O preço das “bondades” de Lula e Dilma
por DR. PAULO MOURA*
O governo vem difundindo a ideia de que o ajuste fiscal em curso será rápido e que logo o Brasil voltará a crescer, recuperar os empregos em extinção e reverter a perda do poder de compra dos salários. Não é verdade! O que o governo chama de rápido ajuste é a passagem do ponteiro das contas públicas do vermelho para o azul, até atingir a meta de 1,2% do PIB traçada pelo ministro Joaquim Levy.
As dificuldades que o governo enfrenta para fazer passar no Congresso as medidas do ajuste que almeja da forma como concebidas e para vencer as resistências internas ao governo, especialmente do PT, indicam que dificilmente essa meta será atingida. Ao chegarem ao Congresso essas medidas são modificadas, perdendo parte do impacto necessário para produzir resultados na proporção necessária. Paralelamente, os parlamentares criam novos gastos, que comprometem as medidas aprovadas, como foi o caso da alteração recente no fator previdenciário.
Além disso, é falsa a ideia de que o ajuste da economia de que o Brasil necessita se resume a cortar gastos e aumentar impostos para recompor o equilíbrio fiscal. Basta ver o estrago que a presidente Dilma provocou com suas intervenções intempestivas na definição da taxa de juros e nas tarifas do setor elétrico e o custo que a correção desses erros está gerando para sociedade. Ninguém contraria as leis do mercado impunemente.
Outra área na qual os governos petistas provocaram distorções foi a dos salários. O salário é o preço que os contratantes pagam pelo trabalho dos contratados. Como tal, a definição desse preço deveria obedecer a lei da oferta e da procura. Em economias livres a definição desse preço é pactuada entre as partes. Mas, Lula e Dilma resolveram ser “bonzinhos” com os trabalhadores e determinaram políticas artificiais de aumento do salário mínimo acima da inflação. Essa suposta bondade produziu consequências negativas. E, os principais prejudicados são os trabalhadores.
Uma delas foi o aumento da inflação. Outra foi o impacto sobre as contas da Previdência Social, cujo rombo terá que ser coberto: a) com aumento das contribuições; ou, b) com aumento do tempo de contribuição; ou, c) com aumentos de impostos. Ou, com as três soluções.
A terceira consequência da elevação artificial dos salários foi a redução das margens de lucro das empresas e a consequente paralisia dos investimentos em tecnologia e aumento da produtividade. A maior parte (cerca de 90%) dos investimentos das empresas provém do lucro reinvestido e apenas cerca de 10% de financiamentos. Com isso, a indústria brasileira vem perdendo competitividade e mercados em todo o mundo. Para piorar, os governos petistas responderam a essa falta de competitividade com protecionismos e desonerações seletivas.
Com as margens de lucro comprimidas, em vez de gerarem mais empregos e investimentos, as empresas se acomodaram à recomposição parcial e insuficiente dos seus lucros, deixando de buscar competitividade. A competitividade deveria resultar dos investimentos em tecnologia e na educação do trabalhador, e não do protecionismo e da desvalorização cambial, essa última também induzida pela intervenção do governo na economia.
Some-se a isso a perda de receita tributária do governo e têm-se o quadro da dor sem moldura, que Lula e Dilma nos entregam após doze anos de governos petistas. O ópio do povo foi o consumo alavancado pelo crédito sem lastro, insustentável ad aeternum.
O preço mais visível dos consertos necessários à economia até o momento está sendo apresentado na forma de aumento de impostos (85% do ajuste fiscal) e corte de gastos e investimentos sociais (15% do ajuste fiscal). Mas, o preço mais doloroso para os trabalhadores, embora já esteja sendo cobrado, ainda não foi percebido em sua totalidade pelos brasileiros. Trata-se da correção da distorção patrocinada por Lula e Dilma nos salários elevados artificialmente.
Economistas sérios, ou seja, que não rezam pela cartilha na qual estudaram Guido Mantega, Aluizio Mercadante e Dilma Rousseff, avaliam que haverá uma perda da ordem de 30% na renda dos trabalhadores nos próximos anos, até que as empresas consigam recompor suas margens de lucro e possam voltar a investir. Esse processo tende a levar cerca de oito anos, pelo menos.
Se a correção de rumos geral da economia e das contas do governo acontecer dentro do previsto – e, há sobradas razões para acreditar que não está saindo como necessário – as empresas se recuperarão e retomaram os investimentos a partir desse prazo.
O crescimento da economia, se voltar nesse meio tempo, será lento e baixo, impedindo a recuperação dos níveis de emprego no curto prazo. Muita gente ficará desempregada por muito tempo. Muitos jovens em busca do primeiro emprego não encontrarão ocupação. E os trabalhadores que conseguirem voltar ao mercado de trabalho terão que aceitar remuneração mais baixa ou ficar sem emprego.
Não existe PT grátis. Ninguém atravessa doze anos de governo petista e reelege o PT para mais quatro anos sem pagar um preço alto por essa escolha. Valendo-se da retórica populista de quem se arvora defensor do social e dos trabalhadores, Lula e Dilma empurraram o povo brasileiro para o pior dos infernos.
A boa notícia é que os ex-presidentes que causaram perdas dessa magnitude aos trabalhadores (Sarney após o fracasso do Cruzado) e FHC (após a desvalorização do Real em 1999), caíram na impopularidade e na impossibilidade de vencer eleições presidenciais por longo prazo. Se o povo aprender a lição, esse poderá ser o destino do PT.
*Dr. Paulo Moura é cientista político e consultor em Comunicação & Planejamento Estratégico.
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