem sempre as coisas funcionavam assim. Por vezes, as potências econômicas subjugavam pela força diferentes partes do mundo em busca de lucro. Os teóricos do imperialismo, sobretudo o líder bolchevique Vladimir Ilitch Lenin (1870-1924), acreditavam que essa era uma característica inerente ao capitalismo que não tinha como ser sanada e que a única solução seria uma revolução comunista. Lenin estudou esse assunto profundamente, mas cometeu alguns erros toscos que os próprios marxistas posteriormente vieram a admitir. Num momento em que o capitalismo estava se fortalecendo, Lenin disse que o imperialismo representava o último estágio do capitalismo. Acreditava que o fim do capitalismo estava muito próximo. Chegou inclusive a usar a expressão “capitalismo moribundo”.
Como podemos ver, o capitalismo continua bem vivo até hoje. Essa tese de Lenin, portanto, estava errada. Mas o que dizer dessa ânsia capitalista de dominar as nações mais pobres? No meu entendimento, esse neocolonialismo foi um processo complexo que não tem como ser compreendido meramente pela ótica econômica. Ele tem a ver com a política, com o nacionalismo, com o fervor religioso (levar o cristianismo a “povos selvagens”), com uma percepção errada de como a economia funciona e até mesmo com a loucura cega de alguns indivíduos. É bastante possível que o imperialismo não tenha favorecido as potências econômicas da época, pois manter nações inteiras sob o jugo militar envolvia elevadíssimos custos financeiros. As nações colonizadas podem ter sido exploradas, mas também foram favorecidas em alguns aspectos. As potências imperialistas construíram hospitais, escolas, ferrovias entre outras coisas. Povos colonizados tiveram acesso a vacinas, antibióticos e outros tratamentos médicos.  E, definitivamente, o imperialismo não explica por que existem nações ricas e pobres. Muitos países desenvolvidos da atualidade nunca foram imperialistas. Alguns exemplos: Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Suécia, Suíça e Noruega. Outros países desenvolvidos são ex-colônias de países imperialistas, tais como: Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul e Cingapura.
Submeter coercivamente nações estrangeiras é algo moralmente errado. O imperialismo assemelha-se ao escravismo, é uma mancha no passado da humanidade, porém não é fruto do capitalismo, conforme argumentava Lenin. E, finalmente, o imperialismo não tem absolutamente nenhuma relação com os fundamentos da doutrina liberal.

Sobre o autor

Ivan Dauchas
Ivan Dauchas é economista formado pela Universidade de São Paulo e professor de Economia Política e História Econômica.
Fonte: Instituto Liberal

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